Integrantes da delegação enviada pelo governo federal ao Mato Grosso do Sul de Brasília a Mato Grosso do Sul para mediar conflitos fundiários visitaram dois locais onde, no último fim de semana, indígenas foram atacados por homens armados.
Segundo o secretário executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Eloy Terena, o objetivo é verificar a situação dos Guarani-Kaiowá, ouvir suas reivindicações e garantir a segurança dos envolvidos nos recentes confrontos.
Na terça-feira (16), equipes do governo federal, acompanhadas de representantes do governo de Mato Grosso do Sul, estiveram na Terra Indígena Amambaipegua I, que abrange parte dos territórios das cidades de Amambai, Caarapó e Laguna Carapã. A delegação visitou Tekoha Kunumi (território sagrado), cenário do ataque da última segunda-feira (15).
“Os indígenas relataram ter sido cercados por picapes e agredidos com armas de fogo”, relatou o secretário em postagem nas redes sociais. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante o ataque uma jovem foi atingida na perna.
“Além de ouvir as lideranças, as equipes implementaram uma estratégia para proteger os indígenas até a chegada da Força Nacional de Segurança Pública, e têm mediado a situação para que novos ataques não aconteçam”, acrescentou Eloy.
Força Nacional
A pedido do Ministério dos Povos Indígenas e da Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou, nesta quarta-feira (17), a utilização de agentes da Força Nacional em ações estatais de preservação da ordem e da segurança. integridade nas aldeias indígenas do Cone Sul de Mato Grosso do Sul e nas regiões fronteiriças do estado. A autorização consta da Portaria nº 726, assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Ontem, a delegação federal visitou os territórios Tekoha Panambi e Tekoha Yvyajere, na Terra Indígena (TI) Panambi – Lagoa Rica, em Douradina (MS), onde indígenas foram baleados após decidirem retomar parte do território que afirmam pertencer a seus ancestrais.
Segundo a assembleia Aty Guasu, principal organização política e social das etnias Guarani e Kaiowá, a decisão foi tomada “após longos anos de espera pela aprovação e regularização do nosso território ancestral, sobrevivendo em barracos de lona, sem o mínimo de subsistência condições, e sofrendo ameaças e perseguições dos grandes proprietários que nos cercam”.
No caso da Terra Indígena Panambi, o governo federal delimitou a área a ser destinada ao uso exclusivo indígena em 2011, após a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) concluir estudos antropológicos na região. Porém, três ações judiciais impedem a conclusão do processo de demarcação e a aprovação da reserva. A TI Amambaipegua I, em Caarapó, foi delimitada em 2016, mas o processo também é alvo de disputas.
“Os indígenas relataram intimidação por parte de um agricultor e ataques com armas de fogo e balas de borracha mesmo com a presença de mulheres e crianças na área”, disse Eloy. Ele disse que, em Panambi, um indígena foi baleado na perna e outros dois ficaram feridos durante os ataques. Segundo o secretário-executivo, os primeiros agentes da Força Nacional começaram a chegar à região na quarta-feira (18).
Criada em 2004 e coordenada pelo ministério, a Força Nacional é composta por policiais militares e civis, além de bombeiros e profissionais forenses cedidos temporariamente pelos governos estadual e do Distrito Federal. Conforme informa o Ministério da Justiça e Segurança Pública em seu site, não se trata de uma tropa federal, pois sua atuação nos estados é dirigida por gestores públicos locais.
Em publicações sobre a missão, Eloy Terena reforçou a posição do Ministério dos Povos Indígenas contrária à chamada Lei de Marco Temporal – Lei nº 14.701/23 e à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 48.
“O MPI ressalta que a instabilidade gerada pela Lei do Marco Temporal, além de outras tentativas de avanço da agenda [anti-indígena]como a PEC nº 48, não só resulta em insegurança jurídica sobre as definições territoriais que afetam os povos indígenas, mas também abre oportunidade para atos de violência que têm os indígenas como principais vítimas”, escreveu Eloy.
Consultada pela Agência Brasil, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) também mencionou “insegurança jurídica”, atribuindo-a à inação do Poder Público. Segundo a entidade que reúne 69 sindicatos rurais de Mato Grosso do Sul, existem atualmente 146 áreas “invadidas” em todo o estado.
“São ocorrências que evidenciam a insegurança jurídica vivida há décadas em nosso estado, decorrente da falta de uma resposta definitiva por parte do Poder Público, que garanta a pacificação no campo.” A entidade também manifestou preocupação com a escalada da violência e com a segurança de “um número significativo de produtores rurais que, apesar de terem adquirido suas propriedades de forma legítima e com posse pacífica exercida há mais de meio século, têm seus títulos questionados e suas áreas invadidas”. .
Além de representantes dos ministérios dos Povos Indígenas (MPI) e dos Direitos Humanos e Cidadania, a delegação federal inclui funcionários de diversos órgãos: Funai, Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Rodoviária Federal (PRF). ), Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Centro Institucional de Promoção e Defesa dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial e Étnica da Defensoria Pública, Secretaria de Cidadania do governo do estado de Mato Grosso do Sul e Conselho Nacional de Política Indigenista e comunicadores e ambientalistas.
Paraná
A expectativa é que os integrantes da delegação federal também visitem o Paraná, onde, nas últimas semanas, foram registrados incidentes semelhantes aos de Mato Grosso do Sul. Segundo o MPI, no início do mês, 22 famílias Avá Guarani que ocupam parte do território já delimitado para dar lugar à futura Terra Indígena Guasu Guavirá, nas cidades de Guaíra, Altônia e Terra Roxa, próximas ao fronteira com o Paraguai, eles se espalharam, ampliando a ocupação. Segundo o ministério, isto aconteceu “porque a comunidade onde vivem já não acolhe nenhum habitante”.
As famílias foram então alvo de ataques de ruralistas”, relatou o MPI, destacando que a presença de agentes da Força Nacional de Segurança Pública na região não intimidou os agressores. “Entre os feridos, um indígena foi baleado. Além da violência física sofrida pelos Avá Guarani, doações e entregas de alimentos foram impedidas de serem realizadas no local pelos ruralistas”.
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