Conversas entre Valter Martins e Mario Distefano indicam ordenação da morte do Líder Ramón Ruiz Díaz Recalde, em 2022
A investigação da Polícia Federal identificou que os irmãos Marcel Martins Silva e Valter Ulisses Martins, líderes de uma quadrilha de tráfico de drogas, também foram os responsáveis pelo assassinato do líder Ramón Ruiz Díaz Recalde, de 29 anos, executado em agosto de 2022, na cidade de Arroyito, localizado no departamento de Concepción, próximo a Pedro Juan Caballero, na divisa com MS.
Segundo dados obtidos através da quebra do sigilo telemático dos irmãos Martins, durante a Operação Prime, lançada em maio deste ano, numa conversa com Mario David Distefano Freitas, Valter Martins teria-lhe pedido para “liquidar” o descontentamento.
“Mais explicitamente, o serviço de nuvem do Mario contém a seguinte captura de tela de uma troca de mensagens com o contato Valter Ulisses, que determina que seja realizada a liquidação de Ramon”, diz trecho da investigação da PF.
O funcionário, dito braço direito dos irmãos, respondeu: “OK”. Ao que Valter seguiu: “O mais rápido possível, ok! Faça o acordo, mas nem conte ao Marcel.”
Na investigação, a Polícia Federal não detalhou o motivo da morte, mas segundo informações obtidas pelos agentes, Líder era ex-funcionário dos irmãos Martins.
“O líder Ramón aparece como contato e aparece como motorista em relação às cargas de soja entregues pela empresa Agro Canaã no Paraguai, no primeiro semestre de 2022”.
O líder Ramón foi morto em 24 de agosto de 2022, com três tiros (um na cabeça, um no braço e um na mão), segundo sites paraguaios. O corpo estava em uma região desabitada de Arroyito e, segundo a perícia, ele não foi morto lá, mas sim levado para lá após sua morte.
Segundo a PF, além da conversa entre Valter e Mário, há outros indícios que nos levam a crer que os irmãos Martins foram os contratantes dos pistoleiros que mataram Líder, incluindo conversas entre os irmãos e outros dois homens, os paraguaios Walter Ramón Duarte Espínola e Carlos Enrique Centurión Sosa, também apontados como autores do crime.
“Também foram encontrados contatos com os supostos autores do crime e diálogos via aplicativo Threema em que falam sobre o custo de um advogado para eles. Esse é mais um elemento que dá certeza de que os irmãos Valter e Marcel estão diretamente ligados a assassinatos no contexto mais amplo da atividade do tráfico de drogas”, afirmou a PF em trecho da investigação.
Um dia depois do crime, Mario, Walter e Carlos Enrique foram presos pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, ainda em Arroyito. Com eles foram encontrados quatro caminhonetes, dois fuzis calibre 38, duas espingardas calibre 12, dois revólveres calibre 38 e 44 e duas pistolas calibre 9mm, além de pentes e munições de diversos calibres.
TRÁFEGO
Os irmãos Martins foram alvos da Operação Prime, da PF, que mirou, além deles, outros dois grupos que traficavam cocaína e que utilizavam doleiros na fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para lavagem de dinheiro decorrentes de atividades criminosas.
Segundo a investigação, os dois tinham como fornecedor o traficante Antônio Joaquim Mota, conhecido como “Motinha” ou “Dom”, e pretendiam expandir o negócio, enviando a droga para a Europa.
Segundo a PF, o grupo exportava cocaína da fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai para Curitiba (PR), cidades de Santa Catarina, Rio de Janeiro (RJ) e municípios do Rio Grande do Sul, porém, o objetivo já era para expandir esses mercados.
“Espanha é considerada como possível destino do embarque. Acontece que ‘Gamer’ [um dos intermediários que cuidava da logística da quadrilha] mencionou que estaria em Campo Grande prestes a encontrar o ‘mano’ do interlocutor. Gamer afirmou que tinha contatos nos portos de Roterdã, bem como nos portos de Barcelona, Valência e Málaga, deixando claro que ‘na Espanha dominamos’”, diz trecho da investigação da PF, conclusão extraído de conversas entre os irmãos e este interlocutor.
Segundo a Polícia Federal, a investigação descobriu que a ideia dos irmãos era utilizar o porto de Porto Alegre e o porto de Paranaguá, por meio de navio transportador de grãos, para levar a cocaína até a Espanha. A ideia, porém, era consumir medicamentos em quantidades que não ultrapassassem 100 quilos.
A expansão dos negócios, porém, teria sido interrompida pela PF, que prendeu Marcel, em Dourados, durante a operação. Valter Ulisses Martins, porém, estava na fronteira e conseguiu fugir para o Paraguai.
Descobrir
Ó Correio Estadual mostrou que a quadrilha liderada pelos irmãos possuía um sofisticado sistema de monitoramento de drogas traficadas para cidades das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Picapes e caminhões que traficavam cocaína de um armazém logístico na Capital e também da fronteira, em Dourados e Ponta Porã, foram rastreados via satélite.
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