Executivos municipais e estaduais terão até 180 dias para atingir as metas apresentadas no plano de ação de cada poder
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) deu ultimato à prefeitura de Campo Grande e ao governo do Estado para reduzir a fila de espera para cirurgias eletivas e consultas médicas em ortopedia, nas especialidades de pediatria, adultos e joelhos. Os poderes terão até 180 dias para atingir as metas apresentadas no plano de ação, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia.
A iniciativa se deu por meio de ação civil pública com pedido de tutela provisória de urgência antecipada em detrimento do Estado e da prefeitura, devido à demora no agendamento da primeira consulta em especialidades médicas na Capital.
“Após inúmeras investigações, ficou claro que existiam listas de espera longas e despropositadas para a primeira consulta e, para algumas especialidades, o atraso na realização da primeira consulta chegava a oito anos (neurologia) e noutras especialidades os pacientes esperam meses e até anos para a primeira consulta, como angiologia, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia geral, endocrinologia adulto, oftalmologia, ortopedia, proctologia, psiquiatria, reumatologia, urologia pediátrica, entre outros”, cita o documento do MPMS.
Em 2019, o Ministério Público abriu Inquérito Civil para investigar a demanda reprimida por consultas ortopédicas, especialmente consultas pediátricas, de joelho e de adultos em Campo Grande. No entanto, passados cinco anos, ainda não houve redução das listas de espera.
“Diante da continuada grave e notória deficiência na prestação do serviço essencial de saúde pública resultante da inércia e/ou excessiva lentidão do Poder Público em superar as falhas estruturais que inviabilizam o acesso rápido, em tempo hábil, para milhares de pessoas dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) deste Estado, às consultas e cirurgias de que necessitam para garantir o direito fundamental à saúde e à vida”, disse o MPMS na justificativa para abertura da investigação.
O Ministério Público informa ainda que a saúde pública enfrenta uma demanda reprimida de 1.735 pacientes para ortopedia pediátrica, 3.424 pacientes para ortopedia de adulto e 3.654 pacientes para ortopedia de joelho, totalizando 8.813 pessoas aguardando procedimentos.
No requerimento assinado em abril deste ano, o MPMS determinou que o município e o Estado apresentem um plano de ação concreto, com metas e cronogramas definidos para redução das filas de espera. Em junho, tanto o governo quanto a prefeitura apresentaram seus planos.
A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) informou em documento que o governo implementou em maio de 2023 o Plano Estadual de Redução de Filas para Cirurgias Eletivas e ampliou o acesso a procedimentos e exames cirúrgicos eletivos. E este ano autorizou novos associados a aderirem ao Projeto MS Saúde – Mais Saúde, Menos Filas.
A Procuradoria-Geral do Município apresentou um plano de ação baseado em três eixos, com iniciativas de curto, médio e longo prazo, e afirmou que encaminhará ofícios às instituições contratadas pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesa), habilitadas em ortopedia. , solicitando agendamento anual de consultas e procedimentos cirúrgicos ortopédicos, bem como possibilidade de ampliação do leque de serviços oferecidos.
CASOS
A espera por uma cirurgia eletiva pode durar anos, como foi o caso de Onofre da Silva, de 79 anos, que esperou 18 anos para fazer uma cirurgia no joelho. O idoso conta que só conseguiu realizar o procedimento após ingressar com uma ação na Defensoria Pública.
“Esperei 18 anos por uma cirurgia no joelho, uma prótese. Ultimamente ele não andava mais, estava muito debilitado, e aí a gente conseguiu na Defensoria Pública. Ele ficou quase um ano na Defensoria Pública, mas resolveu e, hoje, está sem dores, consegue fazer seus afazeres e dormir”, disse a esposa de Onofre, Maria Aparecida Murakami Silva, 75 anos.
No entanto, Adelina Vera, de 54 anos, é uma das centenas de pessoas que ainda estão na lista de espera. Os serviços gerais informaram ao Correio do Estado que ela trata a coluna há cerca de cinco anos e aguarda cirurgia. Além da coluna, Adelina também faz tratamento para problemas que tem nos dois braços.
“A vaga (para consulta) demora muito. Às vezes leva anos, oito meses, seis meses para conseguir isso. A gente espera em casa, quando dói muito a gente vai na UPA, toma remédio, até esperar vaga”, relata aos serviços gerais.
Adelina informa ainda que tem outras comorbidades como diabetes, e que quando tem crises nas costas acaba tendo que ser internada por conta das dores. Outra paciente que aguarda consultas e cirurgia é Francilda Franceline da Silva, 52 anos.
Há três meses, a atendente do balcão sofreu um acidente de moto, que lhe causou um ferimento, que ela só descobriu porque fez um ultrassom em particular, pois fez um raio-x no posto de saúde que não apresentou problema.
“Eu queria essa consulta o mais rápido possível. Vou ver se consigo ir na Defensoria Pública para ver se consigo agilizar essa cirurgia no braço. Estou com um hematoma no braço e o tendão está rompido, parece mais de 1,25. O tendão saiu do lugar e terá que passar por uma cirurgia para recolocá-lo no lugar. É muita dor, estou tomando tramol para dor”, comenta o atendente.
Franceline conta ainda que está parada devido ao acidente, e foi ao Centro de Especialidades Médicas (CEM) para remarcar uma consulta que foi cancelada sem aviso prévio. O paciente deverá passar por cirurgia e 30 dias de fisioterapia após o procedimento.
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