Tanto nas investigações de Dracco quanto da Polícia Federal, servidores foram corrompidos por despachantes para inserir dados falsos no sistema
Investigações recentes realizadas pela Polícia Federal e também pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) da Polícia Civil indicam relações promíscuas entre funcionários comissionados do Departamento de Trânsito do Estado de Mato Grosso do Sul (Detran-MS) e despachantes.
As relações consistem na utilização do acesso ao sistema informatizado do Detran-MS e também do Departamento Nacional de Trânsito para inserir dados falsos e liberar veículos em situação irregular ou ilegal.
Essas fraudes foram alvo de uma operação recente conduzida pela Dracco e também de um inquérito iniciado pela Polícia Federal e transferido para a Justiça Comum após decisão da Justiça Federal.
A operação deflagrada por Dracco resultou na ordem de prisão do despachante David Cloky Hoffmam Chita e em mandados de busca e apreensão contra os despachantes Hudson Romero Sanches e Edilson Cunha Nogueira.
A servidora comissionada Yasmim Osório Cabral também foi alvo de mandado de busca e apreensão e posteriormente foi afastada do cargo.
Nesse caso, ocorreram pelo menos 27 liberações irregulares de documentação no sistema, com 13 tentativas de obtenção de documentos para veículos restritos.
A investigação de Dracco identificou que David e Yasmim mantinham um relacionamento íntimo, o que contribuiu para que ela utilizasse, além de seu terminal, outros terminais do Detran para baixar carros ilegalmente do sistema.
Policia Federal
No outro esquema, identificado em inquérito aberto pela Polícia Federal em 2022, e agora repassado pela Justiça Federal à Justiça Comum, há suspeita de adulteração de pelo menos 75 veículos por funcionários do órgão.
Neste caso, revelado nesta segunda-feira (8) com exclusividade pelo Correio do Estado, há indícios da participação de despachantes no esquema, exigindo ainda a continuidade das investigações.
O inquérito da Polícia Federal foi aberto a partir de denúncia anônima, encaminhada pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) à Polícia Federal.
Na época, foram denunciadas supostas irregularidades na emissão do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) de um caminhão com 4º eixo instalado.
Na época, uma portaria proibia esse tipo de liberação de veículos, o que foi feito mesmo assim pelo funcionário do posto do Detran-MS do Shopping Bosque dos Ipês, Leandro dos Santos Fachin, que acabou sendo demitido do cargo.
Leandro Fachin acabou denunciado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul pelo crime de inserção de dados falsos no sistema público, uma espécie de fraude. A denúncia do MPMS, porém, baseou-se apenas na investigação da Polícia Civil.
O material de acusação não levou em conta as investigações da Polícia Federal, cuja Justiça Federal só declinou de competência no final de junho.
Nesta investigação é citado o servidor Ricardo Vinícius Nascimento Valente, que afirmou que outros servidores usaram sua senha para inserir dados falsos no sistema, no caso, de Leandro Fachin, que já havia sido exonerado.
Com base na declaração do servidor de que seu cadastro havia sido utilizado por outros funcionários, foi identificado que o Detran já havia recebido informações de que haviam sido cometidas irregularidades nas transações realizadas, e os nomes de dois servidores, Talita Madelina Barbosa e Éder Ferreira Xavier, foram declararam ser participantes do esquema.
Talita e Éder não foram alvo de denúncia do MPMS, pelo menos até agora. No documento que a Polícia Federal repassou à Justiça Estadual, porém, foi destacado que Talita utilizou o sistema de informações do Detran para alterar indevidamente as características de diversos veículos, causando prejuízos financeiros à instituição e foi demitida do cargo.
Éder disse em seu depoimento que atua no setor de fiscalização e substitui funcionários em férias e faltas, e cancelou restrições em veículos de 4º e 3º eixo e trocas de motor em carros que estavam sujeitos a restrições, segundo seu “ver” ser regular .
O despachante Fabrício Gomes dos Santos também foi investigado por participação no esquema, mas em seu depoimento afirmou não conhecer Leandro.
Descobrir
Ó Correio Estadual Ele contatou o Detran e o governo do Estado, mas não obteve resposta. Dracco informou que aguarda a definição do destino da investigação iniciada pela Polícia Federal.
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