Mesmo com mais de 500 pessoas, entre militares e brigadistas, e aeronaves combatendo o incêndio, a mudança no clima foi o que zerou os incêndios no bioma.
O maior esforço com intervenção humana e equipamentos de combate aos incêndios florestais no Pantanal, no Mato Grosso do Sul, completou 10 dias de uso, mas o controle total das chamas, de fato, não pôde ser alcançado pela ação humana. São mais de 500 pessoas diretamente envolvidas, além de mais de 20 aeronaves, embarcações e veículos.
A redução drástica do fogo foi registrada ontem depois que as condições climáticas se tornaram favoráveis – redução da temperatura mínima na região de Corumbá para 14°C e máxima para cerca de 20°C, umidade do ar permanecendo entre 90% e 40% e velocidade do vento para cerca de 10 km/h.
Dados do programa BD Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicaram que não houve registros de surtos ontem, quando o frio chegou com força na região de Corumbá. Até sábado (6), quando as baixas temperaturas ainda não foram corrigidas, o Inpe indicava 21 focos para o território.
A maior estrutura para lidar com a situação começou no dia 28 de junho, quando as ministras Marina Silva (Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) visitaram, além do governador Eduardo Riedel (PSDB), a Corumbá, município que o percentual O número de focos de calor em todo o Brasil disparou desde o início de junho (37%), segundo o programa BD Queimadas do Inpe.
O segundo município deste ranking é Porto Murtinho, também no MS, que registrou 6% dos surtos no país.
A chegada de toda essa estrutura a Corumbá ocorreu mais de 20 dias depois de os incêndios no Pantanal já estarem instalados. Entre os dias 1º e 6 de junho, o município já registrou a maior concentração de surtos do Brasil, com 12% das identificações em mais de 4 mil cidades, observando dados do BD Queimadas.
Somente nas aeronaves de operação direta, são 9 do governo federal, além de outras 5 das Forças Armadas utilizadas para transporte de pessoas e equipamentos. Também estão em operação 8 embarcações que pertencem à Marinha, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Sem falar na estrutura do governo do Estado, com Bombeiros e Polícia Militar Ambiental.
Em termos de estrutura de recursos humanos, desde o dia 28 de junho chegou a Corumbá o maior número de efetivos para atuar em incêndios florestais no Pantanal.
Tanto para operações de campo quanto para agentes mobilizados, contam com profissionais e brigadistas do Ibama, técnicos do ICBMBio, militares do 6º Comando do Distrito Naval (Marinha), bombeiros do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, além de integrantes do a Força Nacional.
Nessa estrutura, estão 501 pessoas diretamente engajadas pelo governo federal.
Com todos esses equipamentos, o fogo no bioma acabou consumindo pouco mais de 5% da área total do Pantanal até este 7 de julho, o que equivale a 763,7 mil hectares, ou 30 vezes o tamanho de Campo Grande.
MONITORAMENTO
O monitoramento da área queimada foi atualizado pelo Laboratório de Aplicações Ambientais por Satélites (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na verdade, os dados históricos medidos desde 2012 mostram que o mês de junho de 2024 foi o mais devastador em termos de área queimada pelos incêndios, com 406.750 hectares afetados.
E mesmo com todo esse cenário de danos por conta do fogo e o empenho no combate aos incêndios, não havia indícios de que as chamas fossem controladas no Pantanal utilizando apenas equipamentos humanos.
O coordenador do Prevfogo/Ibama no Mato Grosso do Sul, Márcio Yule, reconhece que a complexidade do combate torna a “guerra” contra as queimadas um desafio.
“A grande dificuldade do Pantanal é a logística para o combate. Chegar na linha de fogo, ficar na linha de fogo, ter um lugar para os combatentes comerem, passarem a noite, pelo menos descansarem. O cenário de alta temperatura, baixa umidade do ar e difícil acesso dificulta todo o trabalho. E cada incêndio é um cenário diferente. Tudo isso exige que os recursos estejam muito bem organizados para que possamos ser eficazes no combate ao incêndio”, afirmou Yule.
O presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Angelo Rabelo, acrescenta que as condições climáticas, de fato, tornam-se uma complicação ou um importante “reforço” para combater o fogo depois que ele fica fora de controle no Pantanal.
O Instituto mantém uma brigada permanente para trabalhar na prevenção em uma região que forma um corredor de biodiversidade de quase 300 mil hectares e que compreende parte da Serra do Amolar, ao norte de Corumbá.
“O fator climático pode ser um complicador, com ventos de norte (norte-sul) que ajudaram a espalhar o fogo. O vento sul (sul-norte) faz com que as temperaturas caiam. Além disso, toda a estrutura que chegou (no dia 28/6) permite o controle (dos incêndios). Mas temos que estar preparados, pois historicamente temos meses mais críticos a partir de agosto. O que está sendo mostrado é que o município de Corumbá precisa ter uma estrutura, com sala de situação, aeronave para enfrentamento”, ponderou.
PANTANAL – Estrutura de combate a incêndio (a partir de 28/06/24)
- 193 profissionais do Ibama e ICBMBio para a área
- 92 militares da Marinha (6º Comando do Distrito Naval)
- 80 bombeiros do MS com diárias pagas pelo Ministério da Justiça
- 134 brigadas do Ibama
- 82 membros da Força Nacional
- 4 aviões lançadores de água do Ibama e ICMBio
- 3 helicópteros do Ibama e ICBMBio
- 1 avião da FAB lançando 12 mil litros de água (KC-390)
- 2 helicópteros do exército
- 1 helicóptero da Marinha
- 1 helicóptero FAB
- 1 aeronave FAB transportando brigadistas (Caravana C-98)
- 8 embarcações da Marinha, Ibama e ICMBio
- 466 bombeiros de Mato Grosso do Sul
- 39 veículos estaduais (picapes, caminhões, barcos); apoio diferente dos agricultores afetados
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