Com número recorde de população ocupada, a taxa de desemprego do Brasil caiu para 7,1% no trimestre encerrado em maio, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ao atingir a marca, o indicador voltou ao menor nível da série histórica para aquele período. No trimestre até maio, a taxa de 7,1% só havia sido registrada em 2014. Os dados fazem parte da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), cuja série começou em 2012.
O desemprego ficou em 7,8% nos três meses encerrados em fevereiro deste ano, que servem de base de comparação. A taxa de 7,1% ficou abaixo da mediana esperada pelo mercado financeiro até maio, que era de 7,3%, segundo a agência Bloomberg.
O número de desempregados caiu para 7,8 milhões. É o mais baixo para o trimestre encerrado em maio desde 2014 (7 milhões).
O contingente caiu 8,8% em relação ao período encerrado em fevereiro deste ano, quando era de 8,5 milhões. O IBGE disse que o número não fica abaixo de 8 milhões desde fevereiro de 2015.
A população desempregada é composta por pessoas com 14 anos ou mais que estão desempregadas e continuam em busca de oportunidades. Quem não procura emprego, mesmo sem ter emprego, não faz parte deste grupo nas estatísticas oficiais.
POPULAÇÃO TRABALHISTA BATE RECORDE
O IBGE associou a queda do desemprego ao aumento da população ocupada com algum tipo de trabalho. Considerando os diferentes trimestres da série histórica, esse contingente de trabalhadores atingiu o recorde de 101,3 milhões.
O aumento da população ocupada foi de 1,1% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro. Houve um aumento de 1,1 milhão de profissionais.
“Nossa visão imediata é uma maior demanda por trabalhadores para as atividades econômicas. A atividade econômica é impulsionada pelo aumento da demanda, pelo aumento da renda dos trabalhadores. Isso gera o que chamamos de círculo virtuoso”, disse Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa de domicílios do IBGE.
A técnica também indicou que fatores sazonais estimularam o crescimento do emprego no conjunto de atividades que envolvem o ensino público nesse período. Segundo Beringuy, há um processo de recontratação de professores após o término dos contratos temporários.
O economista Bruno Imaizumi, da consultoria LCA, afirma que o mercado de trabalho ainda é “resiliente”. Além do desempenho positivo da economia, questões como o retorno das atividades presenciais após a pandemia também ajudam a explicar o aumento da ocupação, afirma Imaizumi.
Esse movimento levou recentemente à contratação de prestadores de serviços que atuam, por exemplo, em portarias e empresas de segurança, segundo o economista, que cita dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou nesta quinta-feira (27) o resultado do Caged de maio, que apontou uma geração de empregos com carteira assinada abaixo do esperado pelos analistas. O resultado teria sido prejudicado pela tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, algo que ainda não foi mensurado pela Pnad.
Mesmo assim, Imaizumi avalia que os números, tanto do IBGE quanto do Caged, ainda são consistentes.
“Estou a falar do facto de as pessoas estarem a regressar a modalidades presenciais ou híbridas. Isto contribuiu para um emprego mais forte”, afirma.
Na Pnad, o número de trabalhadores com carteira assinada (38,3 milhões) e o grupo sem carteira assinada (13,7 milhões) bateram recordes no trimestre encerrado em maio.
Em relação ao período até fevereiro, houve aumento de 0,9% (mais 330 mil) nas vagas com inscrição formal. O aumento foi de 2,9% (mais 383 mil) nos cargos sem carteira assinada.
Numa análise mais ampla, que considera também as vagas com ou sem CNPJ, o IBGE diz que o aumento do emprego foi impulsionado pela formalidade. Do contingente adicional de 1,1 milhão de ocupados em relação a fevereiro, a menor parcela, cerca de 30%, trabalhava sem licença ou CNPJ.
“A população ocupada como um todo teve participação do setor informal, mas foi fundamentalmente impulsionada pelo contingente formal”, afirmou Beringuy.
O chamado nível de ocupação ainda não renovou o recorde da Pnad. O indicador mede o percentual de pessoas que estavam ocupadas em relação ao total de 14 anos ou mais.
No trimestre até maio, a proporção foi de 57,6%. Considerando apenas esse período da série histórica, o patamar já atingiu 58% em 2012 e 2014 e 57,9% em 2013.
RENDA ATINGE MÁXIMO PARA O TRIMESTRE ATÉ MAIO
Segundo Beringuy, um dos reflexos da formalização da força de trabalho está no rendimento médio do trabalho. No trimestre até maio, o rendimento foi estimado em R$ 3.181 mensais.
É o maior patamar para esse período na série histórica iniciada em 2012. Os dados são divulgados em termos reais — ou seja, levam em conta a inflação.
Na comparação com o trimestre encerrado em fevereiro (R$ 3.150), o rendimento médio variou 1%, o que o IBGE considera dentro da margem de estabilidade.
Na comparação com o período do ano anterior, encerrado em maio de 2023 (R$ 3.013), o indicador cresceu 5,6%. Os empregos formais tendem a pagar mais do que os empregos secundários populares.
Com a entrada de mais gente no mercado, a massa de rendimento real habitual, que é a soma dos salários, atingiu novo recorde: R$ 317,9 bilhões. O montante cresceu 2,2% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro e 9% em um ano.
Para a gestora de recursos Kínitro Capital, os dados da Pnad continuam mostrando um mercado de trabalho “muito robusto”.
“Olhando para os dados com ajuste sazonal, observamos nova redução da taxa de desemprego e aumento da renda, com maior número de empregos formais. O mercado de trabalho continua corroborando o cenário de crescimento do PIB acima do consenso em 2024”, diz o relatório da casa.
Segundo Kínitro, a ocupação e a renda nos níveis atuais sustentam o consumo das famílias, apesar da política monetária ainda restritiva do país.
O efeito colateral do aumento da renda é a preocupação do BC (Banco Central) com possíveis efeitos sobre a inflação, especialmente nos serviços. Em teoria, o aumento do consumo poderia pressionar os preços.
Em meio a revisões para cima nas expectativas de inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, interrompeu o ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, na semana passada.
A taxa foi mantida em 10,5% ao ano. Quando a Selic está em patamar mais elevado, tenta esfriar a demanda por bens e serviços e, assim, conter a inflação.
“A recuperação dos salários tem dois efeitos na economia. Por um lado, estimula a atividade. Por outro, acaba pressionando a inflação”, afirma a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.
“Os dados divulgados hoje [sexta] reforçamos nossa visão de que o mercado de trabalho aquecido dificulta a convergência do índice geral [de preços] em direção ao objetivo”, acrescenta.
C6 espera que a taxa de desemprego se mantenha estável, terminando o ano perto dos 7%.
*Informações da Agência Brasil
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