Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – Depois de atingir na véspera o maior valor em dois anos e meio, o preço à vista fechou nesta quinta-feira um pouco mais baixo em relação ao real, mas acima de 5,50 reais, com os preços ainda refletindo o aumento da percepção do risco fiscal, num dia em que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou que a instituição não intervirá no câmbio dependendo do nível das cotações.
O dólar à vista fechou o dia a 5,5083 reais na venda, queda de 0,20%, após atingir na quarta-feira seu maior valor de fechamento desde janeiro de 2022. No mês, a moeda acumula alta de 4,90%.
Às 17h05, na B3 (BVMF:) o contrato de primeiro vencimento caía 0,44%, a 5,5045 reais na venda.
No início do dia, o BC divulgou seu Relatório de Inflação, que atualizou algumas projeções econômicas e abordou assuntos específicos ligados à política monetária. Entre os destaques, o BC elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 de 1,9% para 2,3% – ainda abaixo dos 2,5% estimados pelo Ministério da Fazenda.
Além disso, o défice da conta corrente estimado para 2024 foi alterado de 48 mil milhões para 53 mil milhões de dólares e reduziu a projecção de Investimentos Directos no País (PDI) de 70 mil milhões para 65 mil milhões de dólares.
No final da manhã, Campos Neto e o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, deram entrevista coletiva em São Paulo. Nele, Campos Neto destacou que a alta da Selic, hoje em 10,50% ao ano, não está no cenário base do BC.
Campos Neto afirmou ainda que a recente desvalorização do real está em linha com os prêmios de risco do Brasil. Ele também descartou a possibilidade de o BC atuar no mercado dependendo do nível do dólar.
“Como tratamos o câmbio como flutuante, entendemos que a ação tem que ser causada por alguma disfunção específica, não intervimos visando qualquer tipo de patamar”, disse. “Acreditamos no princípio da separação entre política monetária e taxa de câmbio”, acrescentou Campos Neto.
O viés negativo do dólar no exterior também favoreceu algum ajuste descendente no Brasil, embora a moeda norte-americana tenha oscilado em território positivo durante grande parte da sessão, em meio à percepção de aumento do risco fiscal.
“Há um claro movimento defensivo dos investidores estrangeiros preocupados com o destino das contas públicas. Mesmo com movimentos pontuais de realização, o preço não cede”, comentou o diretor da consultoria cambial FB Capital, Fernando Bergallo.
Após registrar cotação mínima de 5,4862 reais (-0,60%) às 9h42, o dólar atingiu máxima de 5,5401 reais (+0,38%) às 12h32.
A alta do dólar ocorreu enquanto Campos Neto ainda dava entrevista coletiva em São Paulo e pouco antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciar um discurso em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o “Conselhão”, em Brasília
Em seu discurso, Lula negou que sua entrevista de quarta-feira ao portal UOL tenha enfatizado ativos, principalmente o dólar.
“Quem apostar no fortalecimento do dólar frente ao real vai perder a cara”, disse o presidente. “Quem apostar em derivativos vai perder dinheiro neste país”.
Na reta final, o dólar voltou ao terreno negativo, favorecido no exterior e com investidores se preparando para a disputa em torno do Ptax de final de mês, na sexta-feira.
Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado spot, a Ptax serve de referência para liquidação de contratos futuros. Ao final de cada mês, os agentes financeiros costumam tentar direcioná-lo para níveis mais convenientes para suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta dos preços) ou vendidas em dólar (no sentido de queda).
Às 17h06, o índice – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis moedas – caía 0,12%, para 105,920.
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