![O presidente boliviano, Luis Arce, fala enquanto a Bolívia enfrenta uma tentativa de golpe, em La Paz, Bolívia, 26 de junho de 2024, nesta captura de tela tirada de um <a href='https://www.wingchun.org.br/video-aulas-de-kung-fu' target='_blank' rel='follow'>vídeo</a> de mídia social. LUCHO ARCE VIA FACEBOOK/via REUTERS ESTA IMAGEM FOI FORNECIDA POR TERCEIROS. CRÉDITO OBRIGATÓRIO. NÃO REVENDA. NOS ARQUIVOS. A VERSÃO NÃO PROCESSADA FOI FORNECIDA SEPARADAMENTE.” title=”Reuters/LUCHO ARCE VIA FACEBOOK/Reprodução Proibida” class=”flex-fill img-cover”/>
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O presidente Luis Arce (centro), juntamente com sua equipe de governo, denuncia uma tentativa de golpe no país. Fotografia:
Reuters/LUCHO ARCE VIA FACEBOOK/Reprodução Proibida
“Evo Morales já convocou uma greve geral e tem os movimentos sindicais muito alinhados com ele. O próprio presidente Luis Arce também veio a público pedir à sociedade boliviana que se unisse contra este golpe. E setores da oposição foram contra o golpe. A própria Jeanine Añez, que já foi presidente e opositora de Evo, disse que não aceita o ocorrido. Luís Camacho, importante dirigente contra Evo Morales em 2019, disse que também não aceita. Portanto, este movimento golpista parece isolado. Muito mais uma tentativa do Exército e do próprio Zúñiga de demonstrar poder, do que de fato querer impor um novo governo”, afirma Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
O General Zúñiga foi preso após liderar a tentativa de golpe.
Crise econômica e disputas políticas
Em segundo lugar, o acto do general pode ser entendido com base em problemas mais estruturais que o país enfrenta, como a dimensão económica.
“A Bolívia vive uma situação económica muito difícil. O principal setor é o do gás natural, que enfrenta uma série de problemas. Isto levou a uma queda nas exportações e as reservas internacionais da Bolívia são muito pequenas, cerca de 3 mil milhões de dólares. O que não é nada para as necessidades de um país. Para efeito de comparação, o Brasil, que tem uma situação muito confortável em termos de reservas, conta atualmente com mais de US$ 350 bilhões. Isso significa que a Bolívia tem muita dificuldade em importar até mesmo produtos básicos de uso diário: alimentos, remédios, combustíveis”, afirma Maurício Santoro.
“Os países andinos baseiam-se no extrativismo pesado e os preços são altíssimos. O Estado quer apropriar-se de parte deste excedente económico. E os grupos nacionais e multinacionais querem levar absolutamente tudo. Mas não é como Salvador Allende. na década de 70, que mantinha sob controle a empresa de cobre ou nacionalizava empresas. Agora é o contrário, é uma administração que quer se apropriar de parte desses excedentes para implementar políticas públicas. A classe dominante e as multinacionais nem sequer concordam com isso. Então estamos sempre numa situação limite entre o Estado e essas forças sociais”, explica Nildo Ouriques, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Do ponto de vista das disputas políticas, as tensões entre os diferentes líderes e partidos do país contribuem para aumentar os riscos para a democracia.
“O componente político desta crise é o fato de que no próximo ano a Bolívia terá eleições presidenciais e o general que tentou o golpe hoje disse ontem que se Evo Morales se apresentasse como candidato a presidente, as Forças Armadas interviriam e prenderiam o Evo. Há alguns anos, ocorreu uma crise política semelhante na Bolívia, em 2019, que culminou com a deposição de Evo e a intervenção dos militares. Então, é uma ferida que ainda está aberta”, afirma Maurício Santoro.
“Se voltarmos ainda mais, a década de 1990 é relativamente estável na Bolívia. As tensões começaram com a chegada ao poder de Evo Morales em 2006, o que causou rupturas de poder. Ele começa a implementar políticas de redistribuição de renda, nacionalizar hidrocarbonetos, entre outras questões, que geram insatisfação na elite. A Bolívia entra num cenário de agravamento da estabilidade democrática, porque Evo desestabiliza um sistema de poder anterior, no qual a população indígena pobre estava sub-representada. Isso fez crescer o movimento reacionário, que continua até hoje”, afirma Arthur Murta.
Contexto regional
Para os pesquisadores, é preciso considerar também um contexto mais amplo da América do Sul, com o avanço de grupos e lideranças de extrema direita, que representam o crescimento de movimentos autoritários e antidemocráticos. Em alguns casos recentes, houve tentativas de golpe igualmente fracassadas.
“Esta tentativa de golpe insere-se num contexto mais amplo de crise da democracia na América Latina. Este ano, na Guatemala, tentamos impedir a posse de um presidente eleito. Manifestantes invadiram o Congresso no Brasil no ano passado em uma tentativa de golpe. É bom que a democracia resista e mostre que tem anticorpos e é mais resiliente. Mas é preocupante que todas essas crises tenham ocorrido na região nos últimos anos”, afirma Maurício Santoro.
“O que foi positivo hoje é que a resposta internacional foi muito forte na defesa da democracia boliviana. Todos os países sul-americanos manifestaram-se em maior ou menor grau em defesa da democracia. Isso foi uma coisa importante. A Organização dos Estados Americanos também respondeu com muita rapidez e força”, acrescentou.