Diante de uma “transformação sem precedentes”, o indústria bancária é preciso garantir que inteligência artificial ser usado de forma ética, disse o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidneyna abertura do Febraban Tech 2024, evento de tecnologia e inovação no setor financeiro, que começou nesta terça-feira, em São Paulo.
Segundo Isaac, a IA “não é apenas uma ferramenta tecnológica”, mas “uma força capaz de redefinir e mudar os negócios, os empregos e a própria forma como interagimos com o mundo”. Por isso, acrescentou, “é imperativo” que o setor o utilize de forma ética.
— É evidente que a implementação da IA traz muitos desafios complexos que teremos de enfrentar. Portanto, a responsabilidade recai sobre nossos ombros. Sobre quem dirige o nosso setor bancário, para que possamos garantir que a IA seja desenvolvida e aplicada com rigor científico e ético — afirmou o presidente da Febraban.
Isaac também destacou que o setor bancário precisa garantir a responsabilização e a transparência na aplicação da IA.
A confiança do cliente e a integridade dos processos dependem deste desenvolvimento ético, destacou.
O presidente da Febraban destacou ainda que o setor vive uma “transformação sem precedentes”, que inclui inovações que estão “redefinindo o tempo todo o setor bancário”.
Ele citou, entre eles, o Open Finance, para troca de informações entre instituições financeiras e o Drex, moeda digital que está sendo desenvolvida pelo banco central.
Este ano, o principal evento de tecnologia do setor tem como tema “Jornada Responsável na Nova Economia da Inteligência Artificial”.
O programa, que vai até quinta-feira, tem como um dos principais nomes a futurista americana Amy Webb, conhecida por seus relatórios anuais que apontam tendências para o futuro da tecnologia.
Nesta quarta-feira, a economista ganhadora do Prêmio Nobel Esther Duflo também participará do evento.
Depois de Isaac, subiram ao palco os principais banqueiros do país: Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, Mario Leão, CEO do Santander Brasil, e Carlos Vieira, presidente da Caixa.
A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, confirmada para o evento, teve que cancelar sua participação devido ao lançamento do novo Plano Safra, segundo os organizadores da Febraban Tech.
Todos os banqueiros destacaram que as instituições que presidem têm projetos com IA generativa em desenvolvimento ou já em aplicação, principalmente para uso interno. Uma das ferramentas mais citadas foi o Copilot, assistente de IA desenvolvido pela Microsoft.
Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, afirmou que a instituição tem cinquenta iniciativas para desenvolver aplicações generativas de IA e que o banco está testando uma versão da Bia, assistente virtual do Bradesco, que conta com essa tecnologia, com 1.600 funcionários.
A previsão é que 60 mil funcionários passem a utilizar essa versão do robô até o final do ano, segundo ele.
— Estamos promovendo cada vez mais essa cultura de pessoas que usam GenAI. Vejo o seguinte: que daqui a um ano o salto que daremos nisso será impressionante. Daqui a dois anos, será ainda mais impressionante.
Noronha destacou, porém, que o banco monitora os desafios no processo de governança de IA, que inclui preocupações com “reputação e ética” na adoção de tecnologia para clientes, com risco, por exemplo, de alucinações tecnológicas.
Ele destacou que a instituição utiliza IA tradicional desde 2017 e que primeiro realiza testes controlados antes de expandir projetos na área.
O presidente da Caixa, Carlos Vieira, destacou que o uso da IA tem ajudado o banco a reconhecer os clientes afetados pela tragédia climática no Rio Grande do Sul, por meio do cruzamento de informações sobre os atingidos. Modelos de inteligência artificial também têm sido utilizados para agilizar processos de crédito imobiliário:
— Demoramos três dias para montar um dossiê de crédito imobiliário na Caixa. Usando IA, estamos fazendo esse processo acontecer em três horas. […] Realizamos três mil operações de crédito imobiliário por dia na Caixa. Só mudando essa matriz de solução no processo já temos uma economia diária de R$ 1 milhão — afirmou.
Vieira destacou que, num processo de transformação “ágil e rápido”, existe uma equação necessária que exige um regulador para “controlar e dominar” este processo.
No Itaú, o presidente do banco, Milton Maluhy Filho, destacou que existem 250 projetos de IA que abrangem diferentes áreas do negócio.
Na sua avaliação, a IA é uma “próxima revolução tecnológica”, comparável ao processo do início da internet nos anos 90.
Ele destacou que os processos de implantação de novas ferramentas no banco, porém, começam “pequenos”, em testes de grupo de controle, antes de chegar a milhões de clientes:
— Não se pode errar — destacou o banqueiro. —É muito importante termos em mente o aspecto ético, a regulação e o cuidado (com IA). As modelos ainda têm alucinações e nós sabemos disso.
Mario Leão, CEO do Santander Brasil, disse que o banco tem utilizado IA generativa para toda a equipe de desenvolvedores, com o Copilot e que um dos focos da instituição é utilizar o assistente virtual para auxiliar no atendimento ao cliente.
Ele também citou a possibilidade de aplicação de IA na assessoria e comunicação de investimentos e destacou que a tecnologia pode ajudar a conquistar clientes:
— Obviamente o cliente precisa sentir o benefício em termos de preço, agilidade e competitividade. Portanto, é uma agenda competitiva, no bom sentido. Cada um tem de elevar a sua própria fasquia e fazer melhor utilizando a tecnologia que ainda está a ser desenvolvida.
Leão foi o único, no final da tabela, a mencionar o cenário macroeconômico.
No final do painel, destacou que estes são “tempos mais desafiantes” do que “seis ou 12 meses atrás”, citando mercados mais voláteis.
Acrescentou que o banco tem procurado um “papel proactivo e próximo do governo, em todas as esferas”.
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