A forte seca que atinge parte do Brasil, ligada às mudanças climáticas, bem como a expansão das culturas agrícolas, são os principais motivos do número recorde de incêndios no Pantanal, afirma o físico Paulo Artaxo.
Maior planície tropical inundada do mundo e lar de milhares de espécies de plantas e animais, o Pantanal registrou, entre 1º e 20 de junho, 1.729 incêndios, o maior número para este mês desde que os dados começaram a ser compilados, em 1998.
Além disso, desde janeiro, foram detectados mais de 2,6 mil incêndios nesta região ao sul da Amazônia, superando os dados do primeiro semestre de 2020, que acabou sendo o pior ano para o bioma, com um quarto da superfície do Pantanal carbonizada. .
Especialista em física aplicada a problemas ambientais e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Artaxo considera fundamental que o governo utilize todos os métodos de fiscalização possíveis para prevenir incêndios provocados pelo homem, especialmente para recuperar terras para o agronegócio.
PERGUNTA: O que explica tantos incêndios no Pantanal este ano?
RESPOSTA: “O Pantanal, assim como toda a região do Brasil Central, está sofrendo, em 2024, uma das maiores secas de sua história causada pelas mudanças climáticas.
Estamos a assistir a uma redução muito forte da precipitação, o que certamente está na origem destes incêndios. Agora, é importante ressaltar que a maioria desses incêndios são criminosos. Esses incêndios trazem enormes danos ao ecossistema”.
P: A maioria desses incêndios é causada pelo agronegócio?
R: “Sim, basicamente todos esses incêndios estão focados na expansão agrícola”.
P: Em maio, as enchentes históricas no Rio Grande do Sul, ligadas pelos especialistas às mudanças climáticas e ao fenômeno El Niño, têm alguma relação com esses incêndios?
R: “Não há dúvida de que existe uma ligação importante com as mudanças climáticas e sua ciência é muito, muito clara (…) Com as enchentes no Rio Grande do Sul, o que acontece é que um centro de alta pressão estacionou na região do estado de São Paulo e do estado de Mato Grosso, o que agravou a situação de precipitação no Rio Grande do Sul.
Isso fez com que a região de São Paulo e Mato Grosso, onde está localizado o Pantanal, tivesse uma redução significativa na precipitação com secas e temperaturas extremas que aceleraram a evapotranspiração. Como resultado, a região tornou-se mais seca e mais propensa a incêndios, como estamos vendo atualmente”.
P: O que pode ser feito para evitar que 2024 seja o pior ano de incêndios na história do Brasil?
R: “Basicamente mobilizar a Polícia Federal, o Exército, os meios legais que o Brasil tem para coibir incêndios criminosos, já que a grande maioria dos incêndios que ocorrem na Amazônia não são legalmente autorizados e constituem crimes ambientais”.
P: É possível inspecionar áreas tão extensas como a Amazônia?
R: “Sim, é possível monitorar, isso é feito definindo áreas prioritárias, definindo áreas onde a probabilidade de incidência desses incêndios criminosos é maior”.
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