Um misto de radicalismo e coragem elevou o jovem nascido em família humilde de Cruzinha, pequena cidade próxima à cidade gaúcha de Passo Fundo, Leonel de Moura Brizola à posição de uma das figuras mais importantes da política brasileira no o século 20. Prefeito de Porto Alegre, deputado estadual, deputado federal, governador de dois estados, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, e candidato duas vezes à Presidência da República.
Com extenso currículo e influência na construção da identidade de parte da esquerda brasileira, Brizola desafiou os militares e liderou um movimento conhecido como “Campanha da Legalidade” que garantiu a ascensão de João Goulart à Presidência em 1961.
Herdeiro político de Getúlio Vargas, Brizola trabalhou como engraxate e ascensorista, antes de ingressar exclusivamente na política, para financiar seu curso de engenharia em 1949. “Ele era um universitário atípico”, diria dele mais tarde o antropólogo e amigo Darcy Ribeiro, “por que não aderiu aos ideais das elites e até se orgulhou de suas origens populares”.
Crítico, combativo, radical, como foi considerado por seus apoiadores em 1945 – tinha 23 anos na época –, quando ingressou no recém-fundado Partido Trabalhista Brasileiro e mergulhou de cabeça na causa do trabalhismo pregada por Vargas.
Impulsionado pelas campanhas do PTB gaúcho, foi deputado federal em 1954. No ano seguinte, prefeito de Porto Alegre – e em 1958, aos 36 anos, foi eleito governador do Rio Grande do Sul. Do Palácio Piratini entrou na política nacional.
Deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul, Brizola foi um dos defensores das reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, que assumiria a Presidência em 1961. Brizola havia sido eleito governador do Rio Grande do Sul dois anos antes, em 1959. Sua atuação como governador ajudou a garantir a posse de Jango durante a crise que envolveu a renúncia de Jânio Quadros.
O país vivia um debate entre o nacionalismo, mais à esquerda, e um modelo económico liberal e pró-americano, à direita. A renúncia de Jânio Quadros em 1961 o levou a criar e comandar uma “cadeia de legalidade” para garantir a posse de Jango, o que os militares da época não aprovavam.
Brizola não se intimidou com os militares. De microfone na mão, desafiou as Forças Armadas em comícios e auditórios em defesa das chamadas reformas de base.
O movimento, liderado por Brizola, passou a utilizar a rede de rádios do estado em busca de apoio à sua causa. Brizola, em boletins diários, convocou a população a sair às ruas para apoiar o retorno seguro e a posse de Goulart. E pediu à população que se manifestasse contra o golpe da junta militar, afirmando que este era o plano das Forças Armadas.
Em 1962, foi o deputado mais votado do país, pelo Rio de Janeiro. Brizola, do PTB, de um lado, e Carlos Lacerda, do outro, da UDN, lutaram pela hegemonia de um país modelo. Lacerda e os militares venceram, em 1964, e Brizola sofreu impeachment. Exilado no Uruguai, foi expulso de lá em 1977, indo depois morar nos Estados Unidos e depois em Portugal.
Retornou ao país com as anistias de 1979. Como a sigla PTB lhe foi “tirada”, Brizola fundou um novo partido, o Partido Democrático Trabalhista, o PDT. Governou o Rio duas vezes pelo PDT, em 1982 e 1990. Tentou duas vezes a Presidência, perdendo para Fernando Collor em 1989 e para Fernando Henrique Cardoso em 1994. Sofreu a terceira derrota em 1998, como vice de Luiz Inácio Lula. da Silva.
Nos últimos dez anos de vida, o PDT perdeu espaço na esquerda nacional e Brizola passou a criticar Lula e o PT. “Penso que o actual governo é incapaz de governar. O trabalho é o caminho para a salvação do nosso país. Estes neoliberais já falharam.”
“Estou escrevendo horas antes da votação, pela Câmara dos Deputados, do vergonhoso salário mínimo de R$ 260 (…) Essa decisão sobre o salário mínimo é uma espécie de epitáfio das esperanças que nosso povo trabalhador depositou em Lula. ” A crítica foi escrita em maio de 2004 por Brizola quando a Câmara começava a debater o salário mínimo de R$ 260.
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