O Instituto de Consultoria Multidisciplinar (Imdico) oferece assessoria técnica especializada no segmento administrativo
O ex-servidor municipal de Sidrolândia, Tiago Basso da Silva, citou, em sua delação premiada, os procuradores do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) sobre a suposta estrutura criminosa que seria comandado pelo vereador licenciado Claudinho Serra (PSDB) na prefeitura, o envolvimento do Instituto de Consultoria Multidisciplinar (Imdico) no esquema fraudulento.
Fundada por ex-funcionários da CN&A Consultoria, onde assessoraram diversas prefeituras e vereadores de Mato Grosso do Sul, a Imdico oferece assistência técnica especializada na área administrativa para prefeituras e órgãos governamentais.
No site da empresa há informações de que são atendidos mais de 25 municípios, incluindo cidades importantes como Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Ponta Porã. Além disso, a Imdico reforça em seu portal na internet que sua equipe é multidisciplinar, formada por profissionais de diversas áreas, como Administração, Contabilidade, Economia e Direito.
Segundo a empresa, esta abordagem integrada permite oferecer soluções personalizadas que vão ao encontro das necessidades específicas de cada município, apostando sempre na qualidade da gestão, na otimização dos recursos e no bom desempenho do setor público, permitindo aos gestores fazer solicitações e acesse relatórios atualizados a qualquer momento, proporcionando maior transparência e agilidade à gestão governamental.
Contudo, num dos depoimentos prestados aos procuradores Adriano Lobo Viana de Resende e Bianka Machado Arruda Mendes, Tiago Basso questionou a idoneidade da Imdico, sugerindo que a empresa de consultoria técnica especializada na área administrativa estava envolvida no esquema de classificação de férias que seria coordenado pelo vereador licenciado Claudinho Serra, que na época era titular da Secretaria Municipal de Finanças, Tributação e Gestão Estratégica de Sidrolândia (Sefate).
A empresa aparece na delação quando o promotor Adriano Lobo Viana de Resende pergunta a Tiago Basso quem seria a pessoa chamada simplesmente de “Rafael” – não confundir com Rafael Soares Rodrigues, que estava à frente da Secretaria Municipal de Educação de Sidrolândia e foi demitido após ser preso por envolvimento no esquema – e que foi citado em alguns momentos do depoimento.
“Esse Rafael é sobrinho da prefeita Vanda Camilo, do PP. Ele estava sempre lá, junto com a gente (sic), lá na Secretaria da Sefate, estava sempre no meu escritório. Até o pessoal brincava que meu quarto já era muito pequeno e que não cabia ninguém ali, mas o Carlos, o ex-secretário municipal de Saúde, o Luiz Carlos Alves da Silva, o Pitó e o Rafael entravam lá e ficavam sentados lá o dia todo”, explicou Tiago Basso ao promotor, no entanto, o Correio Estadual descobriu que Vanda Camilo não tem nenhum sobrinho com o nome Rafael.
Continuando o depoimento, o denunciante disse que estranhou Rafael porque, na primeira vez que se encontraram em seu escritório na Sefate, ele já trazia uma fatura da Imdico.
“Na primeira vez ele me trouxe um bilhete da empresa chamada Imdico, Imdico com ‘M’, né? Imdico com ‘M’. E ele deixou lá comigo”, revelou.
Neste momento, o procurador interrompe Tiago Basso dizendo que, em relação a este caso, o assunto seria tratado em outro anexo, pois não faria parte da investigação principal.
“Vamos tratar isso como um anexo, se for diferente de outra situação, vamos nos limitar aqui. Esse Rafael não teve nada a ver com o que está descrito na denúncia?”, questionou Adriano Lobo Viana de Resende.
Em resposta, o denunciante diz que não.
“Não, o Rafael não tem nada a ver com essa parte da denúncia. Ele é sobrinho do prefeito que morava lá”, lembrou ela, reforçando novamente que o menino seria sobrinho do prefeito, sem saber que não tem nenhum sobrinho com esse nome.
Mais uma vez o procurador explica que esta questão será tratada num outro anexo, que o Correio Estadual não teve acesso.
“Há outro anexo que será específico sobre outros assuntos. Da reclamação que você lembra, há mais alguma coisa? ele perguntou novamente, recebendo uma resposta negativa do denunciante. “Não, o que me lembro é isto”, concluiu Tiago Basso.
A EMPRESA
Ó Correio Estadual fez uma rápida consulta sobre a Imdico e constatou que a empresa possui CNPJ número 13.814.929/0001-04, sendo fundada em 26 de maio de 2011 e com capital inicial de R$ 400 mil.
A empresária Ana Lucia Piroli aparece como sócia-diretora e o endereço comercial fica no Edifício Evolution Center, localizado na Avenida Afonso Pena, 5.723, sala 1.002, Bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande (MS).
De acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), a Imdico tem como atividade principal atividades de consultoria em gestão empresarial, exceto consultoria técnica específica, enquanto as atividades secundárias são representantes e agentes comerciais no comércio de mercadorias em geral, não especializado e consultoria em tecnologia da informação. ,
A Imdico também atua com processamento de dados, prestadores de serviços de aplicação e serviços de hospedagem na Internet, atividades de contabilidade, consultoria e auditoria contábil e fiscal, aluguel de máquinas e equipamentos de escritório, treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial e, por fim, outras atividades de ensino não especificadas anteriormente.
PCC
Também em seu depoimento ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), Tiago Basso apontou o envolvimento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) com o esquema.
Ele disse que, ao ser preso junto com Ueverton da Silva Macedo, o “Frescura”, e Roberto Valenzuela na Penitenciária de Trânsito de Campo Grande, em julho de 2023, percebeu que o PCC estaria envolvido na estrutura criminosa.
“Nós três ficamos na gíria do local onde são colocados os presos recém-chegados, na sexta, no sábado, no domingo e, na segunda, já fomos transferidos para a mesma cela, a cela 8 do presídio. . Então, estávamos juntos na mesma cela e todo mundo na hora ficou surpreso lá, porque geralmente as pessoas não saem do corro por menos de 10 dias”, disse ele, citando que tinham presos no corro há mais de 14 dias e eles ficaram apenas três dias.
Na cela 8, o ex-servidor disse que falou muito sobre a “Operação Trumper” e “Frescura” disse para ele ficar calmo, que partiriam em no máximo 15 dias.
“Mas, quando vi que não era isso mesmo, que a coisa era muito mais grave do que me contaram, perguntei a Frescura sobre a possibilidade de eu fazer, de nós fazermos, um acordo de delação premiada. Ele ficou chateado e naquele dia não quis mais falar comigo”, revelou.
Tiago Basso explicou que “Frescura” só falou com ele dois dias depois.
“No domingo, ele me ligou para conversar. Aí andamos pelo tribunal, só nós dois conversando, ele disse: ei, vou ser muito sincero com você, se você tomar a decisão de fazer um acordo judicial, pode ter certeza que antes que minha mãe chore , a mãe que vai ser o seu choro”, relembrou a ameaça feita.
O ex-funcionário pediu para falar com seu advogado e este o aconselhou a tentar ficar longe de “Frescura”, conversando o mínimo possível até sair da prisão.
“Porque dava para ver a ligação que ele tinha com os presos de lá, o contato que ele tinha com os presos, todo mundo o conhecia lá. Todos tinham um vínculo de amizade ou favor que lhe deviam para ir para lá. E o presídio onde ficamos era uma unidade faccional do PCC, o PCC comanda essa unidade lá. Então dava para perceber que ele tinha muito contato com aquelas pessoas de lá e isso me deixou atônito na hora e eu falei para o meu advogado que não queria mais conversar, não queria mais nada, que só queria ficar no meu canto”, afirmou.
Tiago Basso revelou ainda que, ao descobrirem que ele pensava em fazer um acordo de delação premiada, o seu advogado foi abordado por um advogado chamado Douglas Matos.
“Ele foi para a prisão e me disseram para falar com ele, e Frescura foi comigo. Ele não apenas me ligou para conversar, ele chamou Frescura junto, então nós dois entramos na sala juntos para conversar”, lembrou.
Segundo o denunciante, Frescura teria sido muito direto com o advogado.
“Ele falou diretamente com o advogado: só quero saber se você veio conversar sobre delação premiada. O advogado disse que não, nem pense em negociação de pena. Frescura disse que eu deveria ficar tranquilo, pois meu pagamento seria deles. Falei até que a minha família lá fora, enquanto eu estivesse preso, eles iriam cuidar”, destacou.
Ó Correio Estadual ligou para o telefone comercial da empresa, mas, até o fechamento desta matéria, não teve sucesso. O espaço permanece aberto para Imdico se manifestar, caso queira comentar a acusação.
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