O ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura Neri Geller afirmou que a decisão do governo federal de importar até 1 milhão de toneladas de arroz beneficiado por meio de leilões de compra pública foi tomada pela Casa Civil. “As decisões do arroz foram tomadas no âmbito técnico da Casa Civil porque foram decisões tomadas com base nas enchentes do Rio Grande do Sul. Teve colegiado com a Secretaria de Assuntos Jurídicos, com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Ministério da Agricultura”, disse Geller, nesta terça-feira, 18, durante audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. “Nunca disse que a decisão de importar arroz foi do ministro (Fávaro)”, acrescentou.
O leilão é contestado pelo setor produtivo e por parlamentares contrários ao governo federal.
Geller foi destituído do cargo na semana passada após denúncias de irregularidades no leilão de compra pública de arroz importado pelo governo federal e suspeitas de tráfico de influência e conflito de interesses.
A demissão ocorreu após se tornar pública a ligação de Geller com um dos principais intermediários do evento público, Robson Luiz de Almeida França, presidente da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e coproprietário da Foco Corretora. Além de ex-assessor de Geller na Câmara dos Deputados, França é sócio de outra empresa do filho de Geller, Marcello Geller. O ex-secretário e ex-deputado federal nega qualquer favoritismo em relação à França ou ao envolvimento do filho no evento público.
Geller informou que, como secretário de Política Agrícola, orientou o governo a não realizar a compra pública do cereal, mas foi “votado” nas discussões técnicas.
“O governo levantou preocupação conosco sobre o preço do arroz porque gerava sinais de inflação alta. Sinalizamos ao governo que, em relação à oferta, era preciso ter cautela e sugerimos zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) de 12%, uma taxa imposto de importação de produtos de países fora do Mercosul até que o Brasil recupere o escoamento de arroz do Rio Grande do Sul”, disse o ex-secretário. “Os dados da Conab mostraram a oferta de arroz no país. Era preciso que o governo se posicionasse para garantir o abastecimento mesmo com 83% da safra colhida porque não sabíamos quanto dos 17% de arroz colhido estava estragado em armazéns”, destacou. “Houve um ataque especulativo de preços”, reconheceu Geller.
Para o ex-secretário, houve um “erro político” do governo na decisão de importar arroz por preocupação com a escalada da inflação alimentar e com a oferta nacional do produto. “No nosso entendimento não houve má-fé. A intenção do governo era cuidar da inflação e do preço do arroz, o que é legítimo. Reconheço isso”, afirmou. “Houve um erro político porque mesmo importar 1 milhão de toneladas não teria impacto na redução dos preços do arroz, porque são globalizados”, acrescentou Geller.
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