O Senado Federal não deve pular etapas da tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia, que perdoa multas aplicadas a partidos que cometeram infrações eleitorais, como o descumprimento de cotas para mulheres e negros. A medida, considerada impopular, teve sua tramitação interrompida no ano passado por pressão de movimentos sociais, e senadores ouvidos pelo Estadão avaliam que não há clima político para priorizar o texto.
Nesta terça-feira, 18, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), discutiu a proposta no plenário da Casa, após reunião com líderes partidários pela manhã. Lira, porém, disse a aliados que o projeto só seria votado se houvesse acordo para acelerar o andamento da PEC no Senado. O presidente da outra Câmara, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), porém, não deve avançar em nenhuma das etapas da tramitação regular dos projetos, que inclui debate em comissões e propostas de emendas.
Pacheco disse a interlocutores que a medida não é prioridade da Câmara e que não há perspectiva de acordo com a Câmara sobre ela. Ainda assim, os líderes do Senado acreditam que há força entre os congressistas para aprovar a medida, mesmo que reconheçam a impossibilidade de tramitação acelerada.
Um senador próximo de Pacheco afirmou que “não há contexto nem clima político” para aprovar um projeto impopular como este e muito menos a sua urgência.
A iniciativa é alvo de protestos de movimentos anticorrupção e organizações que trabalham com transparência eleitoral, que estimam que o valor possa chegar ao valor de R$ 23 bilhões.
A PEC conta com o apoio de 17 dos 20 partidos presentes na Câmara: do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva, ao PL, de Jair Bolsonaro. Além de isentar os partidos de dívidas, o texto enfraquece candidaturas de mulheres e pessoas de cor. A inclusão da proposta é mais uma tentativa de aprovação do texto.
Na noite da última terça-feira, o Estadão revelou que os deputados têm trabalhado para substituir a anistia completa das dívidas partidárias por um “refis” – expressão usada para se referir aos programas de renegociação de dívidas – que determinaria o pagamento de multas pelos partidos com correção monetária, mas sem juros e com opção de parcelamento . Na proposta anterior, as associações teriam todas as dívidas canceladas.
A proposta foi aprovada no ano passado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas ficou parada em comissão especial, após a repercussão negativa da anistia completa aos partidos. Como já passaram os prazos para análise neste painel, o texto poderá ser analisado diretamente no plenário.
A renegociação de dívidas seria possível para punições relacionadas ao descumprimento de cotas de gênero nas eleições de 2022, além de outras irregularidades. No caso das cotas raciais, porém, as dívidas serão canceladas.
Os partidos argumentam que houve uma decisão recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre cotas raciais para as quais não estavam preparados e que isso justificaria o perdão da dívida neste caso.
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