O abriu a semana em alta firme e fechou novamente acima de R$ 5,40. Apesar do ambiente externo desfavorável para as moedas emergentes, em meio à nova rodada de avanços no retorno dos Treasuries, analistas afirmam que o real sofre com o aumento da percepção de risco doméstico. É crescente o desconforto com o quadro fiscal e a deterioração das expectativas de inflação na semana da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
Nesta segunda-feira, o real apresentou o pior desempenho entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities relevantes. O país teve perdas da ordem de 0,50% frente ao dólar, pressionado também por questões internas, como a proposta de reforma judicial da presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum, que tem ampla maioria no Congresso mexicano.
O desfecho da reunião dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe alívio específico ao dólar no início da tarde, mas foi rapidamente revertido. Ao sair da reunião do Conselho de Execução Orçamentária (JEO), Haddad relatou que Lula está aberto ao debate sobre redução de gastos, mas os sinais são de que o governo não mexerá no ninho de vespas da indexação no Orçamento, optando por atacar as renúncias fiscais.
Tebet disse que Lula ficou “muito impressionado” com “o aumento dos subsídios”, que chegam a “quase 6% do PIB”, incluindo não só renúncias fiscais, mas também “benefícios financeiros e creditícios”. Haddad falou em “saneamento cadastral”, inspirado na experiência recente do Rio Grande do Sul, que pode liberar “espaço orçamentário” para garantir que “as despesas discricionárias permaneçam em patamar adequado”.
Além de uma queda pontual e limitada na abertura dos negócios, o dólar à vista operou em alta durante todo o restante da sessão e ainda superou pontualmente a linha de R$ 5,43, registrando máxima de R$ 5,4305 no meio da tarde. Ao final do dia, a moeda avançou 0,74%, cotada a R$ 5,4219 – ainda no maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023. No mês, o dólar já avançou 3,26%, o que leva os ganhos do ano a 11,71%.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o governo precisa ir “além das boas intenções” e realmente mostrar “algo concreto” no campo fiscal para que os ativos domésticos tenham uma recuperação.
“Apesar da conversa de Haddad com Lula, os sinais hoje não foram exatamente construtivos. A notícia de que a estratégia do governo é fazer cortes ‘no varejo’ este ano e no ‘atacado’ nos próximos anos não inspira confiança”, diz Borsoi, acrescentando que o ambiente externo, com subida dos títulos do Tesouro e sinais de fraqueza da economia chinesa, também contribuiu para a subida do dólar por aqui.
Na noite de domingo (horário de Brasília), foram divulgados dados mostrando crescimento abaixo do esperado na produção industrial e nas vendas no varejo chinesas. O Banco Popular da China (PBoC) manteve a taxa da linha de empréstimo de médio prazo em 2,5% ao ano. Nos EUA, a actividade industrial medida pelo índice Empire State foi mais forte do que o esperado em Junho. As taxas longas e curtas do Tesouro subiram mais de 1%, punindo as moedas emergentes.
A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, afirma que, além do quadro fiscal local e de fatores externos, o mercado cambial já reflete certa cautela na expectativa da decisão do Copom de quarta-feira, 19. “Ainda há dúvidas se o Copom reduzirá a taxa em 0,25 ponto ou pausar o corte. Isso traz aversão ao risco e pressiona o câmbio”, afirma.
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