“Bom dia, anime-se!” exclamou o esquerdista Andrés Manuel López Obrador nesta segunda-feira (30) ao iniciar sua última entrevista coletiva matinal, a polêmica “mañanera”, poucas horas antes de entregar a presidência do México à sua aliada Claudia Sheinbaum, com alto apoio popular.
“Saio muito feliz, até porque amanhã vou entregar a faixa presidencial a uma mulher excepcional”, disse o presidente na 1.438ª edição, segundo a contagem oficial, de sua aparição diante da mídia , de segunda a sexta às sete da manhã, um exercício único no mundo.
Dezenas de jornalistas e comunicadores de redes sociais esperaram ansiosamente. “É uma honra estar com Obrador!”, gritaram alguns de seus fiéis.
No seu último dia como chefe de Estado, assinou a promulgação de duas reformas constitucionais por si propostas, que serão publicadas na terça-feira, incluindo uma que coloca a Guarda Nacional sob o comando do Exército.
AMLO, como também é conhecido pelas suas iniciais, respondeu às críticas da oposição, de organizações de direitos humanos e das Nações Unidas, que afirmam que esta mudança consuma a militarização da segurança no México.
Tornar-se “parte do Ministério da Defesa dará [à Guarda Nacional] solidez, permanência, disciplina e gestão honesta e, sobretudo, não estará ligada ao crime organizado”, argumentou o presidente, que termina o mandato único de seis anos com 70% de popularidade.
Publicidade ou comunicação?
López Obrador prometeu que falaria pouco, mas demorou quase 80 minutos para apresentar uma longa lista do que considera as conquistas do seu governo.
Afirmou que foram criados mais empregos do que nos países europeus e nos Estados Unidos e insistiu que, durante o seu mandato, a taxa de homicídios diminuiu 19%, a primeira queda desde 2000.
Porém, dados oficiais da Secretaria de Governo mostram que esta gestão termina com quase 200 mil assassinatos, mais do que nas três presidências anteriores.
As “mañaneras”, que duraram entre duas e três horas, serão continuadas por Sheinbaum, num estilo mais austero e menos eloquente do que o veterano, que jura que se aposentará da política e irá para a sua fazenda em Chiapas (sul).
Luis Estrada, diretor da consultora de comunicação Spin, reconhece que é “o primeiro presidente da história que dá conferências de imprensa diárias e ninguém no mundo seguiu o seu exemplo”, mas classifica-as como “propaganda”.
A maioria das perguntas vem de “amigos jornalistas”, aponta Pamela Starr, professora de ciência política na Universidade do Sul da Califórnia.
“Foi uma forma de López Obrador definir a agenda e se comunicar diretamente com sua base, sem a imprensa como intermediária”, comentou.
Aos repórteres que ousam contradizê-lo, AMLO acusou-os de serem “comunicadores ao serviço dos grupos de interesse criados”.
Incansável, o político nunca se sentou nem bebeu água e só faltou alguns dias quando contraiu a Covid em duas ocasiões, embora a conferência de imprensa tenha ocorrido com outros funcionários.
Desta tribuna atacou os seus “adversários”, fossem mexicanos ou estrangeiros, em longas exposições históricas e ocasionalmente religiosas.
Como despedida, após a coletiva de imprensa, iniciou-se uma celebração com música regional mexicana.
Foi também apresentada uma “surpresa” para AMLO: um vídeo que revisita as suas décadas de trajetória política, acompanhado pela melodia popular de origem espanhola “La Paloma” em ritmo de bolero.
Outra de suas últimas atividades será um almoço com presidentes convidados para a transição governamental, incluindo o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, com quem também manterá uma reunião bilateral.
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