Senador francês acusado de dopar deputada para abuso fez buscas suspeitas no Google

“Drogas e estupro”, “efeitos do ecstasy do GHB” (ácido gama-hidroxibutírico, apelidado de droga do estuprador”), “efeitos posteriores do GHB” e “ponto de venda do GHB”. A perícia telefônica do senador Joël Guerriau revelou que ele havia pesquisado informações sobre drogas no Google e crimes em 9 de outubro, pouco mais de um mês antes de ser acusado pela deputada Sandrine Josso de tentar drogá-la para estuprá-la em seu apartamento em Paris.

Guerriau foi questionado esta terça-feira sobre o caso, em particular sobre as buscas suspeitas captadas no seu telemóvel, apurou esta quarta-feira a AFP junto de fontes próximas da investigação.

— Guerriau apenas reserva as suas explicações aos tribunais — responderam à AFP os seus advogados Henri Carpentier e Marie Roumiantseva, sem mencionar o conteúdo do seu interrogatório perante o juiz de instrução.

Foi a primeira vez que ele foi questionado sobre o mérito do caso desde o seu indiciamento, em 17 de novembro de 2023.

Guerriau foi entrevistado durante várias horas sobre o assunto, que abalou o sistema parlamentar em França, onde milhares de pessoas também acompanham o julgamento de Dominique Pelicot, acusado de dopar a sua própria esposa, Gisèle, e de recrutar dezenas de estranhos para abusar dela durante uma década.

O senador pelo Loire-Atlantique, colocado sob supervisão judicial, foi suspenso do seu partido Horizontes e do seu grupo parlamentar.

Ouvida em março, a deputada disse aos juízes de instrução que foi convidada para ir à casa de Guerriau para comemorar a reeleição do seu “amigo político”. Ele teria a incentivado a “beber o champanhe rapidamente” e adotado “comportamento bizarro”, apagando e acendendo diversas vezes a luz do apartamento.

Segundo um relatório policial, datado de julho e a que a AFP teve acesso esta quarta-feira, Sandrine apresentava 388 ng/ml de ecstasy no sangue quando saiu da casa de Guerriau – uma dose muito superior ao que é considerado uma “quantidade recreativa”.

A análise também mostrou ausência total de drogas durante os sete meses anteriores à noite dos eventos. A mulher disse que saiu correndo do apartamento ao perceber os sintomas.

Enquanto estava sob custódia policial, Guerriau citou julgamentos pessoais, incluindo a morte de seu gato e a doença de um ente querido, como tendo-o levado a buscar alguma “euforia”.

— É possível que houvesse alguma coisa no fundo da taça que lhe servi — disse ele, referindo-se a um “erro de manuseio” com taças de champanhe.