(Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender nesta quarta-feira uma ampla reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) e afirmou que o Brasil considera convocar uma conferência internacional para revisar a Carta da ONU como parte dos esforços para remodelar a organização multilateral.
Durante a reunião ministerial do G20, em Nova York, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula reiterou pontos que defendeu na véspera em seu discurso na Assembleia, como a maior representação da África e da América Latina no Conselho de Segurança da ONU.
“Na sua configuração actual, o Conselho de Segurança tem-se mostrado incapaz de resolver conflitos, e muito menos de os prevenir… Com mais representação, especialmente de África e da América Latina e das Caraíbas, teremos mais hipóteses de ultrapassar a polarização que paralisa o corpo”, disse Lula na reunião desta quarta.
“Por esta razão, o Brasil está considerando apresentar uma proposta para convocar uma Conferência de Revisão da Carta da ONU, com base em seu artigo 109. Cada país pode ter sua própria visão em relação ao modelo ideal de reforma da governança global. a reforma é fundamental e urgente”, afirmou.
Lula também defendeu mudanças no sistema comercial global, apontando a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) pelo que chamou de “interesses geopolíticos e econômicos”, além de pedir reformas em organismos multilaterais de crédito, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Quando o FMI e o Banco Mundial foram criados, seus conselhos executivos tinham 12 assentos para um universo de 44 países. Atualmente, são 25 assentos para mais de 190 países. assentos hoje”, disse.
“Hoje, a OMC encontra-se paralisada devido a interesses geopolíticos e económicos. Reverter o novo impulso ao protecionismo, que prejudica desproporcionalmente os países em desenvolvimento, é essencial para garantir um comércio mais equitativo. Estas mudanças terão um impacto limitado sem reformas eficazes.”
SUL GLOBAL
O presidente lembrou ainda a insistente defesa que o Brasil tem feito, como atual presidente do G20, das regras globais de tributação dos super-ricos e apontou a medida como forma de combater as desigualdades e direcionar recursos para o combate às mudanças climáticas.
“Tributar os super-ricos é uma forma de combater a desigualdade e direcionar recursos para prioridades de desenvolvimento e ação climática”, disse ele. “A ONU e o seu Secretário-Geral devem ocupar mais uma vez uma posição central no debate sobre questões económicas e financeiras de importância global.”
Lula apelou ainda à representação dos países do “Sul Global” nos principais fóruns de decisão do mundo, afirmando que a comunidade internacional “anda em círculos”.
“Para quebrar este ciclo vicioso, precisamos de coragem para mudar e de compromisso para superar as diferenças. A nossa capacidade de resposta é dificultada, em particular, pela falta de representação que afecta as organizações internacionais”, avaliou.
“Se os países ricos querem o apoio do mundo em desenvolvimento para enfrentar as múltiplas crises do nosso tempo, o Sul Global precisa de estar plenamente representado nos principais fóruns de tomada de decisão.”
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)
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