O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou as primeiras medidas do Plano de Contingência para Atendimento do Sistema Elétrico solicitado pelo Ministério de Minas e Energia. Entre as ações sugeridas para garantir o abastecimento de energia do país, a volta do horário de verão foi sugerida como estratégia, mas especialistas alertam que essa medida pode não surtir os efeitos esperados, principalmente no MS.
A presidente do Conselho de Consumidor da Área de Concessão da Energisa Mato Grosso do Sul (Concen-MS), Rosimeire da Costa, destaca que consultoria realizada pela entidade indica que os efeitos positivos do horário de verão serão sentidos com mais intensidade na Região Sul do Brasil.
“Teremos um efeito económico nas contas dos consumidores, especialmente dos consumidores do Sul. Eles vão terminar o dia com a luz do sol ainda acesa, durando até 18h-19h, e vão economizar, porque vão acender as luzes das residências um pouco mais tarde”, detalha.
Por outro lado, Rosimeire destaca que a adoção do horário de verão poderá desencadear uma sobrecontratação de energia. “As distribuidoras têm contratos em que compram para não faltar energia. Então, a gente fala que, por obrigação contratual, tem que comprar energia para atender o pico, aquela curva, o ponto mais alto daquela curva de consumo”, pondera.
Por isso, o presidente do Concen-MS destaca que, com maior aproveitamento da luz solar, as pessoas consumirão menos energia dessa aquisição, o que geraria excesso de contratação – aquele contrato antigo que foi adquirido, mas acabou não sendo utilizado.
“Então, durante a revisão tarifária anual, haverá um valor que a gente chama de compensação financeira determinado na contratação, porque, afinal, foi contratado, mas deve ser pago porque foi disponibilizado – por exemplo, essa energia especificamente para a Energisa MS –, então teremos que pagar”, analisa.
ANÁLISE
Segundo o doutor em Economia Michel Constantino, na última vez que a mudança foi adotada em todo o país, não foram registrados grandes efeitos em termos de redução do consumo. Ele argumenta que o retorno ao horário de verão precisa
apoio científico.
“Nada vai mudar no consumo, seja na redução ou no aumento”, afirma o economista, destacando que a análise é particularmente relevante num estado onde o setor energético já enfrenta desafios significativos – devido à seca e à alta demanda – para setores como o do agronegócio .
Constantino destaca ainda que a volta do horário de verão poderá trazer impactos negativos em diversos aspectos do dia a dia. “Isso vai atrapalhar todo o processo que já está em andamento, incluindo aulas, horário de funcionamento do comércio e trânsito”, explica.
O economista sugere que a medida pode ser vista mais como uma mudança política do que técnica, sem justificativas concretas para apoiar a sua implementação neste momento crítico. “Parece-me apenas uma mudança política esquecer as questões atuais mais importantes sobre energia, consumo, preços e a situação de seca/incêndio”, afirma.
O mestre em Economia Eugênio Pavão acrescenta que o horário de verão foi uma prática realizada na Europa no século passado como forma de
de corte de despesas relacionadas com questões morais e que ao longo dos anos evoluiu para uma tática económica.
“As actuais alterações climáticas colocam o país num dilema: adoptar novas fontes de energia [solar, eólica, etc.] para complementar e/ou substituir as usinas, pois a falta de chuvas em locais específicos obriga ao uso de termelétricas, que são bem mais caras [e poluentes] para a sociedade”, explica.
Pavão destaca ainda que o horário de verão traz economia, mas a questão da duração da medida é bastante polêmica. “Para usufruir dos benefícios é necessário prorrogá-lo até ao final de fevereiro, quando acordar muito cedo afeta a produtividade, com consequências para a saúde”, sublinha.
A proposta de reinstituição do horário de verão, embora possa parecer uma solução simples, é recebida com ceticismo por especialistas que alertam para a necessidade de ações mais eficazes e fundamentadas para lidar com a crise hídrica e energética.
HORÁRIO DE VERÃO
O estudo realizado pelo ONS indica que a implementação do horário de verão em cenários críticos de afluência pode reduzir a demanda máxima em até 2,9%. A decisão de aplicar essa medida caberá ao governo federal e poderá resultar em economia de aproximadamente R$ 400 milhões em custos operacionais entre outubro e fevereiro.
“O ONS realizou estudos sobre o horário de verão e recomendou sua adoção, pois acredita que trará benefícios ao setor elétrico, aumentando a eficiência do Sistema Interligado Nacional [SIN] e ampliação da capacidade de atendimento nos horários de pico”, afirmou o diretor-geral do ONS, Marcio Rea.
Estudos sugerem que a medida poderia reduzir a demanda noturna máxima durante a semana e finais de semana, independentemente das condições climáticas.
O horário de verão ajuda a suavizar a rampa de carga entre 18h e 19h e pode adiar os horários de pico em até duas horas, permitindo uma compensação mais eficaz para a produção distribuída de microgeração/minigeração e geração solar.
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