O relatório publicado por Correio Estadual do dia 13 de julho, que revelou com exclusividade que o ex-vereador de Ladário Munir Sadeq Ramunieh (PSDB) já foi condenado por tráfico de drogas, foi inelegível por oito anos (2012 a 2020) e é réu por favorecer a prostituição não foi suficiente para que o Tucano diretório municipal desistiria de oficializá-lo como candidato a prefeito nas eleições municipais deste ano.
Agora, também com exclusividade, o Correio do Estado obteve trechos da denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) e acatada pela Justiça Eleitoral em que Ramunieh – que mesmo após a denúncia feita pelo jornal continua liderando a corrida eleitoral em Ladário – não tiveram a menor modéstia em admitir suas práticas criminosas, nas conversas com associados e colegas de trabalho.
Por meio de escuta telefônica realizada pela Polícia Federal (PF) a pedido do MPF e com autorização da Justiça Federal, o candidato a prefeito Munir Sadeq, em uma de suas conversas com seu primo Akram Salleh – identificado como um de seus associados no o esquema de contrabando de bebidas e fraude fiscal tornado público pela Operação Vulcão –, ele brinca e até insinua que ficou famoso.
“Você [sic] É famoso, né?”, disse Ramunieh a Salleh, referindo-se à reportagem exibida pelo “Jornal Nacional” (Rede Globo) em 2017, na época da operação. “Foda-se! Faço tudo errado, droga, casa de prostituição, e não apareci no ‘Jornal Nacional’.
Só sobrou você”, reclamou em tom irônico. Na ocasião, um trailer carregado com cerveja trazida ilegalmente da Bolívia para ser vendida em Corumbá e Ladário havia sido apanhado pela PF.
Na prática, Ramunieh já foi acusado e condenado por praticamente tudo o que confessou ao colega no telefonema interceptado pela PF, só falta a ação na Justiça Federal em que ele é acusado de favorecer a prostituição, sendo acusado de fazer parte de um grupo que comete crimes de exploração sexual e rufião, tanto na Cidade Branca como no Ladário.
Em outra conversa grampeada, a PF também flagrou Ramunieh organizando pagamento de propina a policiais civis,
depois que um deles foi ao distribuidor de bebidas em Salleh.
“Só está faltando uma coisa. O negócio é o seguinte, eu conheço esse cara, vou mandar ele sair, depois a gente leva o caminhão embora… Aí a gente dá uma coisinha para eles, entendeu?”, disse ao primo.
Para a PF, as conversas grampeadas e os documentos obtidos são provas de que – somado ao fato de Rildo Barbosa Silveira, então supervisor de vendas da Casa Di Conti, ter afirmado durante interrogatório policial que já havia se reunido com Ramunieh para combinar que ele daria exclusividade na venda de cerveja Conti em sua boate Babilônia – o candidato a prefeito de Ladário não só tinha conhecimento das fraudes aduaneiras sistematicamente cometidas por seu primo, mas também destinatário final de parte das bebidas produzidas para exportação e desviadas para o mercado interno mercado.
OUTROS CRIMES
Segundo denúncia recebida pelo Correio do Estado em abril de 2014, quando Ramunieh ainda era vereador, ele foi condenado por improbidade administrativa – tornando-o inelegível por oito anos – pela prática de nepotismo na contratação
de uma assessora jurídica que era sua cunhada, que, em troca, daria apoio político para a eleição da presidência da Câmara de Direito da época. Em 2020, a candidatura de Ramunieh a prefeito de Ladário foi rejeitada, por não ter saído da empresa que possui no período de seis meses anterior à eleição. O motivo foi que ele tinha contratos com a administração pública municipal para fornecimento de combustível. Além disso, sua inelegibilidade ainda estava em vigor.
Além dos crimes na esfera política, Ramunieh também tem uma longa trajetória na esfera criminal, cumprindo pena de prisão por tráfico de drogas,
em 1994, na Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecida como Carandiru. Após cumprir pena em São Paulo, foi morar no Ladário, onde abriu a boate Babilônia Drink’s, o motel Pousada Kalifa Pantanal e o espaço Vila Aeroporto – mais conhecido como Carandiru, em referência ao presídio em que cumpriu pena. sua sentença e que serviria de local para hospedar seus “dançarinos”.
Essas meninas eram na verdade prostitutas e ficaram presas na aldeia, proibidas de sair de lá. Elas só podiam sair do local quando fossem à boate, para serem exploradas sexualmente.
Com isso, Ramunieh tornou-se réu desde 2014 sob a acusação de comandar um grupo que cometeu o crime de exploração sexual (promover a prostituição) e rufião em Corumbá e Ladário. Além disso, o processo afirma que ele seria responsável pelo tráfico de pessoas.
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