O grupo do irmão de Dourados alugou pistas e comprou aviões para viagens únicas e para serem destruídos posteriormente, pois os lucros do tráfico “financiavam” constantes trocas de aeronaves
Por meio do Ministério Público Federal (MPF), outros 16 membros, incluindo laranjas; pilotos e familiares da quadrilha de irmãos douradenses – que chegavam a arrecadar dízimos – foram acusados de pelo menos três tipos de crimes, cometidos ao longo de quase 10 anos enquanto o esquema criminoso era disfarçado no interior do Estado.
Segundo o MPF em nota, as práticas dos investigados na Operação Sordidum, segundo a denúncia, enquadram-se em pelo menos três classificações, a saber: organização criminosa; lavagem de dinheiro e uso de documentos falsos.
Vale lembrar que há cerca de um mês – ainda no dia 20 de agosto – 14 integrantes da quadrilha que, enquanto dízimos coletados, cocaína traficada – foram denunciados pelos crimes de: organização criminosa, tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro.
Agora, segundo nota do MPF, os acusados vão desde familiares dos irmãos douradenses, que comandavam esquema com empresas de fachada, até:
- “Laranjas”;
- Cambistas,
- “Funcionários” e
- Pilotos de avião
Detalhe para “pilotos” [no plural mesmo]pois, segundo investigações da Polícia Federal, diversas aeronaves foram compradas e utilizadas apenas uma vez.
Segundo a PF, no tráfico ilícito de entorpecentes por via aérea, os aviões adquiridos por um dos acusados não retornaram do destino, pois uma única viagem foi suficiente para “financiar” os custos de uma nova aeronave.
Nesse esquema, a polícia estima que apenas uma movimentação da quadrilha, para transportar drogas internacionalmente, gerou gastos de R$ 10 milhões para o grupo.
Com isso, os aviões foram destruídos, com o objetivo de apagar vestígios de transporte e dificultar qualquer forma de rastreamento, retornando esses “pilotos” ao Brasil em voos comerciais.
Além disso, as investigações apontam que o modelo mais utilizado pela quadrilha eram os aviões.Rei Ar’popular entre os produtores “agro”, que possuem pelo menos cinco classificações, com velocidades de cruzeiro que vão de 574 a 578 km por hora.
Entre os “rei ar“, há modelos que contam desde sistema de navegação preciso e radar meteorológico até outro com espaço para carga, acomodando até sete passageiros.
Laços criminais
Mesmo pensando em trabalhar com o conhecido traficante Antônio Joaquim Mota – o popular “Motinha” -, o irmãos Marcel Martins Silva e Valter Ulisses Martinsatuava principalmente no setor envolvendo Mato Grosso do Sul e outros quatro estados, a saber:
- Mato Grosso
- Para
- Bahia e
- Paraná
No entanto, o grupo tinha laços estreitos com uma gangue que incluía doleiros paraguaios, além de traficantes de outros países localizados na América Central, como Honduras e Guatemala, cita como exemplo o MPF.
Justamente uma tabela de valores, contendo a estrutura logística do grupo para o transporte internacional de drogas, ajudou a polícia a desenhar a teia de trabalho criminoso da organização.
Além disso, com “laranjas” assinando a compra dos aviões; o aluguel de pistas de pouso, aliado à contratação de pilotos, entre outros fatores, esclareceram as investigações da PF sobre os vínculos do grupo.
Desempenho e ‘último dos fiéis’
Dos demais crimes, as investigações mostram que o suposto líder “mergulhou” na personagem e, com documentos falsos, tornou-se um “empresário de sucesso” e chegou a se separar da esposa só para se casar com ela, passando a ter outro nome.
Um scan bancário dessas empresas abertas, analisando os dados desse suposto líder do grupo, mostra que foram movimentados 50 milhões de reais no quinquênio, entre 2015 e 2020.
Marcel Martins Silva era, aos olhos da sociedade, um homem comum: um empresário com duas empresas em Dourados; Ele morava em um condomínio de luxo na cidade e frequentava a igreja, onde chegava a recolher o dízimo.
As investigações mostram que, tendo mudado de nome com documentos falsos, o homem agora acusado pelo MPF chegou a pedir o divórcio, para poder se casar novamente com a mesma mulher com a nova identidade.
Curiosamente, o indivíduo teve que se apresentar à Polícia Federal com documentação falsa para obter o passaporte.
Apesar de serem irmãos, análise do setor policial mostra que Marcel e Valter nem sempre agiram juntos, sendo que o segundo agiu de forma semelhante, com documentos falsos, tendo em comum a violência, pois chegaram a discutir tortura e possível morte de inimigos.
Quando o doleiro do grupo não tinha “disponibilidade financeira”, a quadrilha tinha o hábito de comprar e vender imóveis, sendo que um dos líderes possuía “ativos consideráveis” tanto no Brasil quanto no Paraguai, obtidos com lucros do tráfico de drogas, segundo o MPF.
Esquema gigante
Conforme referido anteriormente pelo Ministério Público, pelo menos nove empresas estiveram envolvidas no esquema: cerca de quatro construtoras; uma empresa de transportes, bem como uma denúncia contra o proprietário de um escritório de contabilidade em Dourados.
Em reportagem no dia das operações “Sordidum e Prime” – 15 de maio deste ano – os alvos foram elencados da seguinte forma: Referência Incorporadora; Focco Imobiliária; Primeira Linha Acabamentos e Efraim Incorporadora, sendo Marcel coproprietário das duas últimas citadas.
Este grupo utilizou até mergulhadores para inserir a droga nos cascos dos navios com destino ao continente europeu.
Além disso, o MPF exige que a quadrilha – principalmente líderes da organização criminosa – pague milhões de indenização por trazer fragilidade ao sistema financeiro, ao injetar recursos criminosos na economia local.
Além de pedir sanções legais, o Ministério Público Federal também pediu a “perda de todos os bens móveis e imóveis arrecadados na operação”.
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