Em fevereiro deste ano, durante evento de adesão ao PT da ex-prefeita Marta Suplicy, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou seus colegas de partido ao lembrar que o partido já controlou as principais cidades do Grande ABC, mas hoje administra apenas Mauá e Diadema. “Governamos praticamente 22 milhões de brasileiros com a capital (São Paulo). E perdemos todas (as prefeituras)”, disse Lula, em tom de repreensão. “O que nos aconteceu? Onde foi que errou? Quando é que não fizemos o trabalho de casa?”, acrescentou o presidente, fazendo um apelo ao partido para que reflita sobre as suas derrotas.
As eleições municipais de 2020 foram uma das mais traumáticas para o PT: pela primeira vez desde a redemocratização, o partido não conseguiu eleger nenhum prefeito nas capitais. Além disso, perdeu espaço em importantes prefeituras do país e registrou sua pior votação em São Paulo, onde Jilmar Tatto encerrou a corrida eleitoral com apenas 8,6% dos votos válidos. Este ano, à frente da Presidência da República, o partido espera reconquistar espaço nos Executivos Municipais, especialmente no Grande ABC, reduto histórico do PT. Faltando apenas algumas semanas para o primeiro turno, porém, o cenário eleitoral na região não é promissor para o partido.
Dos sete municípios que compõem o Grande ABC, o PT controla atualmente apenas dois – as citadas cidades de Mauá (Marcelo Oliveira) e Diadema (José de Filippi Jr.). E nas pesquisas eleitorais, a liderança é disputada apenas nesses mesmos municípios, onde os candidatos à reeleição aparecem tecnicamente empatados com outros candidatos. Nas duas cidades eles também lideram o índice de rejeição.
As mudanças demográficas e socioeconômicas nesses municípios explicam a dificuldade da sigla em reconquistar espaço na região. Segundo Claudio Couto, cientista político e professor da FGV-EAESP, o PT continua focado no diálogo com as classes populares e populares, sem adequar seu discurso às transformações que ocorrem nessas áreas.
“Essas regiões passaram por um processo de certa desindustrialização ou expansão de outras áreas de atividade econômica. Assim, essas cidades mudaram em relação ao que eram na década de 80, quando o PT estava no auge, e mesmo durante grande parte do década de 90″?, destacou o professor.
Levantamento da Subseção Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC também mostra que o número de sindicalizados na região caiu quase pela metade no período, passando de 176.817, em 1990, para 96.926, em julho. este ano.
Pessimismo
O cenário pessimista do PT nas eleições de 2024 se estende à Grande São Paulo, principal aglomeração urbana da América do Sul, formada por 39 municípios: o PT não aparece na liderança nas pesquisas em nenhuma cidade. No auge do governo Lula, em 2012, o partido conseguiu eleger prefeitos para quase um terço (12) das prefeituras da região, porém ficou com apenas um na eleição seguinte, em 2016, ano em que Dilma Dilma Rousseff sofreu impeachment.
A figura de Lula continua sendo o pilar da estratégia petista de recuperação das prefeituras do Grande ABC. Em julho, o presidente esteve em Diadema para visitar as obras do primeiro Centro Educacional Unificado (CEU) da cidade e, dias depois, esteve presente na convenção do PT em São Bernardo do Campo (SP), onde o candidato do partido é deputado estadual Luiz Fernando.
Como mostrado por Coluna do EstadãoCandidatos às prefeituras do ABC esperam a presença de Lula em suas agendas de campanha. Porém, sem a garantia de presença do líder e com pouco tempo de TV, têm apostado na inserção de discursos antigos do presidente no rádio.
São Bernardo do Campo é um dos locais onde o partido tem enfrentado dificuldades nas eleições deste ano. Em pesquisa do Paraná Pesquisas realizada no início deste mês, o deputado federal Alex Manente (Cidadania) lidera com 27,9% na pesquisa estimulada, seguido por Marcelo Lima (Podemos), com 22,6% das intenções de voto. Flávia Morando (União Brasil), sobrinha do atual prefeito Orlando Morando (PSDB), aparece com 18%, enquanto o petista Luiz Fernando registra 17,3%. A pesquisa entrevistou 800 eleitores entre os dias 2 e 5 de setembro. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de mais ou menos 3,5 pontos percentuais.
Berço político do PT, São Bernardo do Campo é uma cidade simbólica para Lula. Foi lá que o presidente construiu sua base eleitoral em meio ao movimento sindical e também onde se entregou à Polícia Federal em 2018, após passar dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Até hoje, Lula mantém seu local de votação no município. O último prefeito petista foi Luiz Marinho, ministro do Trabalho, que deixou o comando da cidade em 2016, quando Orlando Morando (PSDB) quebrou a hegemonia do partido na região.
Polarização
Em Santo André, o partido lançou Bete Siraque (PT) como candidato a prefeito e Bruno Daniel (PSOL), irmão do ex-prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002, como vice-presidente, que aposta em sua associação com Lula e o trabalho do governo federal na cidade para conquistar o eleitorado.
Nas eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) receberam a maioria dos votos da população de Andrés. Pesquisa recente da Paraná Pesquisas mostra que Siraque enfrenta considerável rejeição: 35,5% dos eleitores não votariam nela.
Nas intenções de voto, o petista tem 13,4% da preferência do eleitorado, enquanto Eduardo Leite (PSB) aparece com 12,10% e Gilvan (PSDB), 40,4%. A pesquisa entrevistou 710 eleitores entre os dias 9 e 12 de setembro e a margem de erro é de mais ou menos 3,8 pontos percentuais. O nível de confiança é de 95%.
O atual vice-prefeito, Luiz Zacarias (PL), que também obteve 13,4% na pesquisa, adotou a polarização como estratégia. Zacarias acreditava que seria um sucessor natural do atual presidente Paulo Serra (PSDB), presidente estadual do partido tucana, que optou por lançar Gilvan na disputa.
Em audiência do UOL, Zacarias afirmou que seus adversários temem que ele use o nome do ex-presidente na disputa. “Se eu trouxer Bolsonaro para a cidade ou fizer algo próximo a Bolsonaro, com certeza eles terão sérios problemas nas eleições”.
No Rio Grande da Serra, o PT não disputará as eleições majoritárias. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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