O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevou novamente sua projeção para o crescimento do consumo de energia elétrica no país, que atravessa uma seca histórica.
Como O Globo mostrou anteriormente, a entidade quer medidas para garantir fornecimento este ano.
Boletim divulgado nesta sexta-feira (20) aponta que o consumo do Sistema Interligado Nacional crescerá 3,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Anteriormente, a previsão era de alta de 3,2%.
Ao mesmo tempo, a agência calcula que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste fecharão o mês em 46,6%, abaixo da previsão anterior. A região responde por 70% do armazenamento de água das hidrelétricas do país e é vista como a “caixa d’água” do sistema.
Esse patamar está acima do registrado na crise de 2021, mas há preocupação com os próximos meses e principalmente com 2025. Se não chover o suficiente para levar água aos reservatórios, o temor é de uma crise grave no próximo ano.
A estimativa é que a entrada natural de água nos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, por exemplo, em setembro seja equivalente a 46% da média histórica —o que já é baixo, pois este mês costuma ser um período de seca.
Diante deste cenário, em reuniões técnicas e documentos enviados ao Ministério de Minas e Energia, o Operador Nacional do Sistema Elétrico recomendou um conjunto de medidas para garantir o fornecimento seguro de energia elétrica neste ano.
A medida de população mais conhecida é horário de verãomas o seu impacto positivo na oferta é considerado residual.
Além disso, o ONS quer outras ações, segundo nota técnica a que O Globo teve acesso. Uma dessas medidas é aumentar a flexibilidade na operação das termelétricas, tanto as que já possuem contratos fixos quanto as que operam de forma independente, sem estarem vinculadas ao sistema interligado nacional.
O objetivo é proporcionar maior flexibilidade de gerenciamento do recurso nos horários de pico do sistema. Isso significa acionar térmicas mais caras, por exemplo, por serem mais seguras do ponto de vista de abastecimento.
Os temas estão sendo debatidos com as equipes técnicas do MME e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), além do próprio ONS. O caso específico do horário de verão será uma decisão do presidente Lula. Silveira deverá recomendar a Lula a volta do horário de verão após o segundo turno das eleições, marcado para 27 de outubro.
Possivelmente, o novo calendário, se aprovado, deverá entrar em vigor em novembro, disse um membro do governo. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alertou o governo para não alterar o período eleitoral, o que poderia prejudicar o processo de votação.
Horário de pico
A principal preocupação do governo é com os horários de pico, durante a tarde, quando há mais aparelhos de ar condicionado ligados, e no horário de transição para a noite — quando as usinas eólicas e solares estão reduzindo a geração.
Nestes momentos, o ONS avalia que pode ser necessário utilizar a “reserva” operacional do sistema.
Outra ação sugerida é utilizar, durante o período de seca, energia importada da Argentina e do Uruguai, dependendo da disponibilidade oferecida por estes dois países.
O ONS também quer utilizar um sistema denominado Programa de Resposta à Demanda como recurso adicional para operação do sistema elétrico.
Através deste sistema, as grandes empresas consumidoras de energia poderiam interromper o consumo para poupar eletricidade e garantir a segurança do sistema. Essas empresas são remuneradas pela parada em valores acordados em leilões.
O entendimento dos técnicos é que é mais barato e seguro, em alguns casos, interromper o consumo do que gerar energia a partir de fontes mais caras (como térmicas a óleo). O ONS pretende que este projeto comece em outubro e se prolongue até o final de janeiro deste ano.
Os técnicos explicam que, no planejamento do dia a dia da operação, há um conjunto de fatores para decidir sobre o acionamento das usinas, como preço e disponibilidade daquela usina.
Em alguns casos, pode ser mais barato e seguro pedir a uma empresa que reduza voluntariamente o seu consumo do que aumentar a geração termelétrica.
Para isso, o ONS quer realizar um leilão em que as empresas se cadastrem e digam quanto podem reduzir a geração de energia e por qual valor. A empresa é avisada às 23h do dia anterior ao pedido, e essa ação pode ocorrer quatro vezes por mês.
Os valores são pagos por todos os consumidores por meio da conta de luz.
Fábrica em São Paulo
Por fim, a Operadora sugere a manutenção da vazão reduzida da usina de Porto Primavera (SP-MS), cabeça do sistema Sudeste/Centro-Oeste. O objetivo é armazenar água até o início das chuvas.
A receita das medidas é semelhante à adotada durante a crise de 2021, quando os reservatórios estavam em estado crítico e o país passava por uma crise por falta de água nas hidrelétricas.
Uma das medidas já adotadas, por exemplo, é alterar os critérios de segurança na transferência de energia do Nordeste para outras regiões.
Estas medidas estão sendo adotadas pensando neste ano e no próximo. Para este mês, segundo o cenário “menos favorável”, a indicação é de vazão de água abaixo da média histórica de todas as regiões do país.
Em todo o Sistema Interligado Nacional, essa entrada de água para geração de energia pode representar apenas 43% da média histórica, sendo o segundo menor valor para o mês em uma história de 94 anos.
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