Errôneo
Vídeo de funcionários do INSS protestando contra cortes salariais após aderirem à greve iniciada em julho é tirado do contexto e induz ao erro ao insinuar que não houve descontos durante o governo Bolsonaro. Numa greve realizada em 2022, os cortes chegaram a 30%, agora chegam a 80%. O INSS afirma que os descontos são legais e seguem decisão do STF sobre movimentos de greve.
Conteúdo investigado: Vídeo mostra funcionários revoltados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Eles criticam o governo Lula (PT), após terem seus salários cortados por participarem de uma greve operária. O post, publicado no meu salário! Que governo de amor é esse?'”
Onde foi publicado:X e TikTok.
Conclusão do Comprova: As postagens são enganosas ao sugerir que não houve corte salarial dos funcionários do INSS que participaram de greves durante o governo Bolsonaro (PL). Segundo a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores na Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), entidade que comanda o comando de greve, a postagem é enganosa. Isso porque, ao contrário do que sugere a publicação, houve cortes na gestão do ex-presidente de até 30% nos salários dos funcionários que aderiram à greve municipal em 2022. Já neste ano, durante o governo Lula, cortes de até 80% em pagamentos aos grevistas em agosto.
Vídeo que circulou devido ao movimento grevista da categoria, iniciado em 16 de julho de 2024, e também por causa do anúncio do fim da greve, anunciado pelo presidente do município algumas horas antes. Na gravação, alguns deles comparam a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva à de Jair Bolsonaro, com gritos e críticas ao atual presidente.
“Não votei no Lula para cortar meu salário! Que governo de amor é esse?” pergunta uma mulher. “Isso é vergonhoso. Nem Bolsonaro teve coragem de fazer isso”, diz outro servidor. Essa afirmação foi destacada na legenda de uma das postagens de X.
Em outra postagem no TikTok, o mesmo vídeo circula com listras sobrepostas às imagens, que diz: “Deu mal! Funcionários do INSS têm salário cortado, detonam Lula e [se] lembre-se do mito!” Na legenda, o autor escreveu: “Nós avisamos!”.
Segundo a Fenasps, a gravação que mostra a denúncia dos funcionários é “legítima” e foi feita no dia 4 de setembro, logo após a ocupação do prédio do INSS pela própria Federação, pelo Comando Nacional de Greve (CNG) e por alguns militantes. Eles protestavam, entre outras coisas, contra o anúncio do fim da greve, feito pelo presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, nas redes sociais. A decisão de pôr fim à greve teve em conta um acordo assinado entre o governo e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Segurança Nacional (CNTSS). Porém, a categoria rejeitou a proposta pactuada no Plenário Nacional e a Fenasps não reconheceu o fim do movimento.
No mesmo edital, Stefanutto anunciou a imposição de faltas injustificadas aos trabalhadores que continuassem em greve, o que geraria descontos nos salários dos empregados, sem direito a reposição.
O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no TikTok, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Não foi possível entrar em contato com os autores das publicações no X, pois a rede social é inacessível no Brasil.
Errôneopara o Comprova, é um conteúdo retirado do contexto original e utilizado em outro para que seu significado mude; que utilize dados imprecisos ou que leve a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunda, com ou sem intenção deliberada de causar danos.
Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. A publicação distribuída no TikTok atingiu 755,1 mil reproduções até o dia 13 de setembro. No X, a postagem já havia alcançado 368,7 mil visualizações.
Fontes que consultamos: Ouvimos a Fenasps, responsável pelo comando de greve, consultamos a Instrução Normativa 59, que prevê redução salarial em movimentos grevistas e procuramos o INSS.
Cortes salariais e negociações
A ocupação do prédio do INSS, encerrada no dia 5 de setembro, teve como objetivo pressionar pela manutenção da greve e pela substituição do código de faltas injustificadas pelo código de greve. A greve continua, o presidente do INSS afastou as faltas injustificadas e aplicou o código de greve. A aplicação do desconto nos salários dos funcionários em greve, segundo Cristiano Machado, diretor da Fenasps, é prática desde a instituição do Instrução Normativa 59 (IN 59)em 2021 sob a administração de Bolsonaro.
O artigo 3º da Instrução estabelece que “a Administração Pública Federal deverá descontar a remuneração correspondente aos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve dos servidores”. Não há menção no documento a qualquer limite de corte.
Poderá, no entanto, ser celebrado um Termo de Acordo “para permitir a compensação de horas não trabalhadas pelos trabalhadores” durante a greve “e a devolução dos valores já deduzidos para o efeito, desde que com anuência do órgão central do Pessoal Civil. Sistema da Administração Federal (SIPEC)”. O acordo, conforme artigo 4º da Instrução Normativa, é facultativo.
Segundo Machado, foram registrados cortes de até 80% nos salários de agosto na atual greve. Ele ainda não sabe se haverá interferência nos pagamentos de setembro. “Não consegui entender quais critérios o governo está usando para fazer os cortes, mas eles têm sido bastante elevados”, comentou. Em audiência no dia 13, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, informou que, em outubro, o município devolverá os valores de agosto descontados durante a greve.
Cristiano Machado, da Fenasps, considera que as publicações analisadas pelo Comprova distorcem a situação ao omitir que houve cortes salariais durante o governo Bolsonaro. “Há uma distorção, porque Bolsonaro também cortou nossos salários em até 30% em dois meses de greve de 2022 [que ocorreu entre março e maio daquele ano]. Mas depois, com as negociações, tudo foi devolvido, como estipula a regulamentação do próprio governo: tem greve, tem corte e depois vem a devolução. Esperamos que os valores agora também sejam devolvidos”, afirmou.
O que diz o INSS
O INSS alegou ao Comprova que o “corte” mencionado pelos grevistas era, na verdade, um desconto nos salários por faltas, baseado em uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
O texto enviado pelo órgão diz que o desconto relativo ao período de greve, ainda que seja uma medida punitiva ou sancionatória, é um “ônus inerente à greve”, e que “embora a greve seja legal, ela implica consequências jurídicas”. .
O INSS explica que o exercício do direito de greve pelos servidores acaba gerando uma espécie de suspensão do vínculo empregatício e, portanto, o servidor perde o direito ao recebimento dos valores relativos aos dias não trabalhados.
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a matéria, considerou que a adesão à greve acarreta um “afastamento” não remunerado do servidor. Portanto, concluiu que “a Administração Pública Federal deve descontar os dias de greve decorrentes do exercício do direito de greve dos servidores”, sendo esse corte de ponto “um dever, e não um poder da Administração Pública Federal, que não pode simplesmente permanecer inerte diante de uma situação de greve”.
Servidores querem compensar perdas
A greve dos servidores do INSS já dura dois meses e tem como objetivo pedir indenização por perdas salariais, que, segundo a Fenasps, chegam a 53% devido aos congelamentos ocorridos desde 2017. Outras reivindicações são o aperfeiçoamento profissional e melhores condições de trabalho. “No ano passado tivemos um reajuste de 9%. Antes, o último reajuste foi em 2017, então houve um congelamento salarial, principalmente durante o governo Bolsonaro. Agora, há uma proposta de aumento de 18,2% para 2025 e 2026, mas isso não cobre as nossas perdas, que chegam a mais de 53% nos últimos anos”, disse Cristiano Machado, diretor da Fenasps.
Em audiência com o ministro da Previdência, Carlos Lupi, na manhã do dia 11 de setembro, a Fenasps apresentou uma nova proposta em substituição à anterior, assinada pelo CNTSS e que foi rejeitada pela maioria dos sindicatos. À tarde, o governo enviou à Federação um documento retirando a implantação de um Comitê de Gestão de Carreiras do acordo pré-estabelecido. Os termos do que foi acordado foram definidos no documento como “discricionários”, ou seja, não obrigatórios. A Federação busca nova audiência com o Ministério da Previdência Social.
O Governo ajuizou ação no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) em 23 de julho contra o movimento grevista. O STJ determinou que no mínimo 85% das equipes de cada unidade do município sejam mantidas em atividade e multou os sindicatos envolvidos em R$ 500 mil por dia, em caso de descumprimento. “No entanto, temos audiência de conciliação marcada para a próxima sexta-feira (20)”, disse Machado.
Por que o Comprova investigou esta publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações sobre as publicações que têm maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações por WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras verificações sobre o tema: Outras verificações do INSS foram realizadas anteriormente, como em novembro de 2023, quando o Comprova contextualizou que o município pagava o 13º salário apenas para beneficiários que não receberam adiantamento; e em 2022, quando o Comprova verificou que era enganoso que Paulo Guedes havia anunciado redução nas pensões e outros benefícios do INSS.
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