O candidato do PSOL a prefeito de São Paulo, deputado federal Guilherme Boulos, disse nesta quarta-feira, 18, durante audiência realizada pelo Estadãoque, se necessário, realizará a reintegração de posse caso haja invasões de terras e imóveis públicos em uma eventual gestão no Executivo municipal. Ele foi coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e liderou invasões ao grupo no passado.
“Primeiro vamos dialogar com os movimentos sociais. Agora, se houver uma situação como essa, não vou cometer prevaricação. Caso contrário, serei preso. Vocês têm obrigações funcionais”. Segundo o candidato, o movimento habitacional ocupa imóveis abandonados quando não há políticas públicas e diálogo com o governo. “Aqui estou falando de um movimento organizado. Outra coisa é um movimento clandestino nas periferias ligado ao crime”, disse, criticando a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição.
Boulos também falou sobre a Cracolândia, insistiu no aumento do número de integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e defendeu a criação de unidades de apoio aos trabalhadores de aplicativos. A audiência foi mediada pelo colunista Ricardo Corrêa, com a participação do repórter especial Marcelo Godoy.
Seu plano de governo conta com 119 propostas em 27 áreas. Em nenhum momento é indicado de onde virão os recursos para tudo isso.
Quando apresentamos o programa do governo, apresentei o custo das propostas e de onde vem a receita. Reitero aqui: se seguirmos as métricas da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), crescimento da receita, Receita Corrente Líquida nos últimos quatro anos, teremos recursos próprios de R$ 41 bilhões para investimento. Nosso plano tem custo estimado, entre investimento e captação, de R$ 51 bilhões, amortizados em quatro anos. A situação de São Paulo não é falta de dinheiro, é falta de prefeito. Como falei, R$ 41 bilhões de recursos próprios; os outros R$ 10 bilhões queremos obter do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), junto ao governo federal. Mas não apenas com o PAC. Essa receita tem a ver com a recuperação de dívida ativa. São Paulo tem uma dívida ativa de R$ 150 bilhões. O que é recuperável, segundo funcionários da Receita, é pouco mais da metade, R$ 83 bilhões.
Não é uma renda constante…
A renda é constante anualmente se você tiver uma política de recuperação. Se melhorar a eficiência, é possível recuperar R$ 1,5 bilhão por ano. O Poupatempo de Saúde, entre financiamento e investimento, ao longo dos quatro anos, custa R$ 4,4 bilhões. A escolaridade em tempo integral custará R$ 7 bilhões. Estou dando esses exemplos para deixar claro que estudamos e cabe no orçamento.
O Sr. propõe a criação de unidades de apoio aos trabalhadores de aplicativos. Não é esse o trabalho das empresas?
A ideia é formar uma parceria e que eles forneçam recursos. A Prefeitura pode disponibilizar terrenos. A responsabilidade deve ser das empresas, mas é um problema público porque temos milhares de jovens que passam 12 horas de moto, sem ter onde comer ou ir ao banheiro. Isso aumenta o risco de acidentes de trânsito. Também estou falando sobre drivers de aplicativos.
O Sr. defende a expansão da força de trabalho do GCM. Por que não torná-lo mais eficiente?
As duas coisas precisam ser integradas, mas precisamos começar aumentando o pessoal. Porque há um atraso. O Rio tem metade da população de São Paulo, mas uma guarda maior. É preciso repor os guardas que saem e, ao mesmo tempo, cobrir o déficit. O outro ponto: precisamos melhorar a eficiência. Qual é a nossa proposta? Todas as escolas municipais terão vigilantes realizando patrulhamento de proximidade, tornando o bairro mais seguro.
O senhor quer criar um gabinete para a Cracolândia, mais ou menos o que governos anteriores tentaram fazer. Por que funcionará desta vez?
O diferencial é o projeto Caps (Centro Móvel de Atenção Psicossocial). Fui conhecer a modelo em Bogotá. Estive com o Secretário de Segurança e o Ministro da Defesa. Eles disseram: ‘Ao lado da tenda de tratamento mental, construímos uma tenda de odontologia. (A linha) virou um quarteirão’. Quando havia barraca com dentista, mais de 80% dos que lá foram, por causa da acolhida, aceitaram ir para tratamento.
Um tema da campanha é a infiltração do crime na política. O PT, uma das siglas que o sustentam, tem um vereador, Senival Moura, afetado pelas investigações. Ele o acompanha em diários. Você se sente confortável?
Precisamos separar o joio do joio. Senival nunca foi indiciado, ao contrário dos aliados do prefeito. Não aceitarei a infiltração do crime organizado nos contratos da Prefeitura. Ouça o promotor Lincoln Gakiya. Ouça o delegado da Polícia Civil que comandou a operação. Duas empresas receberam mais de R$ 1 bilhão da gestão Nunes. Um deles é comandado pelo PCC. O outro, o cara foi preso com armamento pesado. No dia seguinte, Nunes foi gravar um vídeo e atestar a honestidade da empresa.
Mas a Transunião, ligada ao Senival, foi investigada, houve casos de homicídio envolvendo a empresa…
Se algo for provado contra ele, isso é uma coisa. Ainda não temos isso hoje.
Se eleito, como pretende lidar com invasões de terrenos e edifícios públicos?
O movimento habitacional atua ocupando imóveis abandonados, quando não há políticas públicas e diálogo com o governo. Aqui estou falando de movimento organizado. Outra coisa são os loteamentos clandestinos nas periferias ligados ao crime ocorrido a torto e a direito na gestão de Ricardo Nunes. Eu não vou permitir isso.
Se houver (invasão), você irá retomá-la?
Vamos falar sobre movimentos. Agora, se houver uma situação dessas, não vou prevaricar. Caso contrário, serei preso. Você tem obrigações funcionais.
A liberação do aborto e a descriminalização da maconha são bandeiras do campo progressista global, mas estão longe das plataformas de esquerda no país. O que um governo de esquerda em SP pode fazer?
É importante ressaltar que esses temas não são de responsabilidade do prefeito. Então, é natural que isso não esteja no centro da campanha. São temas que envolvem majoritariamente a legislação nacional. Sou candidato a prefeito. Não que isso não possa ser questionado (…) Às vezes, ficam me pressionando para falar da Venezuela. Não sou candidato a secretário-geral da ONU. Eles querem que eu fale sobre drogas e aborto. Não sou, neste momento, candidato a deputado, senador ou presidente da República.
O prefeito administra hospitais que tratam do aborto legal.
Certamente. Isso tem que ser cumprido e será rigorosamente cumprido durante a minha gestão. O caso das drogas é importante e faço questão de mencioná-lo. Que posição defendo? Aquela que o Supremo Tribunal Federal estabeleceu, que separa usuários de traficantes. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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