O ministro Fernando Haddad (Finanças) afirmou nesta quinta-feira (13) que pediu ritmo de trabalho mais intenso na discussão da agenda de corte de gastos. Segundo ele, será criado um extenso cardápio de alternativas para acomodar os números da proposta de Orçamento para 2025.
A afirmação foi feita ao lado da ministra Simone Tebet (Planejamento) após reunião da equipe econômica na sede do Tesouro, enquanto o governo vive um cenário de esgotamento do apoio político às medidas de arrecadação de impostos.
As incertezas do mercado quanto à agenda de equilíbrio das contas públicas vinham deteriorando o ambiente financeiro nos últimos dias, inclusive com a desvalorização do real frente ao dólar.
“Começamos aqui discutindo 2025, a agenda de gastos. O que pedimos foi uma intensificação do trabalho, para que até ao final de junho possamos ter clareza sobre o Orçamento de 2025, estruturalmente bem montado, para dar tranquilidade na abordagem das questões fiscais do país”, afirmou o ministro.
O governo tem até 31 de agosto de cada ano para apresentar ao Congresso sua proposta de Orçamento para o ano seguinte. A equipa económica faz os cálculos enquanto tenta cumprir a meta traçada para 2025, de défice zero.
“Estamos nos esforçando muito para isso, fazendo uma revisão ampla, geral e irrestrita do que pode ser feito para acomodar as diversas intenções legítimas do Congresso, do Executivo, mas sobretudo para garantir que tenhamos tranquilidade no próximo ano ,” ele adicionou.
A equipa económica está a trabalhar na revisão das despesas com determinadas prestações de segurança social e a discutir a flexibilização das despesas mínimas com a saúde e a educação – que estão actualmente a crescer mais rapidamente do que outras despesas.
“Tudo o que pode ser feito de um lado ou de outro facilita as coisas. As despesas primárias têm de ser revistas, as despesas fiscais têm de ser revistas e as despesas financeiras do Banco Central também. Quanto mais essas três despesas caírem, melhor para o Brasil, desde que a população esteja sendo atendida com seus direitos fundamentais e haja investimentos para melhorar a produtividade da economia brasileira”, disse.
A agenda de rediscussão de gastos vem ganhando espaço no governo. Na véspera, Tebet defendeu em audiência no Congresso que os gastos com seguro-desemprego, abono salarial e BPC (Benefício de Prestação Continuada, pago a idosos ou deficientes necessitados) fossem revisados. Ela também pregou a análise dos benefícios previdenciários militares.
“Temos alguns trabalhos de casa agora sobre o lado das despesas. Se os planos A, B, C e D já estão se esgotando para não aumentar a carga tributária por conta da receita, na perspectiva das despesas temos o plano A, B, C, D e E, que está sendo formulado pela equipe no Ministério das Finanças e no Ministério do Plano e Orçamento”, disse Tebet esta quinta-feira.
Haddad ainda acrescentou que a obra ofereceria “o alfabeto inteiro”. Tebet respondeu brincando: “Não sei se é o alfabeto inteiro”. Tebet destacou ainda que a agenda de revisão de gastos da equipe econômica coincide com a avaliação do TCU (Tribunal de Cortinas da União) sobre as contas de 2023, que chamou a atenção para o desequilíbrio da Previdência e dos benefícios fiscais.
“O grande problema em relação aos gastos no Brasil são dois. Um, [crescimento] muito acentuadamente nas despesas com a segurança social. E a segunda em relação às despesas tributárias, ou seja, isenções. É interessante porque [a conclusão do TCU] está em linha com o nosso trabalho”, disse o ministro.
O debate fiscal se intensificou esta semana depois que o Congresso rejeitou uma MP (medida provisória) do governo que reduziria os créditos tributários e, portanto, aumentaria o pagamento de impostos pelas empresas. A devolução do texto pelos parlamentares deixou um vazio sobre qual medida compensará a isenção aprovada pelo Parlamento este ano e concedida a 17 setores da economia.
Agora, parlamentares e governo devem estudar juntos o que pode ser feito para cobrir o prejuízo. Segundo Haddad, todas as propostas sugeridas pelo Senado serão tramitadas pelo Ministério da Fazenda para receber uma análise do ganho fiscal. Até o momento, as medidas sugeridas pela Câmara são vistas como insuficientes.
“Acho que chegaremos a um denominador rapidamente. Vamos colocar algumas propostas na mesa a partir da próxima semana, mas principalmente recebê-las deles, para evitar atraso nisso”, disse Haddad.
PIS/Cofins
O ministro aproveitou para defender mais uma vez a medida rejeitada pelo Congresso nesta semana, que restringiria a utilização de créditos de PIS/Cofins. Segundo ele, o objetivo é evitar fraudes e uso indevido do instrumento, e não afetar o setor exportador —que reclamou da medida, mas, segundo Haddad, tem direito aos benefícios.
“Esse nunca foi o objetivo”, disse ele. “Mas, finalmente, criou-se a comoção e o presidente Pacheco achou melhor fazer uma pausa para discutir mais […]. Mas ele sabe que estamos tendo problemas com esse assunto. Esse é o trabalho diário da Receita Federal, localizando brechas que estão sendo mal utilizadas, o que corrompe até o sistema concorrencial”, afirmou.
Pouco depois de o Congresso ter rejeitado a medida, Haddad havia dito que voltaria a conversar com os parlamentares sobre a medida. “O que queremos na economia é que ganhem espaço no mercado os mais eficientes, e não os mais espertos, que se aproveitam de brechas ou de planejamento tributário indevido para fazer esse tipo de coisa”, disse esta quinta-feira.
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