As trabalhadoras ganham 20,7% menos que os homens, em 50.692 empresas com 100 ou mais funcionários no Brasil. As informações são de 2º Relatório de Transparência Salarial e Critérios de Remuneraçãoapresentado nesta quarta-feira (18), pelos ministérios da Mulher e do Trabalho e Emprego (MTE), em Brasília. O documento considera os dados informados pelos empregadores na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2023.
O 2.º Relatório de Transparência Salarial e Critérios de Remuneração aponta que houve um aumento na diferença salarial entre homens e mulheres, face ao primeiro relatório, divulgado em março deste ano, que apontava uma diferença salarial de 19,4%.
Segundo o Ministério da Mulher, o aumento é resultado dos novos empregos criados no ano passado – 369.050 mil novos cargos formais ocupados por homens e 316.751 mil ocupados por mulheres.
A Ministra da Mulher, Cida Gonçalves, destacou que a igualdade salarial entre homens e mulheres para trabalho igual é uma prioridade do atual governo federal e está sendo discutida em nível internacional, por exemplo, no âmbito do G20, sob a presidência rotativa do Brasil, em 2024, e também na Organização das Nações Unidas (ONU).
Cida Gonçalves lembrou ainda que as mulheres são chefes de família em metade dos domicílios brasileiros (50,8% segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese), mas ganham 20% menos que os homens pelo mesmo trabalho. “As mulheres não são apêndices, as mulheres não ficam nas esquinas e não são pessoas mimimi. As mulheres hoje são as trabalhadoras, as que apoiam e as que pensam.”
A ministra explicou que é preciso mudar a mentalidade de toda a sociedade em relação aos papéis estabelecidos para homens e mulheres, que muitas vezes se dedicam aos serviços domésticos e ao cuidado de outras pessoas. “Eles ainda acham que as mulheres [ganham] É um complemento ao salário dos homens. Não é. Precisamos convencer as empresas, os homens e o mundo inteiro de que hoje são as mulheres que sustentam as suas famílias. O desafio é colocar as mulheres no centro do debate.”
“Este país precisa de incluir as mulheres nos seus critérios de desenvolvimento económico, na indústria, no trabalho, na agricultura. As mulheres não são coitadas. Todos têm uma oportunidade, têm condições, se lhes forem dadas oportunidades”, declarou a Ministra da Mulher, Cida Gonçalves.
Dados do relatório
Para o 2º Relatório de Transparência Salarial e Critérios de Remuneração, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) analisou informações da RAIS 2023 de 18.044.542 contratos formais de trabalho, divididos em 10,8 milhões de homens e 7,2 milhões de mulheres.
No total, a soma dos rendimentos desses trabalhadores com carteira assinada analisada atingiu R$ 782,99 bilhões. O salário médio dessa população ocupada era de R$ 4.125,77.
O estudo revelou que, em empresas com 100 funcionários ou mais, os trabalhadores do sexo masculino ganhavam, em média, R$ 4.495,39, enquanto as mulheres recebiam R$ 3.565,48.
Se forem considerados apenas os trabalhadores negros, a diferença salarial aumenta. No geral, as mulheres negras ganharam R$ 2.745,26 no ano passado, o que equivalia à metade (50,2%) do salário dos homens não negros: R$ 5.464,29. No período, as mulheres não negras receberam, em média, R$ 4.249,71. O relatório constatou que 27,9% das empresas com 100 ou mais funcionários indicaram ter uma política de incentivo à contratação de mulheres negras.
Quanto aos cargos de direção e chefia, as mulheres recebem 27% menos que a remuneração dos homens. Quando se trata de profissionais de ensino superior, as mulheres ganham 31,2% menos que os homens.
Mais informações sobre empresas com 100 ou mais funcionários no Brasil em 2023:
· em 31% destes estabelecimentos (15.737), a diferença salarial entre mulheres e homens é de 5%;
· 53% dos estabelecimentos (26.873) não possuíam pelo menos três mulheres em cargos de chefia ou chefia na empresa para a realização do cálculo das diferenças salariais;
· 55,5% das entidades utilizaram planos de cargos e salários como critérios de remuneração;
· 63,8% dos estabelecimentos cumpriram metas de produção como critério de remuneração;
· 22,9% das entidades possuíam política de assistência creche;
· 20% das empresas tinham política de licença paternidade/maternidade estendida;
· 42,7% dos estabelecimentos (21.658) tinham entre 0% e 10% de funcionárias negras ou pardas;
· 8,2% dessas empresas tinham política de contratação de mulheres indígenas;
· 0,2% (85) dos estabelecimentos não possuíam mulheres formalmente empregadas em 2023.
A secretária executiva adjunta do Ministério do Trabalho e Emprego, Luciana Nakamura, observou que os relatórios de transparência salarial não expõem as empresas, nem os funcionários e seus respectivos salários.
Nakamura informou ainda que, desde 1943, a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) estabeleceu a igualdade de remuneração entre homens e mulheres pelo mesmo trabalho. Para ela, o novo Lei de igualdade salarial entre mulheres e homens suficiente para sensibilizar as empresas.
“A implementação da política é pedagógica e, aos poucos, todos vão entender. No final, pretendemos promover um ambiente de igualdade para as mulheres e, sobretudo, igualdade salarial”, estima a representante do MTE.
Dia Internacional da Igualdade Salarial
A segunda edição do Relatório sobre Transparência Salarial e Critérios de Remuneração foi lançada no Dia Internacional da Igualdade Salarial, instituído em 2019 pela ONU, com o objetivo de promover a igualdade de género no mundo do trabalho e chamar a atenção para a desigualdade salarial entre homens e mulheres.
A ONU alertou que, ao ritmo actual, serão necessários 300 anos para alcançar a igualdade de género no mundo. A Ministra da Mulher declarou que não é possível esperar para melhorar as condições de trabalho das mulheres.
Durante a apresentação do relatório, em Brasília, a representante da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres pelo Brasil, Ana Carolina Querino, lembrou que a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas é o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS da ONU) e que para alcançá-lo até 2030 é necessário acabar com todas as formas de discriminação contra as mulheres. “Precisamos combater a misoginia porque esta desigualdade salarial reflete a violência em todas as barreiras estruturais que as mulheres enfrentam para participar e ter oportunidades iguais na vida pública.”
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