Terminais portuários reportam prejuízos milionários, com redução de mais de 50% no volume de embarques
O setor portuário da região do Pantanal enfrenta perdas, devido à severa seca que ocorreu ao longo da Bacia do Rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul. Nos portos localizados em Porto Murtinho, Ladário e Corumbá, os embarques destinados à exportação já foram paralisados para este ano, apenas o transporte interno será mantido.
Como apurou o Correio Estadual Segundo fontes do sector, diversas situações agravadas pelo défice hídrico ocorreram em diferentes pontos do leito do rio, dificultando o transporte de minério de ferro, cereais e também combustíveis.
Porém, o transporte interno, que é realizado por embarcações de menor porte, ainda está ativo, porém, é necessário utilizar canais previamente determinados, tendo em vista que existem vários bancos de areia, colocando em risco a navegação.
O gerente de operações portuárias do Grupo FV, em Porto Murtinho, Marcelo Martins Oviedo, relata em entrevista ao Correio do Estado que as operações deste ano já foram encerradas. “Se pegarmos os números disponíveis no site do terminal portuário, com tarifa de US$ 7 por tonelada, em relação a 2023, deixamos de movimentar aproximadamente 1,496 milhão de toneladas”, revela.
Com um volume de 1,628 milhão de toneladas embarcadas no ano passado pelo terminal portuário do Itaum, Oviedo destaca que, este ano, o prejuízo é milionário. “Foram enviadas 131.973 mil toneladas. Movimentamos aproximadamente apenas 10% do total em relação a 2023”, detalha o gestor.
Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostram que, somente até o primeiro semestre deste ano, a movimentação do transporte aquaviário no trecho caiu 50% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram movimentadas 4,51 milhões de toneladas. pela principal bacia hidrográfica do Estado, resultando em queda de 2,28 milhões de toneladas transportadas.
NÍVEL
O nível atual do rio Paraguai é o mais alarmante já registrado desde o início do monitoramento. Segundo a régua do Ladário, administrada pela Marinha do Brasil e que serve de referência para avaliar as condições do rio, o nível estava em menos 30 centímetros na sexta-feira. Este é o número mais baixo registado nos últimos quatro anos.
Para efeito de comparação, no mesmo período do ano passado, o governante indicou que o nível estava a 3,46 metros de profundidade. Nos outros anos a situação também variou, mas sem atingir as condições deste ano, sendo 1,33 m em 2022; -0,06 cm em 2021; 0,38cm em 2020; 3 milhões em 2019; 3,98 m em 2018; e 3,67 m em 2017.
Em Porto Murtinho, em um mês, a régua caiu de 1,35 m para 0,84 cm. Com isso, a barragem da Usina Hidrelétrica de Manso, no Mato Grosso, continua liberando água na tentativa de amenizar a situação do rio Paraguai, que continua minguante, devido à longa seca e às chuvas abaixo da média.
“O que fica claro, pelos dados apresentados, é que a situação sinaliza um aumento do nível crítico. Teremos chuva apenas a partir de outubro, ainda abaixo do esperado. Isso já traz graves consequências para atividades econômicas importantes, como a agricultura e o transporte aquaviário, especialmente mineral, que está praticamente suspenso e com restrições para outros setores”, aponta a Secretária de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Jaime Verruck.
Vale ressaltar que a última seca histórica no rio Paraguai ocorreu em 1964, quando o nível atingiu 61 cm negativos, fato que, segundo especialistas, pode ser superado caso as condições climáticas persistam. O prognóstico foi observado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), devido ao monitoramento atual.
O pesquisador de geociências do SGB, Marcus Suassuna, acrescenta que prognósticos geram alertas.
“Mesmo que a quantidade média de chuvas do período chegue a setembro, o ano hidrológico [outubro de 2023 a setembro de 2024] acumulará menos chuvas do que em 2021, quando ocorreu a segunda pior seca da história e o rio atingiu a cota de -60 cm. Em 1964, o rio Paraguai atingiu a cota de -61 cm”, disse Suassuna.
Em média, a hidrovia é navegável durante sete ou oito meses por ano. Este ano, por conta da seca, o transporte de cargas ficou limitado a pouco mais de quatro meses – e mesmo assim, com meia carga.
EXPORTAÇÕES
Principal produto transportado pela hidrovia, o minério de ferro apresentou queda nas exportações de janeiro a agosto deste ano. Enquanto em 2023 foram enviadas ao mercado externo 4,5 milhões de toneladas (ou US$ 232 milhões), entre janeiro e agosto deste ano foram 3,008 milhões de toneladas (US$ 204 milhões).
A soja, principal produto da pauta exportadora do Estado, com 36,97% do total exportado, também sofreu queda, tanto no volume enviado ao exterior quanto nos valores negociados. No ano passado, foram negociados US$ 3,245 bilhões de janeiro a agosto, com volume de 6,283 milhões de toneladas, enquanto no mesmo período deste ano foram 5,915 milhões de toneladas e US$ 2,568 bilhões.
Devido à falta de chuvas desde outubro do ano passado, o rio Paraguai demorou a subir no início do ano e caiu abaixo de um metro no final de junho. Com isso, os volumes transportados pela hidrovia despencaram.
O volume total exportado teve um impacto ainda mais significativo (14%), sendo hoje de 15,551 milhões de toneladas contra 18,215 milhões de toneladas no ano passado.
DRAGAGEM
Ao mesmo tempo em que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) prepara a dragagem, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários desenvolve estudos para “privatizar” a hidrovia, tirando do Dnit a responsabilidade pela manutenção.
Após esta concessão, prevista para ocorrer até ao final do próximo ano, as empresas que transportam minerais, combustíveis, cereais e fertilizantes terão de pagar portagens. Os barcos que transportam turistas ficarão isentos dessa cobrança, segundo a Antaq.
Em meados de agosto, o governador Eduardo Riedel, acompanhado do comando da Antaq, visitou o Uruguai para acompanhar de perto os trabalhos de remanejamento, no país vizinho, do minério que desce pela hidrovia em pequenas barcaças para navios de maior porte.
A visita ocorreu em meio aos preparativos para a dragagem que, em tese, tornaria a hidrovia navegável o ano todo. Agora, esse cenário está descartado, pelo menos, nos próximos dois anos.
Após anunciar que não seriam necessários estudos de impacto ambiental para autorizar a dragagem do chamado Trecho Sul do Rio Paraguai, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recuou e agora impede o início das obras.
Segundo Joanice Lube Battilani, superintendente estadual do Ibama, ao final dos estudos durante a visita do presidente Lula a Corumbá, no dia 31 de julho, Rodrigo Antonio de Agostinho Mendonça, presidente do Ibama, informou ao secretário Jaime Verruck que não seria necessário realizar realizar os estudos de impacto ambiental.
Com base nessas informações, a superintendência estadual do Dnit, responsável pela hidrovia, já se preparava para iniciar as obras.
Segundo o Dnit, no trecho sul, entre Corumbá e Porto Murtinho, foram identificadas “18 etapas críticas e 15 etapas potencialmente críticas” que necessitam de intervenção. E a melhor época para fazer esse trabalho seria agora, no período de seca.
Porém, segundo Joanice, a equipe técnica do Ibama entendeu que, apesar da dragagem ser em uma hidrovia que existe há séculos, há necessidade de estudos de impacto ambiental mais aprofundados.
“A menos que as ordens venham de cima, da alta administração, envolvendo outros ministérios, o que vale agora é a decisão da Coordenadoria de Recursos Hídricos do Ibama, lá em Brasília. O Dnit terá que fazer esses estudos extensos e isso não deve sair em menos de dois anos”, explica Joanice. (Súzan Benites colaborou)
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