Depois de abandonar as lives semanais diante da baixa audiência e em mais um momento de queda de popularidade, o governo testa e avalia um novo modelo de transmissões ao vivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma das novidades analisadas pelo ministro Paulo Pimenta, que voltou na semana passada ao comando da Secretaria de Comunicação Social (Secom), é um formato em que o próprio chefe do Executivo conversa com a população, sem um apresentador mediando o contato com o público. .
O Palácio do Planalto vive um novo momento de tensão com a avaliação de Lula sobre a pesquisa do Ipec divulgada na semana passada. Após meses de números indicando recuperação, a nova pesquisa mostrou que o governo é considerado excelente ou bom por 35% dos brasileiros, ante 37% em julho, uma oscilação negativa dentro da margem de erro. O número de brasileiros que definem a gestão como ruim ou péssima cresceu no mesmo período de 31% para 35%. A classificação regular passou de 31% para 28%.
Mais do que isso, a crise provocada pelos incêndios que se espalharam pelo país surtiu efeitos. Em relação ao meio ambiente, 44% consideram que a gestão de Lula é ruim ou péssima nessa área, 11 pontos a mais que em abril. Além das queimadas, o período entre os dois levantamentos também foi marcado por enchentes no Rio Grande do Sul.
Diante dessa situação, Lula viajou ao Amazonas na semana passada na tentativa de mostrar a resposta do governo e já estreou um novo estilo de live. Em Campo Novo, para visitar comunidades isoladas pela seca na Amazônia, Lula parou na varanda de uma casa e conversou com uma família local ao lado de ministros, que também participaram da transmissão.
O modelo poderá ser repetido em novas viagens de Lula, principalmente quando o presidente estiver entregando obras ou anunciando melhorias. Uma das estratégias é tentar demonstrar que as intervenções impactam diretamente na vida das pessoas com quem Lula poderá conversar.
Esta é a segunda tentativa do Planalto de fazer lives com Lula. Na primeira vez, aconteceram no Palácio do Alvorada, com perguntas feitas pelo jornalista Marcos Uchôa. Com formato considerado rígido dentro do próprio governo e com pouca repercussão, o modelo acabou extinto. A última transmissão, em dezembro de 2023, teve 95 mil visualizações no YouTube. A última transmissão ao vivo do ex-presidente Jair Bolsonaro na mesma plataforma teve 2,5 milhões de visualizações desde janeiro de 2024, número 26 vezes maior
A iniciativa atenderia também a outro objetivo da Secom, que é ampliar a comunicação regionalizada e segmentada entre os públicos, com foco nas pessoas que são impactadas pelas melhorias do governo federal.
Há também uma avaliação que persiste desde o início do governo sobre a demora na resposta aos acontecimentos que afetam a gestão. A demissão de Silvio Almeida um dia depois de surgirem as acusações de assédio sexual, que ele nega, é citada como exceção recente de reação rápida, dentro de quase dois anos de exemplos no sentido contrário – um dos casos lembrados é a explosão dos casos de dengue.
No caso das queimadas, ainda não há no horizonte da Secom uma campanha específica para alertar a população sobre os focos de incêndio e os cuidados a serem tomados. Quem está ao redor do ministro afirma que esse tema será um dos que ele trabalhará a partir desta semana. Assessores consideram que a demora do governo em se posicionar sobre determinados temas abre portas para a disseminação de notícias falsas e desinformação. Na semana passada, a ministra Nísia Trindade (Saúde) convocou uma coletiva de imprensa para anunciar as ações da secretaria e orientar a população, mas os auxiliares de Lula entendem que mais iniciativas desse tipo deveriam ser realizadas também por outras secretarias.
A volta de Pimenta à Secom também deverá marcar o reforço do pedido aos ministros para que se esforcem ainda mais para serem porta-vozes do governo e para que cada um deles inclua em seu discurso a defesa do governo Lula em geral, e não apenas de suas áreas.
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