A ação foi movida pelos sindicatos rurais de Miranda e Aquidauana e atendeu ao pedido de 55 produtores rurais; a área refere-se à Terra Indígena Cachoeirinha, da comunidade Terena
A 2ª Vara Federal de Campo Grande retificou a decisão, acatou o pedido dos sindicatos rurais de Miranda e Aquidauana e determinou a suspensão da demarcação de terras na comunidade Terena da Terra Indígena Cachoeirinha, localizada em uma área de cerca de 60 mil hectares e que beneficia 55 produtores rurais da região.
De acordo com a decisão do juiz federal Pedro Pereira dos Santos proferida nesta segunda-feira, o magistrado retificou a decisão inicial e determinou a notificação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
“retifico a decisão inicial, concedendo aos réus União e Funai o prazo de cinco dias para se manifestarem sobre o pedido de tutela antecipada, fixando o mesmo prazo para o MPF [Ministério Público Federal]que deverá ser convocado para oficiar o caso, dados os interesses envolvidos”, afirmou o juiz em trecho da decisão.
A ação foi ajuizada em agosto deste ano e, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), a defesa utilizou em seus argumentos a lei aprovada pelo Congresso Nacional que estabeleceu o prazo para demarcações de terras.
“Tendo em vista os termos da Lei do Marco Temporal (14.701/2023), que convergem para reconhecer o direito à indenização pela terra descoberta aos produtores rurais, defendemos que não seria prudente continuar a demarcação sem primeiro avaliar também a terra descoberta terreno, no sentido de que a ordem judicial foi cumprida”, explicou o advogado da Famasul, Gustavo Passarelli, em nota da entidade.
“Os próprios produtores questionam a legalidade do processo de demarcação”, acrescentou Passarelli.
O presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, afirmou que, como está em vigor a lei que determina o prazo, ela deve ser respeitada.
“É preciso cumprir e respeitar o prazo, que é a lei em vigor, independentemente de quaisquer debates em curso. Vejo esta medida judicial como mais uma conquista em defesa dos direitos dos produtores rurais. Esse é o papel representativo que a Famasul desempenha”, afirmou o presidente da entidade.
LUTA JURÍDICA
O trecho da lei aprovado pelo Congresso Nacional que determina que o prazo seja utilizado nas demarcações, porém, foi vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por conflitar com decisão antagônica do Supremo Tribunal Federal (STF). ) proferida este ano .
Na decisão do STF, a tese do marco temporal foi rejeitada, porém, os ministros determinaram que os proprietários de boa-fé que tivessem suas propriedades consideradas como terras indígenas deveriam receber indenização pela terra descoberta, e não apenas pelas benfeitorias, como dizia a lei. lei anteriormente.
O Congresso, no entanto, anulou os vetos presidenciais. Por conta dessa briga, o STF iniciou a conciliação entre as duas partes no mês passado para tentar chegar a um consenso.
O ministro Gilmar Mendes, relator das cinco ações que pedem a inconstitucionalidade da lei, participa das reuniões. A última aconteceu na segunda-feira, e a próxima sessão será no dia 23.
TERRA INDÍGENA
O processo de demarcação da Terra Indígena Cachoeirinha já dura 42 anos, desde 1982. Os indígenas pedem a revisão dos limites de uma área de 2.660 hectares, delimitada pelo Marechal Cândido Rondon na primeira década de século XX, para uma área de 36.288 hectares e perímetro de 100 km.
Estudos antropológicos para identificação da área indígena já foram realizados e culminaram com a edição da Portaria nº 791/2007 do Ministério da Justiça, que estabeleceu os limites da Terra Indígena Cachoeirinha e confirmou a posse do grupo indígena Terena, determinando também a demarcação física, porém, desde 2007 nada mais foi feito.
Segundo a Famasul, 900 propriedades rurais no MS estão designadas como territórios indígenas pela Funai e estão sendo reivindicadas pelos povos originários.
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