Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas do DI fecharam nesta quinta-feira em alta firme, especialmente entre contratos de longo prazo, refletindo dados fortes do varejo brasileiro, preocupações com o equilíbrio fiscal do governo e o aumento dos rendimentos do Tesouro no exterior.
A movimentação entre os contratos de curto prazo refletiu leve aumento nas apostas no aumento de 50 pontos-base da taxa básica Selic na próxima semana, embora a curva a termo continue precificando, em sua maioria, um aumento de apenas 25 pontos-base.
No final da tarde, a taxa DI para outubro de 2024 – uma das mais líquidas atualmente, refletindo as apostas para o Copom deste mês – estava em 10,57%, ante 10,554% do reajuste anterior.
A taxa DI para janeiro de 2025 foi de 10,955%, ante 10,924% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2026 foi de 11,85%, ante 11,777%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 11,95%, ante 11,763%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 11,92%, ante 11,735%.
Pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que as vendas no varejo subiram 0,6% em julho em relação a junho, após queda de 0,9% em junho. Na comparação com igual mês do ano anterior, houve aumento de 4,4% nas vendas. Os percentuais ficaram acima das projeções dos economistas ouvidos pela Reuters, de alta de 0,5% na margem e de 4,2% no mês.
Os dados do varejo somaram-se aos fortes números do setor de serviços divulgados na véspera, numa indicação de que a economia brasileira continua forte, pressionando a inflação.
“Tivemos mais um dado do varejo, que saiu forte e acrescenta incerteza sobre a Selic na próxima semana”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Além disso, no exterior o PPI ficou um pouco acima do esperado, e a expectativa é de um corte menor – e não maior – nas taxas de juros por parte do Federal Reserve”, acrescentou.
Dados do Departamento do Trabalho mostraram que o índice de preços ao produtor (IPP) dos EUA aumentou 0,2% em agosto, após ficar estável em julho, em número revisado. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,1% no índice.
Apesar do aumento do IPP ligeiramente acima das expectativas, a percepção foi de que o indicador permanece consistente com a inflação baixa nos EUA, que manteve as apostas de que o Fed reduzirá as taxas de juros em 25 pontos base na próxima semana, e não em 50 pontos base. Neste cenário, os rendimentos do Tesouro avançaram, o que também sustentou a curva brasileira.
Um terceiro fator influenciou os negócios com DIs, especialmente na extremidade mais longa da curva: os temores em torno do equilíbrio fiscal do Brasil.
A Câmara dos Deputados concluiu a votação do projeto de lei que estabelece a transição para o fim da desoneração da folha de pagamento, com medidas compensatórias do benefício. Entre as medidas estão a atualização do valor dos imóveis com menor imposto sobre ganhos de capital, a utilização de depósitos judiciais e a repatriação de valores para o exterior, além da captação pelo Tesouro de recursos esquecidos pelos clientes nas instituições financeiras.
Apesar das medidas compensatórias, o mercado permaneceu cético quanto à capacidade do governo Lula de fazer ajustes fiscais.
“A leitura é que o governo não resolverá o problema fiscal. Se não houver possibilidade de uma solução estrutural, surgem estes “atractivos”. Tudo isso prejudica a questão fiscal, que pressiona picos mais longos”, disse Spiess.
Em meio às dificuldades para fechar as contas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu nesta quinta-feira a promessa de que até o final de seu governo será implementada a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais. Técnicos do Ministério da Fazenda, segundo o ministro Fernando Haddad, já trabalham em alguns cenários para a isenção.
Perto do fechamento, a curva brasileira precificou 89% de probabilidade de alta de 25 pontos-base na Selic e 11% de chance de alta de 50 pontos-base. Na quarta-feira os percentuais eram de 91% e 9%, respectivamente. A Selic está atualmente em 10,50% ao ano.
No exterior, os rendimentos continuaram a subir neste final de tarde. Às 16h32, o índice de referência global para decisões de investimento subia 3 pontos base, para 3,683%.
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