Os indígenas da etnia Tupinambá, no sul da Bahia, intensificaram nesta semana a pressão sobre o governo federal em busca de avanços no processo de demarcação de suas terras, que está paralisado há aproximadamente 15 anos. Cerca de 20 lideranças da comunidade tradicional cumpriram uma série de agendas em Brasília, com reuniões na Fundação Nacional do Índio (Funai), no Ministério dos Povos Indígenas (MPI), no Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), na Procuradoria-Geral Procuradoria-Geral da República (PGR), entre outros órgãos, para desbloquear a portaria declaratória, pendente de assinatura pelo menos desde 2009, altura em que foi emitido o relatório de identificação e delimitação.
Três anos depois, em 2012, todos os desafios à ocupação foram superados por pareceres jurídicos do próprio governo.
O grupo também realizou um evento na Praça dos Três Poderes, na última quarta-feira (12), contra a tese do chamado marco temporal, aprovado em lei pelo Congresso Nacional, mesmo depois de vetado pelo Presidente da República e considerado inconstitucional pelo o Tribunal Supremo. Tribunal Federal (STF), o que deverá invalidar o texto legal em novo julgamento.
De acordo com a legislação, a portaria declaratória deverá ser expedida pelo Ministro da Justiça. Esta é a segunda das cinco etapas formais do processo de demarcaçãoe ocorre após a elaboração do Relatório Detalhado de Identificação e Delimitação (RCID), produzido pela Funai, que apontou, no caso dos Tupinambá, a ocupação centenária da região.
“Não há mais impedimento legal para que a portaria declaratória seja assinada, porém, percebemos que há um problema político muito maior que tem dificultado a continuidade e a celeridade desse processo, por parte do governo”, afirma Jaborandy Tupinambá , coordenador do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoíba).
A Lei 14.701/2023, que estabeleceu o prazo, também não tem competência para impedir a continuidade da demarcação da Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, segundo assessoria jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma vez que o A tradicionalidade da ocupação indígena da área já foi reconhecida através do procedimento de identificação e delimitação territorial. “Os indígenas sempre ocuparam porções de terra em todo o território. Na verdade, as áreas foram cadastradas em nome de famílias pertencentes ao Povo. Essas famílias são conhecidas como ‘mourões’. Grupos familiares que nunca saíram do território e que a desapropriação se intensificou em meados do século passado não conseguiu afastá-los daquelas terras”, diz trecho de nota técnica elaborada pela entidade.
Proteção ameaçada
Localizada nos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, a Terra Indígena Tupinambá de Olivença possui cerca de 47,3 mil hectares, divididos em 23 comunidades, onde vivem cerca de 8 mil indígenas. O território ajuda a preservar uma parcela importante da Mata Atlântica original desta região da Bahia, mas, segundo seus ocupantes originais, é alvo histórico da ganância dos setores agrícolas.
“São cidades que foram construídas pelos coronéis do cacau, de uma época em que eram tudo, e continuam sendo os políticos, prefeitos, vereadores, juízes e delegados que julgam a nossa presença no território”, afirma Jaborandy Tupinambá.
Respostas
Procurado, o Ministério dos Povos Indígenas informou que “acompanha com interesse o desfecho e a definição da edição da Portaria Declaratória da TI Tupinambá de Olivença”. O ministério reconheceu que a demanda já dura 15 anos e destacou que somente a demarcação poderá pacificar os perigos dos conflitos fundiários na região.
“A situação das lideranças indígenas da TI Tupinambá é complexa e preocupante. Há um histórico de ameaças e violências, principalmente relacionadas à demarcação de suas terras. A TI foi identificada e delimitada pela Funai em 2009 e o processo de demarcação tramita na Justiça”, destacou o ministério.
O Ministério da Justiça, formalmente responsável pela publicação da portaria declaratória, não respondeu ao pedido de comentários do relatório, até à data.
A rapidez com que têm sido realizados os processos de reconhecimento de terras indígenas tem sido alvo de críticas do movimento indígena desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora a política de demarcação tenha sido retomada, com a aprovação de dez áreas desde 2023 – quase o mesmo número dos dez anos anteriores (11) –, a expectativa era que pelo menos 14 áreas, que dependem apenas do decreto presidencial, sejam já poderia ter sido oficializado. Essa foi a principal reivindicação durante a última edição do Acampamento Terra Livre (ATL), em abril, que reuniu 10 mil indígenas em Brasília.
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