Por Marta Nogueira
BELO HORIZONTE (Reuters) – A Vale (BVMF) espera que até 2030 cerca de 10% de sua produção seja obtida por meio do reaproveitamento de resíduos e resíduos, em medida com potencial para reduzir materiais que sobraram do processo de beneficiamento do minério, ainda acumulado em barragens.
A previsão é do vice-presidente executivo técnico da mineradora, Rafael Bittar, que falou à Reuters à margem do congresso do setor de mineração Exposibram, em Belo Horizonte.
Para 2024, a empresa prevê recuperar desta forma cerca de 7 milhões de toneladas de minério de ferro, através da criação de um programa de mineração circular.
Bittar não forneceu projeções de volumes de minério produzido a partir de rejeitos em 2030, mas devem aumentar nos próximos anos, considerando o aumento esperado na produção de minério de ferro.
A empresa, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, revisou para cima a projeção de produção da commodity em 2024 na véspera, para até 330 milhões de toneladas. A partir de 2030, a empresa espera mais de 360 milhões de toneladas de produção.
“Essa é uma realidade que virá com muita força, nós a antecipamos quando elaboramos o programa”, disse Bittar. “Esse programa visa reaproveitar rejeitos que já estão em nossas barragens, criando produtos a partir desses rejeitos.”
As iniciativas para reduzir os volumes de resíduos ganharam força após o rompimento fatal das barragens de Mariana e Brumadinho, em 2015 e 2019. As estruturas de maior risco também receberam prazos para serem desconstruídas no Brasil.
Agora, com o programa, fruto de investimentos em inovação, a Vale busca ampliar a extração de minério de pilhas e barragens existentes, otimizar o processamento mineral para reduzir a quantidade de resíduos e resíduos gerados e desenvolver coprodutos, como areia e blocos para uso civil. construção.
O processamento úmido do minério de ferro, hoje utilizado em menos de 30% da produção da Vale, gera resíduos, que são descartados em barragens e pilhas.
Só no ano passado, a Vale gerou 48,5 milhões de toneladas de resíduos.
RESULTADOS MEDIDOS
Bittar destacou que, embora práticas para melhor aproveitamento de recursos e redução de desperdícios já façam parte do dia a dia das minas operadas pela Vale, a criação do programa de mineração circular possibilitou mensurar os resultados de forma integrada.
“Temos centros de investigação que estudam rotas de concentração a seco, rotas que visam reduzir a quantidade de resíduos gerados, incluindo o desperdício zero. Hoje já temos um plano de médio e longo prazo, temos o objectivo do desperdício zero”, afirmou, sem fornecendo prazos.
No primeiro semestre, a empresa produziu cerca de 2 milhões de toneladas de minério de ferro utilizando a circularidade, além de evitar cerca de 100 milhões de reais em custos, ao eliminar etapas de transporte de resíduos para pilhas e barragens, no mesmo período. segundo dados da Vale.
Por meio das iniciativas do programa de mineração circular, a Vale deverá evitar a emissão de 1,9 Mt de CO2 até 2035. Isso equivale ao que 1,2 milhão de carros populares emitem durante um ano.
As iniciativas fazem parte dos resultados de um programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação, que só em 2023 totalizou investimentos de 447,8 milhões de dólares.
MARCOS ALCANÇADOS
Em Minas Gerais, a mineração circular está possibilitando a eliminação das pilhas de estéril da mina Serrinha, com o material sendo transportado para a fábrica de Mutuca, em Nova Lima, para reaproveitamento.
Na Serra Norte, no Pará, na operação Gelado, está previsto o reaproveitamento de 138 milhões de toneladas de rejeitos de minério de ferro da barragem de Gelado para a produção de pellet feed de alta qualidade. O objetivo do Gelado é reduzir 62% do total de resíduos descartados na barragem acumulado em 37 anos de operação.
Bittar destacou ainda que o programa também se beneficia da criação de coprodutos, que têm potencial para gerar uma nova destinação para subprodutos, como areia em blocos de pavimentação e areia comercial para construção civil.
No ano passado, a Vale anunciou a criação de uma empresa chamada Agera, para desenvolver e expandir o negócio de Areia Sustentável da empresa.
Após sete anos de pesquisas, o coproduto começou a ser produzido em 2021 como substituto da areia extraída do meio ambiente e, desde então, cerca de 2,1 milhões de toneladas de areia foram destinadas ao setor de construção civil e projetos de pavimentação rodoviária. sustentável.
A expectativa é vender aproximadamente 1,8 milhão de toneladas de areia sustentável até o final de 2024, segundo a empresa.
“O segundo insumo mais consumido no mundo é a areia, depois da água. E mais de 80% da areia consumida hoje no Brasil vem de fontes não regulamentadas”, destacou Bittar.
(Por Marta Nogueira)
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