Diagnóstico analisado na sexta também mostrou que as chuvas permanecerão abaixo da média histórica até novembro
A seca histórica no rio Paraguai em 1964, quando o nível atingiu 61 centímetros negativos, tem condições de ser superada este ano, 60 anos depois. O prognóstico foi observado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), devido ao monitoramento constante que é realizado.
Em evento ordinário da Agência Nacional de Águas (ANA), na quinta reunião da Sala de Crise da Bacia do Alto Paraguai, no Pantanal, realizada nesta sexta-feira, a severidade da seca é prolongada e não há horizonte de curto prazo para acabar isto.
Desde que a seca começou a ser registrada no Pantanal, em 2019, o atual nível do rio Paraguai é o mais crítico. A régua Ladário, administrada pela Marinha do Brasil e referência para identificação das condições do rio, indicou, no dia 6, que o nível estava em menos 25 cm. Nenhum número semelhante foi alcançado nos últimos quatro anos.
Na mesma data do ano passado, o nível era de 3,65 m. Nos outros anos a situação também variou, mas sem atingir as condições deste ano: 1,56 m em 2022; 0,08 cm em 2021; 0,58cm em 2020; e 3,18 cm em 2019.
A precipitação está abaixo da média na região do Pantanal, como resultado, os níveis dos rios na Bacia do Rio Paraguai continuam a diminuir acentuadamente.
Além da régua do Ladário, existem outras áreas monitoradas. Em todas as estações monitoradas pelo SGB, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as cotas estão abaixo do esperado para o período.
O pesquisador de geociências do SGB, Marcus Suassuna, indicou que prognósticos geram alerta.
“Mesmo que a quantidade média de chuvas do período chegue a setembro, o ano hidrológico [outubro de 2023 a setembro de 2024] acumulará menos chuvas do que em 2021, quando ocorreu a segunda pior seca da história e o rio atingiu a cota de -60 cm. Em 1964, o rio Paraguai atingiu a cota de -61 cm”, disse Suassuna.
Ao longo do rio Paraguai, outras regiões continuam apresentando baixas elevações. Na estação Forte Coimbra, no município de Corumbá, o nível era de -1,50 m no dia 6 de setembro – a média é de 3,66 m. Nesta região a navegação é importante, devido ao porto próximo que transporta minério de ferro.
A SGB indicou ainda que nos municípios mato-grossenses o cenário é grave. Em Cáceres, região nascente do Rio Paraguai, o nível identificado foi de 0,38 cm, quando a média é de 1,61 m.
“É importante destacar que as cotas indicadas nos gráficos e tabelas são valores associados a uma referência local e arbitrária, válida para as réguas linimétricas específicas de cada estação”, detalhou nota do órgão federal.
Condições críticas já haviam sido alertadas pelo SGB desde fevereiro. O déficit pluviométrico começou a ser observado no início do ano. Sem chuvas e com baixo nível do rio Paraguai, um dos impactos é em relação ao abastecimento de água para as cidades de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho, que dependem inteiramente da captação do rio. Para estas regiões já existe um plano de contingência que está a ser implementado pela concessionária Sanesul.
PREVISÃO E ANOMALIAS
Durante a quinta reunião da Sala de Crise da Bacia do Alto Paraguai, no Pantanal, realizada nesta sexta-feira, técnicos indicaram a anomalia de alta temperatura para Mato Grosso do Sul para as próximas semanas.
Nesse cenário, há aumento da evaporação do rio, além de facilitar a propagação de incêndios florestais.
Entre o início deste mês e 4 de outubro não há indicação de chuvas registradas para o território.
Em relação ao próximo trimestre, que poderá marcar o início da estação chuvosa, as previsões não são boas. O diagnóstico feito é de chuvas abaixo da média em grande parte do Brasil, incluindo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ou seja, a situação crítica poderá piorar nos próximos meses.
CAMPO GRANDE
Assim como o rio Paraguai, a capital do estado, Campo Grande, vive o ano mais seco em décadas.
Dados disponíveis no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que, desde 2015, as precipitações acumuladas até agosto deste ano são as menores do período. Em oito meses choveu apenas 418,6 milímetros na Capital.
Por outro lado, dados do Centro de Monitoramento de Tempo e Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS) mostram que não chove tão pouco na cidade desde 2002.
Descobrir
Em maio deste ano, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) aprovou – pela primeira vez na história – a Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos na Região Hidrográfica do Paraguai.
A resolução vigora até 31 de outubro deste ano, fim do período normal de seca na Bacia do Paraguai, principal bacia do Pantanal.
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