O que uma Bolívia e uma Venezuela inusitadas, em El Alto, a mais de 4 mil metros de altitude, podem oferecer ao torcedor brasileiro? Para alguns, o jogo da última sexta-feira teve personagens familiares.
Do lado venezuelano, São Paulo Ferraresi e Corinthians José Martínez. Ao longo da partida, o gremista Soteldo e Kervin Andrade, do Fortaleza, saíram do banco para tentar evitar a derrota. Em vão.
Os bolivianos começaram com Haquín, da Ponte Preta. Mas o destaque foi a dupla santista Miguelito Terceros e Enzo Montero, que entrou e marcou dois gols na vitória por 4 a 0.
O jogo não foi o único da semana passada, pelas Eliminatórias, a levar a campo atletas de clubes brasileiros. Simboliza a situação atual do mercado sul-americano e a posição do Brasil como principal fornecedor de jogadores para as seleções do continente.
Para as duas rodadas das Eliminatórias realizadas na atual data Fifa, foram convocados 43 atletas que atuam no Brasil. Nenhum outro país cedeu tantos jogadores. A Inglaterra, que tem a liga mais rica do mundo, aparece em segundo lugar, com 30. A Argentina completa este top-3, com 25.
Dos 43, oito estão servindo a própria Seleção Brasileira. Os 35 restantes são estrangeiros distribuídos entre outros oito. Os salários mais elevados em relação ao resto do continente elevam o Campeonato Brasileiro ao status de “Premier League Sul-Americana”. Esta Data Fifa ainda conta com mais três atletas de seleções brasileiras convocados para seleções de outros continentes. São eles o angolano Bastos, do Botafogo; o costarriquenho Joel Campbell, do Atlético-GO; e o norte-irlandês Jamal Lewis, de São Paulo.
O início da temporada europeia, com os jogadores ainda recém-chegados de férias, poderia justificar o número significativo de atletas atuando no Brasil. Mas a última Copa América, disputada entre junho e julho nos Estados Unidos, mostra que o fenômeno não é isolado. Do total de jogadores das 16 equipes participantes, 37 jogaram por clubes da Série A. É o mesmo número de jogadores convocados da Premier League original e quatro a menos que da MLS, a liga norte-americana.
— É importante para nós, é importante para o Brasil ver que temos aqui um grande campeonato e grandes jogadores. Se você pensar bem, a maioria dos jogadores que atuam em outros países são do Brasileirão. Temos que valorizar o nosso campeonato, que é muito importante — destacou o meia Gerson, do Flamengo, em entrevista durante a semana à Seleção Brasileira.
Os clubes da Série A não são os únicos a fornecer jogadores para a atual rodada das Eliminatórias. Na B, o Santos tem cinco jogadores e a Ponte Preta um.
130 estrangeiros
Nos últimos anos, os clubes aumentaram o limite de estrangeiros em campo, atualmente nove. Na última janela de transferências internacionais reforçaram esse movimento de internacionalização do futebol brasileiro. Entre chegadas e saídas, o número de “gringos” na Série A aumentou de 123 para 130. Entre as nacionalidades, os argentinos lideram, com 45 representantes. Ironicamente, único time do continente que não convocou nenhum atleta de clube brasileiro.
Nem todos os impactos desta tendência, porém, deixam os fãs satisfeitos. Cada vez mais, as convocações têm sido vistas como obstáculos para as suas próprias equipes. O intervalo dos Dados Fifa é justamente o momento para os jogadores se recuperarem do excesso de jogos e terem um raro período de treinos. Uma vez ao serviço das suas seleções, perdem este momento.
Mesmo que tenha sido apenas lamentável, a lesão de Pedro, do Flamengo, acabou contribuindo para essa rejeição. O atacante rompeu o ligamento do joelho esquerdo durante um treino com a seleção nacional e perdeu o resto da temporada.
— Ser convocado para a seleção do seu país é sempre uma honra. Acho que os clubes deveriam ver assim, como um reconhecimento ao trabalho do jogador e também ao clube que emprega aquele atleta e tem um ativo que fica exposto positivamente nos jogos de seleções — argumenta Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, que, além de O venezuelano Kervin Andrade, tem o chileno Kuscevic em ação nesta Data FIFA.
Calendário é um vilão
É claro que as seleções nacionais não são responsáveis por este problema. Mas, sim, da CBF e dos clubes. Afinal, o problema é o calendário inchado que ainda precisa dividir espaço com as Datas Fifa. Um sintoma disso é o fato de os torneios locais retornarem um dia após o período de jogos da seleção nacional.
— A questão do calendário é uma discussão mais aprofundada e debatida constantemente com a CBF. Mas é importante que o torcedor saiba que um jogador do Inter defendendo sua nação será sempre positivo para todas as partes — afirma André Mazzuco, diretor-executivo do Internacional, que transferiu para seus times o equatoriano Enner Valencia, o uruguaio Rochet e o colombiano Rafael Borré. .
Na próxima quarta-feira, por exemplo, a Copa do Brasil terá Corinthians x Juventude e Athletico x Vasco. Com exceção dos gaúchos, todos os demais possuem jogadores que atuam em uma seleção nacional.
— Claro que é muito ruim para o clube quando o atleta não consegue voltar a tempo para os jogos. Sem dúvida há uma perda — admite Paz, que acrescenta. —Depois vem o tema do calendário, que sem dúvida precisa ser discutido e aprimorado. Volto a dizer o que já disse outras vezes: no futebol brasileiro, os times mais afetados são os que participam de competições sul-americanas. Assim, deverão ter um calendário mais flexível nos estados e já entrar pelo menos na terceira fase da Copa do Brasil.
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