Uma família indonésia tira uma foto com um parente vestido com uniforme escolar. Mais tarde, eles vestem outro parente com uma camisa branca. Ambos estão mortos e seus corpos foram retirados dos túmulos para um ritual em sua homenagem.
Na ilha de Sulawesi, no norte da Indonésia, há várias semanas que se celebra a “Manene”, cerimónia do povo Toraja que consiste em retirar os restos mortais de familiares das suas sepulturas para os homenagear.
“Todos os grupos familiares se reúnem, todos vêm ver se seus pais, avós, seus parentes” estão nos túmulos, chamados de “patane”, disse à AFP Yuliana Kombong Palino, 51 anos, da aldeia de Kapala Pitu.
“Nós nos reunimos, trabalhamos juntos, limpamos [os corpos] e trocamos de roupa”, diz ela.
Os caixões com os corpos são retirados de uma caverna na encosta da montanha.
Após a cerimônia, os restos mortais são recolocados no lugar e as sepulturas fechadas até o próximo ritual.
Alguns corpos permaneceram relativamente intactos durante o processo de mumificação, enquanto outros são meros esqueletos.
Um vínculo forte
A cerimónia é praticada regularmente pelos Toraja, um grupo étnico de quase um milhão de pessoas que vive na ilha de Sulawesi.
Os Toraja acreditam que os espíritos dos mortos permanecem no mundo dos vivos até o funeral, que geralmente é uma grande cerimônia, e então iniciam sua jornada para a terra dos espíritos.
“O povo Toraja sempre se lembra dos seus antepassados, mesmo depois da sua morte. O vínculo é forte”, explica Samuel Matasak, residente de Benteng Mamullu.
O “Manene” costuma ocorrer a cada dois anos, após a colheita do arroz, em agosto ou setembro, diz Samuel.
No entanto, é a primeira vez em 40 anos que tal ritual é organizado em duas aldeias da nação de Toraja, no norte, Kapala Pitu e Benteng Mamullu, disseram residentes locais à AFP.
No passado, os restos mortais humanos eram mumificados através de um processo natural de embalsamamento que utilizava produtos como vinagre e folhas de chá. Hoje em dia, porém, muitas famílias injetam uma solução de formaldeído nos corpos para preservá-los.
A visão de cadáveres pode ser chocante para os turistas ocidentais, mas para os habitantes locais o ritual demonstra o carinho que sentem pelos seus entes queridos falecidos.
“Quando fazemos Manene, para mim pessoalmente é uma alegria poder representar ou expressar nosso amor pelos nossos pais falecidos, nossas avós, nossos filhos, nossos entes queridos”, enfatiza Yuliana.
“Pode haver coisas que não tivemos a oportunidade de fazer quando eles estavam vivos. Agora podemos fazê-los”, acrescenta ela.
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