Também conhecidas como “apostas”, as casas de apostas esportivas têm causado preocupação entre os empresários do varejo brasileiro, já que entidades do setor se movimentam para buscar restrições a essa prática no Congresso Nacional, em Brasília, e apoio do Executivo sobre o tema.
Embora ainda não haja um número preciso sobre o quanto o crescimento desses jogos afeta o consumo de alimentos e outros itens comercializados, o movimento crescente é preocupante.
Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, disse que não vê, no curto prazo, impacto dos gastos dos brasileiros em apostas nas chamadas “apostas” nas vendas no varejo. Porém, ele entende que esse gasto cresce “exponencialmente” no país e, por isso, o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) levou recentemente o assunto ao vice-presidente Geraldo Alckmin.
Enquanto o IDV avança nas pesquisas e inicia diálogos com autoridades, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) já indicou caminhos mais específicos.
O vice-presidente institucional da associação, Marcio Milan, disse que a instituição se uniu a empresas como a Unilever no apoio a uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe a publicidade de casas de apostas, as chamadas ‘apostas’. O deputado federal cearense Luiz Gastão (PSD) é quem vem coletando assinaturas para protocolar a proposta
A Abras afirmou ainda que tem aconselhado “de forma clara e ética” as empresas do setor do retalho alimentar a serem “rigorosas na seleção de agências de marketing e influenciadores”. Então um critério fundamental na escolha é o fato desses profissionais não terem nenhuma associação com jogos de azar.
Milan afirmou que ainda não há números que liguem diretamente o menor consumo nos supermercados e o crescimento dos gastos com apostas, mas que a Abras vem buscando mais dados sobre o assunto. Para ele, o tema deve ganhar mais clareza nos próximos meses.
Estudos em andamento
As pesquisas sobre o tema até o momento indicam o crescimento das apostas dos brasileiros no orçamento familiar e estimam impactos no consumo, embora ainda não haja dados conclusivos.
Estudo do Instituto Locomotiva indica que nas classes C, D e E, parte do dinheiro que antes era direcionado para poupança (segundo 52% dos entrevistados) ou bares, restaurantes e delivery (para 48% dos entrevistados) agora é usado para apostas.
As compras de roupas e acessórios (segundo 43% dos entrevistados) e de cinemas, teatros e shows (segundo 41% dos entrevistados) também perderam recursos para apostas.
Um estudo da PWC, por sua vez, mostrou que com crescimento de 89% ao ano entre 2020 e 2024, estima-se um desembolso de R$ 40 a R$ 50 bilhões em 2023 com apostas esportivas.
Segundo o estudo, as apostas já representam 1,38% do orçamento familiar nas classes D e E, contra 0,27% em 2018.
No orçamento familiar médio representavam 0,73% em 2023, número que corresponde a 4,9% do que se gasta com alimentação (enquanto esta proporção era de 1,5% em 2018).
Dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) em parceria com a AGP Research mostram que 63% dos entrevistados afirmaram que sua renda foi comprometida pelo hábito de apostar, principalmente em jogos online:
- 23% pararam de comprar roupas,
- 19% deixaram de ir ao supermercado e
- 11% pararam de gastar com saúde e medicamentos.
“Ainda não temos um número preciso de quanto o gasto com apostas reduz o consumo. Esse é um dos pontos que vamos aprofundar no IDV. Queremos ter dados robustos como os que apresentamos para falar sobre o necessidade de igualdade fiscal com as importações transfronteiriças”, afirma o presidente do IDV, Jorge Gonçalves.
Para ele, é claro que o aumento dos gastos com apostas afeta o consumo, mas o instituto também deve apontar questões ligadas à saúde pública, à segurança alimentar e ao acesso ao crédito.
Jorge afirma ainda que a instituição deve estudar questões tributárias, pois as casas de apostas esportivas online são taxadas em torno de 12%, enquanto produtos que podem causar dependência, como bebidas alcoólicas, têm alíquotas de até 60%.
Para o diretor da Strategy& (consultoria estratégica da PwC), Mauro Toledo, apesar de não haver um número claro sobre o impacto das apostas no consumo, a realidade é que o consumidor não tem uma carteira para cada despesa. “Se ele gasta mais em uma categoria, tira de outra.
As apostas esportivas são um desenvolvimento recente no Brasil, que vem crescendo muito rapidamente e já representa uma parcela relevante dos gastos das famílias (especialmente as de baixa renda).
É difícil dizer quais trocas cada família faz, mas é bastante claro que a troca está ocorrendo até certo ponto – seja pelos números ou pelas declarações dos próprios consumidores”, afirma.
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