Cotado para ser indicado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para sua sucessão no comando da Casa, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) despontou nas últimas horas como um nome forte no a disputa, numa reviravolta no jogo político que está confuso desde o início do ano.
Parlamentar em quarto mandato e médico de formação, atualmente é líder do Republicanos e ex-aliado de Lira.
Motta já era visto como um potencial candidato, pelo bom relacionamento com deputados de diversos partidos, mas entrou para valer na disputa depois que o presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira, desistiu do esforço na tentativa de construir um consenso candidatura.
A manobra de Pereira acertou em cheio nas intenções de Elmar Nascimento (União-BA), que segue na disputa, mas com caminho mais estreito.
O líder do Sindicato é visto na Câmara como alguém que tem mais dificuldade em atrair apoios, pois uma parcela dos deputados o considera pouco acessível. Além disso, também não teria a simpatia irrestrita da base governista, pois tinha histórico de oposição à esquerda.
Hugo Motta, por sua vez, surge como um nome capaz de agradar as diversas alas do Congresso e até do governo federal, apesar de seu histórico de atuação no Congresso. Em 2016, por exemplo, votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Na época, o deputado fazia parte da “tropa de choque” do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, descontente com petistas e responsável por iniciar o processo de impeachment do ex-presidente.
Como mostrou O Globo, um assessor de Cunha foi o verdadeiro autor de um pedido em que Motta pedia informações ao então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
Aliança com o governo Temer
Motta também não esteve na sessão em que Cunha sofreu impeachment. A ausência, na época, foi uma estratégia adotada pelos deputados que não quiseram contribuir com o quórum da sessão e ao mesmo tempo evitar críticas da opinião pública por terem votado a favor do deputado, que estava desgastado.
Em 2016, quando ambos estavam no MDB, Motta foi o nome de Cunha na disputa pela liderança do partido, que teve Leonardo Picciani como vencedor na época.
Após a saída de Dilma, Motta ingressou no governo Michel Temer, votando contra o pedido de abertura de investigação que afetava o emedebista e a favor de pautas caras à gestão, como a PEC do Teto de Gastos e a reforma trabalhista de 2017, ambas criticadas pelo PT membros até hoje.
Em 2015, o parlamentar presidiu a CPI da Petrobras, e criticou no documento final a atuação da força-tarefa da Lava-Jato e o “excesso” de acordos de delação premiada. O relatório foi enviado ao então juiz Sergio Moro, que liderou as ações da Lava-Jato.
A CPI foi criada para investigar supostos atos ilegais e irregulares da Petrobras, como o superfaturamento. O relatório final foi criticado por não trazer novos elementos à investigação. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi o único político indiciado.
Posição “independente”
Com a chegada de Bolsonaro à presidência da República, Motta voltou a adotar uma postura contrária à agenda petista. Seu nome consta da lista de parlamentares que votaram a favor do projeto que abre caminho para a privatização dos Correios, além de ter presidido a Comissão de Privatização da Eletrobras.
Durante o governo Lula, ele se declarou “independente” e criticou a inelegibilidade de Bolsonaro declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Em sua atuação na Câmara, Motta foi relator, por exemplo, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do “Orçamento de Guerra”, voltada aos gastos emergenciais do governo durante a pandemia.
O texto separou os recursos destinados ao combate à Covid-19 do Orçamento Geral da União, flexibilizando as regras fiscais. Também foi relator da Medida Provisória que permitiu a renegociação de dívidas estudantis com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
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