O amor é rápido? Sádico? Às vezes trágico? Mágico? Para a banda mineira Jota Quest, “o amor pode ser o que quiser”. É em busca de respostas sobre o que é o amor e, mais ainda, sobre o que é o próprio Jota Quest que o grupo lança o volume 2 de De Volta ao Novo, primeiro álbum inédito depois de oito anos.
A segunda parte do álbum chega em um momento interessante para a banda: em plena temporada de shows pelo Brasil, inclusive alguns em estádios – o grupo subiu ao palco do Allianz Parque para encerrar a turnê JOTA 25, em junho. No final deste mês, Rogério Flausino ainda participará do tão aguardado Dia do Brasil para comemorar os 40 anos do Rock in Rio.
Com tanta história, o volume 2 de De Volta ao Novo soa como uma “síntese” do grupo. Afinal, o que a banda representa para a música brasileira? Quem é Jota Quest, por exemplo, entre o legado dos Titãs e as novidades do início do milênio em Fresno?
As dúvidas são respondidas com Eu Queria Ser (Música para Rita Lee), parceria com o titã Sérgio Britto, e Amantes da Sétima Arte (Replay), feita com Lucas Silveira, de Fresno. O tom é o mesmo do volume 1, que traz músicas compostas por Vitor Kley e Hebert Vianna, e o lançamento acrescenta 9 faixas inéditas ao De Volta ao Novo. Há também outros cinco registrados durante a pandemia. No total, são 23 músicas.
O intervalo entre o lançamento dos dois volumes foi de quase um ano devido a questões contratuais relativas a um DVD lançado pela banda entretanto. “Não era para demorar tanto”, detalha Rogério Flausino em conversa com o Estadão.
O vocalista e tecladista Márcio Buzelin recebeu a equipe de reportagem em um escritório na zona oeste de São Paulo para avaliar o legado da banda e os próximos passos. Acima de tudo, Jota Quest, como canta na música título do álbum, está “em paz com o futuro”.
O amor é mágico
Das 23 músicas da versão deluxe de De Volta ao Novo, a grande maioria aborda um tema comum: o amor. Um assunto que já é onipresente nas letras do Jota Quest. Alguns podem até torcer o nariz e achar a agenda “supérflua”, mas, para o grupo, continuar falando de amor “é um caminho que faz parte da personalidade da banda”.
“É o DNA do Jota Quest”, comenta Márcio Buzelin. O “amor” nas músicas do grupo, explica ele, “é muito mais amplo do que o amor entre um casal”. “[Você] pode ser interpretado de diferentes maneiras”, diz
O tema logo aparece na faixa que abre o volume 2: Love is Magic (citada no primeiro parágrafo do texto). Mais uma vez a banda se vê “de volta ao novo” com a música: ela, na verdade, é uma versão de um hit da dupla portuguesa Expensive Soul. A “novidade” vem com o rap mineiro da FBC.
A música original fala das origens do Jota Quest, que foi fortemente influenciado pela música negra, como R&B e disco. “Havia uma ligação. Quando começamos, tínhamos dois b-boys que dançavam break”, lembra o tecladista.
Canção para Rita Lee
No volume 2, outro título de uma das músicas inéditas chama imediatamente a atenção: Eu Queria Ser. É a primeira composição do grupo feita em parceria com Sérgio Britto, terceiro titã a trabalhar com Jota Quest. O Volume 1 já tinha uma certa ligação com a banda paulista: Nando Reis havia colaborado com Só o Amor Liberta e Rick Bonadio, com quem os Titãs já haviam trabalhado, produziu o disco.
A escolha de envolver outro grande nome da música brasileira, Rita Lee, no novo álbum veio um pouco por acaso. “[No estúdio]começamos a conversar com ele [Brito] sobre um álbum dele que tem uma música com Rita Lee [Purabossanova]. Eu disse que amava Rita Lee e ele disse: ‘Eu também amo Rita Lee’. E continuamos falando dela”, narra Flausino.
Um dia após a conversa, a letra original do guitarrista do grupo, Marco Túlio Lara, recebeu uma mudança especial: o verso “Eu queria ser uma música do Roberto Carlos” virou “Eu queria ser uma música da Rita Lee”. “Rita tinha acabado de partir para um lugar muito melhor. […] É uma forma de homenageá-la e ter conosco mais um grande cara do nosso rock nacional”, afirma o vocalista.
Continua…
O volume 2 do álbum chega cheio de interlúdios – são três no total. Não foram incluídos por acaso e o título do último, To Be Continued… (Continua…, em português), é bastante autoexplicativo: os trechos mostram o que ainda está por vir.
“O ‘continuar’ é porque continuamos e, daqui a pouco, virá outro álbum”, diz Flausino. “Esses interlúdios são as músicas que não terminamos e que poderiam estar no álbum. Quem sabe não estarão no próximo”, detalha Buzelin.
O fato de De Volta ao Novo ter chegado na hora do streaming, para a banda, teve pouca influência na essência do álbum. Afinal, as músicas do Jota Quest já saíram em discos de vinil, CDs e mp3s. “Passamos por várias fases. Mesmo quando a música era um produto. Agora é um serviço”, diz Buzelin.
De Volta ao Novo e os demais discos da banda não são lançados apenas com base em estudos mercadológicos: chegam segundo a satisfação de Flausino, Buzelin, Marco Túlio, PJ e Paulinho Fonseca. “As coisas estão mudando, o mundo está mudando e sempre temos vontade de aprender com tudo isso para podermos manter a banda do jeito que sempre sonhamos”, afirma o tecladista.
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