José Vicente Haro, advogado de Edmundo González Urrutia disse à La W Radio que o candidato adversário, que na segunda-feira se tornou objeto de mandado de prisão depois de ignorar três intimações para depor, “ele tem que ir de casa em casa para proteger sua vida” em Venezuela. Fontes em Caracas afirmaram que o candidato presidencial está escondido numa embaixada mas, segundo fontes do governo brasileiro, não está na missão brasileira. As opções entre os países latino-americanos são poucas, já que após as eleições presidenciais a Venezuela rompeu relações com vários dos seus vizinhos da região. Analistas e jornalistas venezuelanos especulam que o candidato adversário possa estar numa embaixada europeia.
A oposição nomeia González como vencedor das eleições com base em cópias de atas às quais disse ter acesso e publicadas em um site, mas o chavismo descreve o material como forjado. O candidato é acusado de usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, instigação à desobediência às leis, formação de quadrilha, “sabotagem de danos a sistemas (sic)” e associação no pedido de prisão apresentado pelo promotor Luis Ernesto Dueñez, responsável pela 58ª. Ministério Público Nacional, ao Primeiro Juizado Especial de Primeira Instância, com jurisdição sobre casos de terrorismo.
Para as autoridades brasileiras, a ordem de prisão emitida pelo Ministério Público venezuelano contra González “fecha a janela de oportunidade de negociação” entre o regime liderado por Nicolás Maduro e a oposição, avaliando que a situação política no país é “grave”. Um comunicado do Brasil está previsto para esta terça-feira, provavelmente por meio do Itamaraty.
Permanecer em silêncio, comentou uma das fontes consultadas, “não é uma opção, já que somos observadores do Acordo de Barbados (selado em novembro do ano passado entre Maduro e um setor da oposição)”. A ideia é escrever um texto que “se atenha à dimensão política” da situação, “sem entrar no mérito da decisão judicial”.
Nos momentos em que o governo brasileiro defende as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) em sua disputa com o magnata Elon Muskopinar sobre uma decisão do Poder Judiciário de outro país é visto como “perigoso”. A declaração deve, portanto, centrar-se na sinalização política negativa que ordenar a detenção de um candidato presidencial representa no actual contexto político venezuelano, em que grande parte da comunidade internacional não reconheceu o resultado das eleições de 28 de Julho divulgado pelo Conselho Eleitoral Nacional. Conselho (CNE) e ratificado pelo Supremo Tribunal de Justiça do país.
Sem comunicação
Depois de mais de um mês de esforços para buscar a abertura de um espaço que possibilitasse uma possível mediação entre os governos do Brasil e da Colômbia entre Maduro e a oposição liderada por María Corina Machado, a notícia da ordem de prisão contra González aprofundou um clima de enorme preocupação no governo Lula. O Brasil acompanha de perto a intensificação da repressão por parte do regime venezuelano e, acrescentou uma das fontes consultadas, vê a comunicação entre Lula e Maduro como “muito difícil” num futuro próximo. “Não está no radar”, destacou uma das fontes.
O presidente venezuelano, comentou outra fonte, “não está disposto a ouvir”. Noutros tempos, o Brasil teve influência na Venezuela e acesso privilegiado ao ex-presidente Hugo Chávez, algo que os responsáveis do actual governo Lula lembram frequentemente. A situação actual confirma que esta influência é actualmente mínima. “Chávez ouviu, Maduro não escuta”, sublinhou uma das fontes.
Brasil e Colômbia continuam em contato fluente para falar sobre a crise venezuelana, especialmente por meio de seus escritórios de relações exteriores. Os chanceleres Mauro Vieira e Gilberto Murillo poderão se pronunciar novamente nesta terça-feira para analisar os últimos capítulos da crise. O O Itamaraty também mantém contato com María Corina há vários mesesque, apesar de liderar protestos em Caracas todas as semanas, está “abrigado” em algum lugar da cidade e mantido em segredo.
O governo Lula também poderia comentar, talvez em nota separada, sobre a apreensão do avião de Maduro pelos Estados Unidos na República Dominicana. O Brasil é contra sanções, e a apreensão da aeronave foi possível justamente graças às sanções aplicadas pelos EUA contra a Venezuela.
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