A diretora da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado, Vilma Pinto, avaliou que o Brasil já tem a maior alíquota de ICMS (Imposto sobre Valor Agregado) do mundo, mas que a alíquota está distribuída entre os diversos tributos cobrados pelo governo. Para ela, a diferença é que agora haverá mais transparência sobre quanto a população efetivamente paga de impostos.
Em entrevista com Poder360, Vilma abordou diversos assuntos da dinâmica econômica brasileira: risco fiscal, reforma tributária, “bomba-relógio” da Previdência Social, desoneração da folha de pagamento e contas públicas de estados e municípios.
Segundo ela, as medidas adotadas pelo governo para aumentar a arrecadação são insuficientes para compensar o aumento dos gastos. O ajuste fiscal pelo lado da receita pode até trazer um alívio momentâneo às contas públicas, mas se não houver controle das despesas o cenário se tornará insustentável.
Vilma aponta a necessidade de revisitar o debate sobre a estrutura de gastos da Previdência Social, que terá o maior Orçamento Esplanada em 2025: mais de R$ 1 trilhão.
Leia a entrevista completa abaixo:
Poder360: Qual a avaliação da IFI sobre o risco fiscal brasileiro?
Vilma Pinto: Temos de olhar para a questão fiscal sob dois aspectos: a questão do alcance das regras – se existe risco de incumprimento no curto prazo – e a sua sustentabilidade no médio e longo prazo.
Quando olhamos para o curto prazo, há alguns pontos a serem analisados: por um lado, o governo tem anunciado medidas que visam aumentar os gastos e, por outro, tenta compensar com aumento de receitas.
As medidas são bem-sucedidas, mas muitas vezes são insuficientes para atingir as metas fiscais e compensar o aumento da despesa. Isto é o que podemos observar em Relatório de avaliação de receitas e despesas primárias elaborado pelo Executivo.
As receitas estão a crescer, mas abaixo do necessário para atingir a meta de défice zero. Do ponto de vista do próprio governo, será difícil atingir a meta estipulada. A IFI já prevê um cenário de incumprimento da meta.
E no médio e longo prazo?
A nova regra fiscal melhora a sustentabilidade fiscal do país. Contudo, a melhoria é mais gradual do que o necessário para estabilizar o rácio dívida pública/PIB.
O novo modelo de enquadramento fiscal melhora os resultados fiscais, mas limitar-se-á a conter o crescimento da dívida pública em relação ao PIB se nada mais for feito.
Existem limites para o crescimento das despesas atrelados ao crescimento das receitas, mas há outras despesas que crescem de acordo com regras diferentes, como o reajuste do salário mínimo.
Portanto, será necessário debater novamente a necessidade de reformas estruturais e revisitar a evolução dos gastos em detrimento do teto de gastos.
Qual é a reforma estrutural mais urgente?
A IFI não faz recomendações, mas um ponto relevante de atenção é a Seguridade Social, principalmente quando olhamos o Orçamento da União.
Em 2023, quando o governo encaminhou o orçamento para o ano seguinte, havia um cenário de gastos previdenciários da ordem de R$ 900 bilhões.
A IFI, porém, já calculou a despesa em R$ 920 bilhões. Alertamos que os números do governo estavam subestimados.
O governo, por sua vez, sinalizou a intenção de realizar uma revisão cadastral para otimizar recursos.
Nas 3 avaliações bimestrais que realizou até agora, o governo aumentou a estimativa de aumento das despesas previdenciárias.
E é uma despesa que tem um impacto muito relevante no Orçamento em relação a outras despesas.
Como você avalia a prorrogação da isenção da folha de pagamento?
Com a mudança da base tributária – da folha de pagamento para o faturamento – a isenção criou empregos, mas a um custo muito elevado.
Não que o mérito desta política seja equivocado, mas o custo de sua manutenção por parte do governo era muitas vezes superior ao custo do trabalhador.
Foi necessário criar um comitê gestor para avaliar a política de isenção fiscal. A segurança social já era deficiente, já faltavam recursos para a cobrir.
Sem critérios explícitos e específicos, foram aprovadas medidas para ampliar a isenção e aumentar o número de setores beneficiados.
Agora, acabar totalmente com a isenção poderá ter impactos negativos no mercado de trabalho e nas empresas.
Ao mesmo tempo, o reforço gradual exige a necessidade de provar que não afetará as regras fiscais.
Tudo isso precisou ser relativizado para criar um consenso de que era preciso prorrogar a isenção, mas com compensação e prazo para terminar.
As medidas apresentadas são suficientes para compensar a isenção?
Temos que fazer as contas para verificar a eficácia das medidas, mas a maioria delas são temporárias.
Então, as medidas podem ajudar no curto prazo, mas temos que ver o seu impacto até ao fim da isenção, no final de 2027.
Não só isso: precisamos pensar em como os setores econômicos beneficiados e o mercado de trabalho serão impactados após o fim da isenção.
Na minha opinião, a preocupação é como o fim da isenção fiscal no futuro poderá afetar a dinâmica económica. Se o nível de emprego diminuir, por exemplo, haverá menos receitas da segurança social.
O que achou do projeto que renegocia o pagamento das dívidas do Estado?
É possível observar um impacto futuro para a União no fluxo de recebimento desses recursos, mas o programa trará alívio aos Estados e municípios nos fluxos de dívida.
Acho que esta discussão precisa ser analisada sob outro ponto de vista: como podemos ajudar os Estados sem que os entes precisem recorrer novamente à União?
Na história das renegociações da dívida estatal com a União nos últimos anos, tivemos muitas legislações que não resolveram o problema.
É preciso aprimorar a Lei de Responsabilidade Fiscal e implementar medidas que levem solidez fiscal aos Estados.
Que medidas, por exemplo?
A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê a criação de um conselho gestor para monitorar, regulamentar e harmonizar as regras fiscais contidas na legislação.
Apesar do conselho estar na letra da lei, ele nunca foi implementado. Isso cria ineficiências. Cada tribunal de contas estadual interpreta e julga a lei de forma única.
Na maioria dos Estados, o entendimento dos tribunais de contas estaduais vai no sentido de flexibilizar as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Isto contribui para enfraquecer a situação fiscal dos Estados. Portanto, é necessária a criação de um conselho gestor.
Também foi aprovada uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que reabre o prazo para os municípios parcelarem suas dívidas previdenciárias. Qual é o impacto?
O IFI ainda não avaliou completamente [a PEC]mas é como falei dos Estados: a medida pode trazer um alívio para a gestão municipal, mas será temporária se não for aliada à gestão das finanças públicas para trazer maior solidez.
A situação fiscal dos municípios ficou mais frágil, principalmente com as leis complementares 192 e 194, que impuseram prejuízos aos estados e municípios com a redução da arrecadação de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços].
Mas alguns benefícios ajudaram os municípios, como o aumento do percentual de rendimentos do FPM [Fundo de Participação dos Municípios] e o novo Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação].
Por conta disso, acredito que a situação fiscal dos municípios ainda é um pouco melhor que a dos Estados.
Em relação à reforma tributária, qual a sua avaliação sobre o projeto aprovado na Câmara que unifica os tributos na tributação do consumo?
A premissa é que a carga tributária sobre o consumo será mantida. Durante o período de transição, o governo terá uma ideia do potencial de receita do novo regime com base na alíquota inicial do IBS. [Imposto Sobre Bens e Serviços] e CBS [Contribuição Sobre Bens e Serviços], que constituem o IVA duplo.
Com o aumento gradual da alíquota e a redução de outros tributos, a carga tributária está sendo calibrada para que, ao final da transição, o valor arrecadado pelo governo seja exatamente igual ao do regime anterior.
Isto, porém, não garante que não haverá aumento da carga tributária sobre o consumo. Explico: apesar da necessidade de cumprimento da taxa referencial da União, cada Estado e município poderá definir a sua própria taxa, que poderá ser superior à taxa referencial. Neste caso, eventualmente teríamos um aumento da carga tributária local.
Espero que a maioria dos Estados e municípios sigam a alíquota referencial, principalmente no período inicial, para que a carga tributária se mantenha.
Outro detalhe importante é que caso um Estado ou município decida aumentar sua alíquota em relação à taxa referencial, todos os bens e serviços do “universo” da CBS serão impactados. Se houver aumento, ele sobe para tudo, não apenas para um bem ou serviço específico.
Então, acredito que é possível que a carga tributária fique instável proporcionalmente ao PIB [Produto Interno Bruto].
Existe o risco de o Brasil ter o IVA mais alto do planeta?
Sim, mas a questão é que o país já tributa muito, mas ninguém sabe exatamente quanto paga de impostos. Só temos estimativas.
Até certo ponto, já temos a taxa de IVA mais elevada do mundo, mas esta está repartida pelos diferentes impostos que pagamos.
Agora teremos maior clareza. Não duvido que será um índice muito alto, mas a ideia é que não seja maior do que é hoje.
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