O projeto de lei do Orçamento de 2025 buscará R$ 166,2 bilhões em receitas extras para cumprir a meta de fechar o déficit primário no próximo ano. A maior parte dos recursos virá de programas especiais de renegociação de dívidas de empresas (R$ 30 bilhões) e da retomada do voto de desempate do governo no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão da Receita que julga administrativamente dívidas de grandes contribuintes . (R$ 28,5 bilhões).
Enviado ao Congresso Nacional na noite desta sexta-feira (30), o projeto está sendo detalhado em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (2). Como algumas medidas dependem de votações no Congresso e de negociações para prorrogar a isenção da folha de pagamento, o governo pode enviar medidas adicionais caso haja frustração de arrecadação.
Do lado das despesas, o governo pretende reduzir as despesas obrigatórias em cerca de R$ 26 bilhões. O plano de revisão foi anunciado na semana passada pelos Ministérios das Finanças e do Planeamento.
Segundo o secretário executivo do Ministério das Finanças, Dario Durigan, o Orçamento de 2025 está em linha com o dos últimos anos, com o governo a procurar corrigir distorções fiscais que favorecem os mais ricos e impactam as receitas.
“O Orçamento não é um caso atípico. Se começamos o ano passado com uma estratégia consistente, temos repetido essa estratégia, a importância do equilíbrio fiscal para a cidadania brasileira. Começamos a fazer isso ano passado, cobrando de quem não paga. O Orçamento de 2025 não pode fugir desta linha”, declarou.
O secretário destaca que outro fator que contribuirá para o aumento das receitas no próximo ano são as medidas aprovadas em 2023, que estão surtindo efeito no médio prazo.
“Temos visto um crescimento na receita real [acima da inflação] 9% acima de todas as despesas federais. Quando o país cresce 2,9%, este ano 2,5%, um pouco mais, vemos a receita crescer 9%. Se você olhar a variação nominal, o crescimento é de quase 15%. Resultado de um esforço feito no ano passado pelas instituições brasileiras, tanto o governo federal, como o Congresso e o Judiciário”, comentou.
Isenção de folha de pagamento
Em relação à desoneração da folha de pagamento, a proposta de Orçamento prevê um aumento de R$ 26 bilhões no próximo ano, considerando que o Congresso não conseguirá aprovar a tempo o projeto de lei que compensa o incentivo para 17 setores da economia e para os pequenos municípios. Se o acordo firmado com o Supremo Tribunal Federal prosperar e o projeto for aprovado até 11 de setembro, o orçamento reduzirá a receita para R$ 18 bilhões, porque neste caso a folha de pagamento será gradativamente recarregada até 2027.
Caso o acordo seja aprovado, a diferença de R$ 8 bilhões em receitas, informou Durigan, virá de projetos a serem enviados ao Congresso que instituirão tributação para grandes empresas de tecnologia e mídias sociais (grandes tecnologias) e a tributação de 15% para multinacionais defendida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Na semana passada, o secretário havia anunciado que pretendia enviar o projeto no segundo semestre.
Outras medidas alternativas, caso haja frustração nas negociações, são a continuidade da agenda de revisão de gastos, o ajuste no ritmo de execução do Orçamento para cumprimento da meta de déficit primário zero e o “acumulação” de recursos – fundos com recursos autorizados dotações, mas que não podem ser gastas ou reorganizadas, tais como alterações obrigatórias.
CSLL e JCP
Na última sexta-feira (30), o governo enviou ao Congresso um projeto de lei que aumenta a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) em um ponto percentual para a maioria das empresas e em dois pontos percentuais para as instituições financeiras. A proposta prevê também o aumento, de 15% para 20%, do Imposto de Renda incidente sobre os Juros sobre Capital Próprio (JCP), forma de distribuição de lucros pela qual o acionista é tributado.
A proposta visa aumentar a receita em R$ 17,9 bilhões no próximo ano. Desse total, R$ 14,9 bilhões serão provenientes da CSLL e R$ 3 bilhões do Imposto de Renda incidente sobre JCP. Em relação às recentes declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que o projeto dificilmente será aprovado, Durigan disse que o governo e o Congresso poderão desenvolver alternativas.
“Presidente Lira [Arthur Lira, presidente da Câmra dos Deputados]justiça seja feita, é um dos principais parceiros na agenda económica do país. Graças a ele, a reforma tributária tramitou no Congresso Nacional com prioridade. No ano passado, todas as nossas propostas que apresentámos foram tratadas de forma muito responsável. O presidente Lira é um parceiro e certamente entenderá os números e as projeções e nos ajudará com alternativas”, declarou.
Receitas
• Novo programa de resolução de disputas: R$ 30 bilhões
• Voto de desempate do governo no Carf: R$ 28,5 bilhões (redução)
• Controle sobre a utilização de benefícios fiscais: R$ 20 bilhões
• Fim da desoneração da folha de pagamento, caso não haja acordo: R$ 26 bilhões
• Aumento linear da CSLL: R$ 14,9 bilhões
• Alteração na retenção do Imposto de Renda sobre JCP: R$ 3 bilhões
• Subvenções do Ministério dos Transportes: R$ 10 bilhões
• Dividendos de empresas estatais: R$ 33,8 bilhões
• Total: R$ 166,2 bilhões
Revisão de gastos:
• Benefício de Prestação Continuada: R$ 6,4 bilhões
• Revisão de gastos do INSS: R$ 7,3 bilhões
• Proagro: R$ 3,7 bilhões
• Revisão de benefícios por invalidez: R$ 3,2 bilhões
• Bolsa Família: R$ 2,3 bilhões
• Despesas com pessoal: R$ 2 bilhões
• Seguros fechados: R$ 1,1 bilhão
• Total: R$ 25,9 bilhões
Medidas adicionais caso a receita seja frustrada
• Tributação de grandes empresas de tecnologia e mídia social (big techs)
• 15% de tributação global sobre multinacionais (pilar 2 da OCDE)
• Continuidade da revisão de gastos
• Bloqueios e contingências, se necessário
• Ritmo de execução orçamental para cumprir a meta de défice zero
• Reunião de recursos autorizados, mas que não podem ser gastos (cerca de R$ 20 bilhões)
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