A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) analisa nesta segunda-feira (2) a liminar expedida pelo ministro Alexandre de Moraes que suspendeu a rede social X, o antigo Twitter, no Brasil. Dos cinco ministros da Turma, dois já votaram a favor da medida. Além de Moraes, o ministro Flávio Dino (foto) confirmou a decisão, apelando aos princípios da soberania nacional e da democracia para justificar o voto.
“O arcabouço normativo da nossa Nação exclui qualquer imposição estrangeira, e são os Tribunais do Brasil, tendo o Supremo Tribunal Federal como órgão máximo, que estabelecem a interpretação das leis aqui vigentes”, afirmou Flávio Dino no despacho.
Ainda não falaram os ministros Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia. A sessão virtual está aberta até meia-noite de hoje.
O ministro Flávio Dino destacou que não é possível uma empresa atuar no Brasil e pretende impor sua visão sobre quais regras são válidas. Além disso, afirma que os Estados são responsáveis se não prevenirem ou sancionarem pessoas ou empresas por abusos cometidos no território nacional.
“No mundo de hoje – mediado pelas tecnologias de informação e comunicação – a função de concretização de direitos depende decisivamente do controlo sobre estes novos intermediários privados. Desta forma, estes são destinatários incontornáveis da atenção da dimensão jurisdicional do Estado Soberano”, explicou.
Ainda segundo Dino, a soberania nacional é um pré-requisito para a democracia. “Não há democracia sem soberania, e a ausência de soberania significa o fim da própria democracia, destruindo a cidadania e os direitos humanos, incluindo a garantia da liberdade”, acrescentou.
Autoridade e liberdade
Outro argumento utilizado pelo juiz para justificar seu voto é o respeito à autoridade das decisões do Judiciário. Segundo ele, ninguém pode obstruir a justiça ou escolher, por conveniência pessoal, quais ordens judiciais irá ou não cumprir.
“O poder económico e o tamanho da conta bancária não dão origem a uma estranha imunidade de jurisdição”, disse Dino, acrescentando que a liberdade de expressão não protege contra violações do sistema jurídico.
“Não há liberdade sem regulação, pois esta impede a morte da primeira. Se todos pudessem fazer o que quisessem, como quisessem, não existiriam instituições como o lar, a família, a Igreja, o Estado”, explicou.
Lucro e censura
O ministro Flávio Dino citou ainda o lucro das plataformas digitais através da promoção de conteúdos, patrocínios, sistemas de recomendação e filtros que justificam a atividade económica das redes sociais, o que as torna meios de comunicação, sujeitos, por lei, ao “respeito aos valores éticos”. ”
O juiz questionou ainda a denúncia de censura feita pelo dono da empresa, o multibilionário Elon Musk, lembrando que as redes sociais exercem poder de fiscalização através dos seus termos de utilização.
“Mas quando o Estado exerce o mesmo poder – resultante da Constituição e das leis – há a absurda imputação de que se trata de ‘censura’. Ou seja, os termos de utilização privados teriam mais legitimidade do que os ‘termos de utilização’ emitidos por órgãos delegados de soberania popular”, destacou.
Para Dino, é preciso haver governança digital pública num cenário em que poucas empresas concentram todo o poder de controle das plataformas digitais, “correndo riscos gravíssimos de regras serem ditadas por autocratas privados, que se esquivam de suas responsabilidades, não se importando com os riscos sistêmicos e externalidades negativas que seus negócios geram”, acrescentou.
Caso
O ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão do X no Brasil depois que a plataforma descumpriu decisões judiciais, fechou o escritório da empresa no Brasil e não apresentou representante legal para atuar no país.
De acordo com o artigo 1.134 do Código Civil Brasileiro, para operar no Brasil, as empresas estrangeiras são obrigadas a nomear representantes no país.
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