Em quatro dias, o Brasil conquistou 27 medalhas em Paraolimpíadas Paris 2024, sendo oito de ouro —a título de comparação, nos Jogos Olímpicos, a delegação brasileira, no mesmo período, conquistou quatro medalhas, nenhuma delas de ouro.
O desempenho até o momento não surpreende, afinal, nas últimas quatro edições dos Jogos, o país ficou entre os dez primeiros no quadro de medalhas. O desempenho da equipe é resultado de talento, muito trabalho e investimento.
Dos 280 atletas convocados para competir em Paris, 97,8% recebem os benefícios do Programa Bolsa Atleta. Ou seja, 274. E destes, 63% estão incluídos na categoria pódio, a mais alta do programa —são 173 no total.
Entre os demais, 39 são da categoria atleta olímpico/paraolímpico/surdolímpico, 33 da categoria atleta internacional e 29 da categoria atleta nacional.
Os valores para atletas do pódio variam de R$ 5.543 a R$ 16.629, enquanto atletas internacionais recebem R$ 2.051. A categoria atleta olímpico/paraolímpico/surdolímpico paga R$ 3.437, e o atleta nacional, R$ 1.025.
“As pessoas da equipe que está no ranking mundial mais alto recebem a categoria pódio, um valor que ajuda muito. Realmente podemos ter tranquilidade de apenas continuar no esporte. projetos de salão que me ajudam a manter meu treinamento em alto rendimento”, diz o nadador Daniel Mendesbronze nos 50m livres na classe S6 em Paris.
Apesar de receberem auxílio do Bolsa Atleta, os gastos de alguns deles podem ser maiores devido aos equipamentos necessários. Este é o caso do velocista Alan Fonteles, campeão paralímpico em Londres-2012 após superar o favorito Oscar Pistorius nos 200m —até então uma das maiores estrelas do esporte paralímpico, o sul-africano passou cerca de oito anos na prisão por matar a namorada.
O paraense de 32 anos, que busca a segunda medalha de ouro em uma edição dos Jogos, revela que precisaria desembolsar algo próximo de R$ 70 mil só para poder competir em Paris.
“Os gastos dos atletas nos Jogos são muito altos. Eu, por exemplo, uso prótese e lâminas de corrida. Se eu somar todos os meus gastos, seriam R$ 25 mil em equipamentos protéticos, R$ 15 mil em cada lâmina e R$ 5 mil a R$ 10 mil a cada inserção. Um total de R$ 70 mil só para chegar às Paraolimpíadas, mas meu patrocinador, a Alps, me enviou cerca de R$ 25 mil em produtos na minha chegada em Paris”, conta o velocista.
O desempenho do atleta é fundamental para obter os equipamentos necessários e evitar maiores gastos. Alan conta que, devido aos seus resultados, algumas empresas o procuram para oferecer suporte e material necessário. No entanto, os brasileiros sentem falta de investimento do setor privado no Brasil.
“Acho que seria algo incrível no Brasil se as empresas apoiassem o esporte e não pensassem em patrocinar um atleta às vésperas dos Jogos, apenas a cada quatro anos. Isso tem que ser muito mais forte no país porque, fora do Brasil, empresas apoiam os atletas num ciclo de quatro anos, oito anos, e não faltando alguns meses como muitos aqui querem”, acrescenta o atleta, que se classificou para a final dos 100m da classe T62 (amputados de membros inferiores com prótese) e compete na prova final hoje, às 16h35 (horário de Brasília).
Empresas parceiras do Comitê Paralímpico Brasileiro também patrocinam alguns atletas nacionais. A EY Brasil, por exemplo, é responsável pelo remador Jairo Klug, que, por meio do Programa EY Atletas, tirou licença de um ano para se dedicar aos preparativos para os Jogos de Paris. No total, a empresa investiu cerca de R$ 80 mil no atleta.
A Lei de Incentivo ao Esporte, que permite a aplicação de recursos em projetos esportivos e paradesportivos em todo o Brasil em troca de renúncia fiscal, é outro recurso. A EY, por exemplo, destinou mais de R$ 700 mil ao Instituto Athlon, organização que visa desenvolver a prática de atividade física e dá acesso aos esportes olímpicos e paralímpicos por meio da lei.
Porém, não são apenas os atletas que recebem investimentos. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) tem como principal fonte de renda a Lei Piva — que prevê que 2% da receita bruta das loterias federais em funcionamento no país, menos os prêmios, sejam destinados ao esporte, na seguinte proporção: 85% para o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e os 15% restantes para o CPB.
A entidade também recebeu investimento para montar um grande centro de treinamento em São Paulo, em 2016. Na época, o custo da obra foi de R$ 264,272 milhões, sendo R$ 149,63 milhões do Governo Federal — por meio das Medalhas Plano Brasil — e R$ 114,642 milhões do governo do Estado de São Paulo.
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