SÃO PAULO (Reuters) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira que, após apurados os resultados de suas discussões com o Congresso Nacional, não há, em sua opinião, necessidade de reajustar novamente a meta fiscal para os próximos anos e destacou a estabilidade do quadro fiscal.
“Quando revisei a meta para 2025, 2026 e 2027, fiz um balanço do que perdi nas brigas com o Congresso e reestimei a curva, tanto da dívida quanto do déficit. porque já foi reestimado”, disse ele durante evento promovido pela XP (BVMF :), em São Paulo. “No que me diz respeito, o quadro fiscal está estabilizado e deve ser cumprido.”
Anteriormente, a meta para o próximo ano previa superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mas em abril o governo reajustou as metas para 2025, 2026 e 2027. A meta fiscal para 2025 agora visa déficit primário zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos, a mesma deste ano.
Em meio às dificuldades do governo em aprovar medidas no Congresso e aumentar receitas para fechar contas públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a área econômica do governo, no mês passado, a realizar uma contenção orçamentária de R$ 15 bilhões para cumprir o marco tributário.
PRESIDÊNCIA DO BANCO CENTRAL
O ministro afirmou ainda no evento que considera seu trabalho muito mais difícil do que o de chefiar o Banco Central e que não se sente atacado por críticas à política fiscal e ao governo.
Haddad foi questionado se o governo errou ao criticar o Banco Central e o atual presidente da autoridade, Roberto Campos Neto, que contribuíram para a recente volatilidade dos ativos brasileiros.
Em resposta, Haddad afirmou que falar em política monetária “é normal no mundo todo”.
“Existe um certo tabu em relação à política monetária, como se a política monetária fosse uma coisa técnica e a política fiscal não”, comentou Haddad, acrescentando que a possibilidade de criticar o BC faz parte da democracia.
Haddad disse ainda que o importante é que haja harmonização entre a política monetária, que é de responsabilidade do BC, e a política fiscal, que é de responsabilidade do governo.
“Acho que o meu trabalho é mais difícil que o dele (Campos Neto). Quase me indiquei para a presidência do BC para trocar de cadeira, porque acho que lá é mais fácil”, disse Haddad.
“Tanto que existem livros sobre o desafio de ser ministro da Fazenda, mas nunca vi ninguém reclamar de ser presidente do BC. Suportar um pouco de crítica, acho que faz parte”, acrescentou.
Durante seu discurso, porém, Haddad reconheceu que a comunicação governamental precisa melhorar. Disse que embora os indicadores económicos tenham melhorado, “houve uma deterioração nas expectativas”.
“Entendo que parte (disso) acho que é a comunicação do governo, (que) às vezes carece de detalhes”, disse Haddad.
“Outra coisa é a transição no BC, porque queiramos ou não esse é o primeiro governo que está passando por duas transições, do (ex-ministro Paulo) Guedes para mim e de Roberto Campos para Galípolo, com dois anos de diferença e com o governo autônomo BC”, afirmou, referindo-se ao atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, indicado para suceder Campos Neto.
Mesmo assim, Haddad disse estar confiante de que em determinado momento os fundamentos da economia “falarão mais alto do que a especulação ou a incerteza que paira no horizonte”.
(Reportagem de Fabrício de Castro; reportagem adicional de Victor Borges)
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