As alterações climáticas introduziram novas dificuldades na expansão e operação das redes de distribuição de água potável. As ondas de calor favorecem fenómenos como a geosmina, ao mesmo tempo que aumentam a procura.
Secas e enchentes mais frequentes alteram os parâmetros de projeto de estruturas de distribuição e coleta, afirma o professor Daniel Rodrigues, da Coppe/UFRJ.
Os sistemas baseados em séries históricas agora precisam estar preparados para cenários menos previsíveis, o que estimula a inovação.
Essa adaptação começou no Rio Grande do Sul pela Corsan, do Grupo Aegea, após a tragédia das chuvas de maio.
A empresa estava com bombas submersas e ficou sem energia para distribuir água em meio à emergência em Porto Alegre e outras cidades do estado. Mobilizou mergulhadores para ajudar a reparar equipamentos e 20 geradores para retomar rapidamente as operações.
O trabalho dos mergulhadores já foi utilizado pela Aegea em outras regiões do Brasil, como na limpeza periódica e inspeção técnica de reservatórios de água em sua operação em Roraima.
Nesse tipo de trabalho, dois mergulhadores, vestindo macacão térmico impermeável e máscara facial, que impede qualquer contato com a água, fazem algo semelhante à limpeza de uma piscina, aspirando o material sedimentado.
Essa operação elimina a necessidade de esvaziar os tanques periodicamente para manutenção, evitando desperdícios e interrupção do abastecimento aos moradores.
Mapas meteorológicos
A tragédia gaúcha também incentivou a Aegea a investir em soluções de longo prazo, como a construção de diques e flutuadores nas estações de tratamento para preservar os equipamentos em caso de enchentes.
Para tentar prever esse tipo de fenômeno, o grupo investe no mapeamento climático, em parceria com a Climatempo, que cruza dados meteorológicos e hidrológicos para identificar riscos nas bacias onde a empresa capta água. A ideia é desenvolver um dashboard de previsões em tempo real que permita ações preventivas.
A obra ajudou na preparação para fortes secas em Campo Grande (MS) e Manaus (AM), em 2023. Na capital amazonense, a empresa antecipou a ampliação dos sistemas de coleta no Rio Negro com estrutura de balsas de 300 toneladas para compensar a retirada de água das margens.
Em São Paulo, que enfrentou sua pior crise hídrica em 2014 com um duro racionamento de água, a Sabesp também investe em sistemas flutuantes para captação de água em maior área útil dos reservatórios.
A Iguá Saneamento também monitora o clima e busca parcerias com startups para usar tecnologia para melhorar a eficiência do abastecimento de água. Desde 2020, por exemplo, a concessionária já adotou mais de 20 mil hidrômetros inteligentes para reduzir perdas de água.
A Cedae firmou parceria com a Finep para criar modelos capazes de emitir alertas por meio de inteligência artificial (IA).
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