Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas DI registraram ganhos firmes nesta quinta-feira, na terceira sessão consecutiva de aumentos, com investidores aumentando as apostas de que o Banco Central poderá elevar a Selic em 50 pontos-base em setembro, em dia programado devido ao aumento da Rendimentos do Tesouro no exterior, forte valorização do real frente ao real e preocupações com a área fiscal.
No final da tarde, a taxa DI para janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,98%, ante 10,937% do ajuste anterior.
A taxa DI de janeiro de 2026 foi de 11,8%, ante 11,704% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,77%, ante 11,624%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 11,85%, ante 11,721%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 11,82%, ante 11,703%.
As taxas futuras subiram durante a manhã, acompanhando o aumento dos rendimentos do Tesouro após a divulgação de novos dados sobre a economia norte-americana.
O Departamento de Comércio informou que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu a uma taxa anualizada de 3,0% no segundo trimestre, de acordo com a segunda estimativa do indicador. O resultado representa uma revisão para cima em relação à taxa de 2,8% registrada no mês passado. Economistas consultados pela Reuters não esperavam revisão.
Além disso, o Departamento do Trabalho informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA caíram 2.000, para 231.000, com ajuste sazonal, na semana encerrada em 24 de agosto. Economistas consultados pela Reuters previam 232.000 pedidos.
Os dois dados – PIB e subsídios de desemprego – apontaram para uma economia ainda aquecida, o que deu força aos rendimentos, com os investidores a reduzirem as suas apostas num corte de 50 pontos base nas taxas de juro nos EUA em Setembro. No Brasil, as taxas DI também aumentaram.
A forte valorização do dólar frente ao real, pela quarta sessão consecutiva, foi outro fator de apoio à curva futura brasileira.
Além disso, segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano, as alíquotas foram influenciadas pela questão fiscal, em meio à possibilidade de flexibilização das regras sobre despesas de pessoal nos governos e à notícia de que o auxílio gás poderia ser pago fora do Orçamento.
Na noite desta quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 164, que retira despesas com terceirizações e organizações da sociedade civil dos limites de despesas com pessoal. Os limites atuais são de 50% da receita corrente líquida no caso da União e de 60% no caso de estados e municípios. Na prática, o projeto permite que os órgãos públicos gastem mais com pessoal. A proposta agora segue para o Senado.
Além disso, matéria da Folha de S. Paulo noticiou que uma proposta do governo Lula para impulsionar o programa Auxílio Gás prevê o repasse direto de recursos vinculados ao pré-sal para a Caixa Econômica Federal, sem passar pelo Orçamento. A Caixa, segundo o jornal, usaria os recursos para pagar descontos em botijões de gás.
A notícia aumenta a expectativa antes da apresentação pelo governo do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, nesta sexta-feira, com detalhamento de despesas e receitas para o próximo ano. O mercado estará atento aos números para avaliar se o resultado primário projetado pelo governo é compatível com a meta primária zero estabelecida para o próximo ano.
Nesse cenário, a curva a termo abriu em todos os vértices nesta quinta-feira, inclusive nos mais curtos, com os investidores aumentando as apostas de que o BC aumentará a Selic em 50 pontos-base em setembro, e não em 25 pontos-base. Hoje a alíquota básica é de 10,50% ao ano.
Perto do fechamento, a curva precificou 54% de probabilidade de alta de 25 pontos-base na Selic em setembro e 46% de chance de alta de 50 pontos-base. Na véspera os percentuais eram de 69% e 31%, respectivamente.
“Se olharmos os dados macroeconômicos, a alta da Selic se baseia muito mais em uma narrativa do que em algo concreto. O mais plausível é a desancoragem (das expectativas) da inflação, mas nada relevante para exigir uma subida dos juros agora no curto prazo”, disse João Ferreira, sócio da One Investimentos. “O mercado é ultrassensível a qualquer notícia que possa gerar movimentação adicional (nas taxas)”, acrescentou.
No exterior, os rendimentos continuaram a subir no final da tarde. Às 16h38, o índice de referência global para decisões de investimento subia 3 pontos base, para 3,871%.
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