O representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Palestina, Rik Peeperkorn, anunciou nesta quinta-feira (29) um acordo com Israel e o grupo palestino Hamas para permitir a vacinação de crianças contra a poliomielite na Faixa de Gaza. “Discutimos com as autoridades israelenses e concordamos com pausas humanitárias de três dias”, disse ele.
“Não vou dizer que este seja o caminho ideal a seguir. Mas é um caminho viável a seguir. Precisamos de interromper a transmissão da poliomielite em Gaza e fora de Gaza”, reforçou Peeperkorn. “É claro que todas as partes terão que se ater a isso. Precisamos de garantir que durante todos estes dias podemos implementar a campanha no meio da pausa humanitária”, acrescentou.
O representante da OMS na Palestina classificou como ambiciosa a meta de atingir pelo menos 90% de cobertura vacinal na região. “As equipes aqui estão preparadas para isso. Estamos prontos para agir”, disse Peeperkorn.
A campanha contra a poliomielite em Gaza começa neste domingo (1º) e será realizada em dois turnos.
Caso confirmado
Na semana passada, a OMS confirmou o primeiro caso de poliomielite na Faixa de Gaza em 25 anos. Trata-se de um bebê de 10 meses que mora na cidade palestina de Deir al-Balah, região central do território, e que não havia recebido nenhuma das doses previstas no calendário de vacinação contra a doença.
Em seu perfil na rede social X, o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse estar “seriamente preocupado” com a confirmação do caso. “A OMS e os seus parceiros trabalharam arduamente para recolher e transferir amostras da criança para testes num laboratório certificado na região. A sequenciação genómica confirmou que o vírus está ligado à variante do poliovírus tipo 2 detectada em amostras ambientais recolhidas nas águas residuais de Gaza em Junho. A criança, que desenvolveu paralisia na perna esquerda, encontra-se em situação estável”, disse o diretor-geral.
Trégua humanitária
Poucos dias antes, a OMS já tinha apelado a uma trégua humanitária em Gaza para que as duas rondas de vacinação pudessem ocorrer. Em comunicado, a entidade, em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pediu a todas as partes envolvidas no conflito que implementem pausas humanitárias por um período de pelo menos sete dias.
“Estas pausas nos combates permitiriam que as crianças e as famílias chegassem com segurança às instalações de saúde e que os trabalhadores comunitários chegassem às crianças que não têm acesso a essas instalações para serem imunizadas contra a poliomielite. Sem pausas humanitárias, as campanhas não serão possíveis”, apelou a OMS.
A expectativa é que, em cada uma das rodadas de vacinação, mais de 640 mil crianças menores de 10 anos possam receber a vacina oral contra poliomielite, popularmente conhecida como gotícula.
Entender
O poliovírus foi detectado em Junho em amostras ambientais recolhidas na Faixa de Gaza. Desde então, segundo a OMS, pelo menos três crianças apresentaram suspeita de paralisia flácida aguda, sintoma comum da poliomielite.
Amostras de sangue foram coletadas e enviadas para análise laboratorial.
“Mais de 1,6 milhão de doses da vacina oral, usada para impedir a propagação do vírus, serão entregues na Faixa de Gaza. Entregas de vacinas e equipamentos de refrigeração deverão passar pelo Aeroporto Ben Gurion [em Israel] antes de ser direcionado para Gaza, no final de agosto”, informou a entidade.
“É fundamental que o transporte das doses e dos equipamentos de refrigeração seja facilitado em todas as etapas desta jornada, para garantir o recebimento, aprovação e liberação oportuna dos insumos a tempo da realização da campanha”, destacou a OMS. No total, foram acionadas 708 equipes com cerca de 2,7 mil profissionais de saúde.
A organização alertou que a cobertura vacinal de pelo menos 90% deve ser alcançada durante cada ronda da campanha para impedir a propagação da poliomielite e reduzir o risco de um ressurgimento da doença, tendo em conta “sistemas de saúde, água e saneamento gravemente prejudicados em a região”.
Dados da entidade mostram que a Faixa de Gaza está livre da poliomielite há 25 anos. “O ressurgimento da doença, sobre o qual a comunidade humanitária tem alertado nos últimos 10 meses, representa outra ameaça para as crianças em Gaza e nos países vizinhos. Um cessar-fogo é a única forma de garantir a segurança da saúde pública na região”, alertou a OMS.
Risco
Ainda segundo a OMS, a Faixa de Gaza mantinha uma boa cobertura vacinal antes da escalada dos conflitos em outubro do ano passado. Desde então, a vacinação de rotina foi fortemente afetada – incluindo a segunda dose da vacina contra a poliomielite, que caiu de 99% em 2022 para menos de 90% em 2023 e no primeiro trimestre de 2024.
“O risco de propagação do vírus, dentro da Faixa de Gaza e internacionalmente, continua elevado devido às lacunas na imunidade das crianças causadas por interrupções nas vacinações de rotina, dizimação do sistema de saúde, deslocamento constante da população, desnutrição e sistemas de saúde. danificou seriamente a água e o saneamento”, alerta a OMS.
“A situação também aumentou o risco de propagação de outras doenças evitáveis por vacinação, como o sarampo, bem como casos de diarreia, infecções respiratórias agudas, hepatite A e doenças de pele entre crianças”, afirmou a OMS.
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