Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas do DI fecharam a terça-feira subindo em linha com o aumento dos rendimentos do Tesouro no exterior, com a curva a termo brasileira mais uma vez precificando uma probabilidade de 100% de aumento da taxa Selic em setembro, mesmo que muitos analistas considerassem os dados do IPCA-15 divulgados pela manhã são favoráveis.
No final da tarde, a taxa DI para janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,875%, uma alta de 4 pontos base ante os 10,832% do ajuste anterior.
A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 11,545%, ante 11,424% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,48%, ante 11,388%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 11,61%, ante 11,548%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 11,6%, ante 11,537%.
O aumento dos rendimentos do Tesouro no exterior pela manhã, enquanto os investidores aguardam a divulgação de mais dados nos EUA para o resto da semana, trouxe um viés de alta para as taxas futuras no Brasil também.
A alta das taxas foi observada em toda a curva brasileira, inclusive nos contratos de curtíssimo prazo, que passaram a precificar chances de aumento de 25 pontos-base ou 50 pontos-base na Selic em setembro – e não mais de mantê-la em 10 pontos-base. ,50% ao ano.
Isso ocorreu apesar de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de agosto, divulgado pela manhã, apresentar números favoráveis na visão da maioria dos analistas.
Considerado uma espécie de prévia da inflação oficial, o IPCA-15 subiu 0,19% em agosto, após subir 0,30% em julho. Em 12 meses foi de 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.
Economistas consultados pela Reuters estimavam alta de 0,20% no IPCA-15 em agosto, alta de 4,45% na comparação anual.
Na abertura do índice, os profissionais destacaram a desaceleração nas taxas de serviços (de 0,7% para 0,29%), serviços subjacentes (de 0,58% para 0,39%) e núcleo médio (de 0,34% para 0,29%), entre outros.
“As leituras de curto prazo foram benignas. O IPCA (índice oficial de inflação) de agosto vai ser bom, com grande chance de deflação no mês, mas ao mesmo tempo temos um ambiente de expectativas desancoradas e um mercado de trabalho muito forte”, avaliou o economista-chefe do banco Bmg . , Flávio Serrano. “Este é o principal dilema do BC.”
No mais recente relatório Focus, a projeção do mercado para a inflação em 2024 subiu de 4,22% para 4,25% e em 2026 de 3,91% para 3,93% – em ambos os casos bem acima do centro da meta de inflação de 3%. Os dados de emprego continuam fortes, com o Ministério do Trabalho e Emprego projetando a criação de 2 milhões de empregos formais este ano.
“A desancoragem de expectativas atrapalha o BC. No ambiente atual, a melhor opção seria manter a Selic, porque há muita incerteza em relação ao cenário, inclusive o Federal Reserve conseguir cortar os juros mais do que o esperado”, disse Serrano. “Mas se permanecer em setembro não significa que o BC não terá que subir em novembro”, acrescentou.
Profissionais avaliaram que declarações recentes de líderes do BC, especialmente do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, tornaram inevitável a elevação da taxa Selic em setembro.
Isso porque o diretor reiterou que a falta de expectativas é preocupante e que a instituição aumentará a taxa Selic se for necessário. Em reação, a curva a termo precificou chances crescentes de elevação da taxa Selic.
Perto do fechamento desta terça-feira, por exemplo, a curva precificou 95% de probabilidade de alta de 25 pontos-base na Selic em setembro e 5% de chance de alta de 50 pontos-base – apagando a probabilidade de manutenção. Na véspera, ainda havia 7% de probabilidade de manutenção da Selic na curva.
“O BC poderia até manter a Selic, mas depois de tudo que foi dito não é mais possível. Eles (diretores do BC) não têm muita alternativa e vão precisar dar um passo à frente”, disse o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
No exterior, as taxas de longo prazo do Tesouro continuaram a subir ligeiramente ao final da tarde, mas as taxas de curto prazo caíram, na sequência de um leilão de obrigações a dois anos durante a tarde.
Às 16h36, o – índice de referência global para decisões de investimento – subia 2 pontos base, para 3,833%, enquanto o rendimento do título de dois anos – que reflete as apostas na direção das taxas de juros de curto prazo – caiu 3 pontos base, para 3,908%.
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