Mais de um ano depois do ataque a uma creche de Blumenau, no Vale do Itajaí, o acusado de matar quatro crianças e ferir outras cinco será julgado pelo Tribunal do Júri, a partir das 8h, no Fórum da cidade. O crime, registrado no dia 5 de abril de 2023, ficou marcado na história da cidade e impactou mudanças nas normas de segurança escolar.
O programa Tribuna do Povo, da NDTV, recebeu nesta segunda-feira (26) os subprocuradores-adjuntos do caso, Vanieli Fachini Pasta e Luís Felipe Obregon. Os advogados falaram sobre os depoimentos do acusado do ataque à creche Cantinho Bom Pastor e como o crime foi premeditado por ele.
Obregon destacou durante a entrevista que o alvo eram as crianças, e não os professores ou outros adultos da instituição de ensino.
“Ele escolheu as crianças. Por isso escolheu uma creche, o que disse durante o interrogatório policial. Ele escolheu uma creche porque era mais fácil chegar até as crianças.”
O auxiliar do Ministério Público lembrou que o homem contou às autoridades que tinha passado por outras creches, à procura do local onde cometeria o crime. Além disso, explicou que premeditou o crime semanas antes.
“Os relatórios trazem até [situações] relacionado à pesquisa dele de 15 de março, sobre como usar a machadinha, para que serve, então ele já estava pesquisando como fazer isso”, disse Obregon.
A advogada Vanieli destacou que o réu confirmou em depoimento que seu objetivo era atingir crianças.
“Quando questionado, ele informou algumas condições. Ele disse que planejou o crime com duas semanas de antecedência. Algumas falas também foram um pouco confusas, mas ele teoricamente disse que planejou, que o objetivo eram as crianças. Então foi extremamente planejado e calculado por ele.”
A postura do acusado do ataque à creche impressionou os advogados
Durante a entrevista, Obregon disse que uma frase do acusado impressionou muito os advogados, na qual o réu disse que foi “muito corajoso” com o delegado, e que “fez algo que ninguém teria coragem de fazer”.
Os assistentes de acusação explicaram que o homem foi submetido a um exame de saúde mental, que revelou que tem um transtorno de personalidade anti-social. Porém, está comprovado que essa condição não o impede de ter consciência do que fez.
“Tanto que ele fez o planejamento, escolheu a arma, o local, escolheu tudo”, enfatizou o advogado.
Segundo Obregon, o réu alegou que não estava sob efeito de drogas quando agrediu as crianças. Porém, em seu exame toxicológico foram encontrados vestígios de cocaína de dias anteriores.
O advogado destacou ainda que o homem tinha um histórico relacionado ao padrasto, no qual esfaqueou o cachorro e tentou esfaqueá-lo também. “Nenhum progresso foi feito nisso. Então ele poderia até ter respondido a uma ação judicial antes [do ataque a creche]”, explicou.
Advogados falaram sobre estimativas de penalidades
Os auxiliares de acusação comentaram o tratamento do caso pelo Judiciário, que chocou não só Santa Catarina, mas todo o país.
“O Judiciário conduziu esse julgamento de forma muito grave, estamos falando de um ano e quatro meses, mas houve um julgamento de recurso, um julgamento de tutela a pedido da defesa, então foi negado tudo para alinhar, para ser julgado aqui”, explicou Obregón.
O advogado também falou sobre a estimativa de pena para o réu. Num cálculo básico seriam mais de 200 anos, para que ele atenda ao limite estabelecido no código penal, que é de apenas 40 anos.
Um destaque destacado pelos auxiliares é que os presos da penitenciária de Blumenau não aceitavam a presença dos acusados no mesmo local. Com isso, foi encaminhado para a penitenciária de segurança máxima de São Cristóvão do Sul.
“Ele não interage com ninguém, apenas interage com os agentes que deixam a comida. Então ele fica sozinho o tempo todo”, disseram.
Em nota, o defensor público que atuará no julgamento do réu enfatizou que está cumprindo seu dever legal e que “fará sua defesa para que tenha um julgamento justo, pois todas as pessoas que cometerem crime serão atendidas compulsoriamente”. pela Defensoria Pública caso não contrate advogado particular.”
Mães que perderam seus filhos no ataque falam sobre esperar por justiça
Os familiares das vítimas do ataque à creche falaram ao Portal NDMais sobre as expectativas para o júri. A mãe da menina morta pelo réu falou sobre os sentimentos que vêm à tona com a chegada do julgamento.
“Há um ano e quatro meses que esperamos por este julgamento e, desde o dia em que foi marcada a data, posso dizer que foram dias difíceis, de espera, de angústia, um misto de sentimentos inexplicáveis”, disse.
Ela destaca ainda que com a chegada do Tribunal do Júri, que será fechado, o coração aperta, na expectativa de que a Justiça seja feita, para que este ciclo possa finalmente ser encerrado.
“Esperamos que nesse dia todos se coloquem no nosso lugar, principalmente aqueles que são pais e mães, para termos essa sensação de que nossos lares não são mais os mesmos, que nossas vidas mudaram completamente”, pontuou.
A mãe de um dos meninos mortos no atentado falou sobre o julgamento e a importância do Judiciário na resposta à sociedade brasileira.
“Este julgamento não é apenas mais um julgamento, não foi apenas mais um crime. Isto é um massacre de crianças, por isso não é mais um julgamento comum. Traz uma grande oportunidade de transformação e mudança na lei, uma oportunidade de fazer justiça e até mesmo, dependendo do valor da pena que ele [autor] se concretize, talvez possamos fazer com que os indivíduos pensem bem antes de cometer um crime como este”, enfatizou.
O gerente da creche Cantinho Bom Pastor, Alconides Ferreira, informou que a instituição de ensino estará fechada no dia do Tribunal do Júri. Segundo ela, na quinta-feira (29), todos os funcionários do local estarão presentes no julgamento do acusado do ataque à creche.
Lembre-se do ataque à creche
No dia 5 de abril, a Creche Cantinho Bom Pastor, no bairro Velha, foi alvo de um ataque que matou quatro crianças e deixou outras cinco feridas.
Um homem de 25 anos pulou o muro da instituição e tirou a vida das crianças atacando-as com uma machadinha. Ele se entregou à polícia logo após cometer o crime.
O ND Mais não publicará os nomes do autor e das vítimas do ataque, bem como imagens explícitas do crime. A decisão editorial foi tomada em respeito às famílias e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), também para não compactuar com o papel dos criminosos.
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